O novo presidente da Nestlé, Philipp Navratil, anunciou planos para cortar 16 mil empregos apenas algumas semanas após assumir o cargo, com o objetivo de aproveitar um aumento nas vendas trimestrais — acima do esperado — que fez as ações da fabricante suíça de alimentos subirem mais do que em qualquer outro momento nos últimos 17 anos.
Navratil, que assumiu o comando depois que Laurent Freixe foi afastado por ocultar um relacionamento com uma subordinada, elevou a meta de economia de custos da Nestlé para 3 bilhões de francos suíços (US$ 3,7 bilhões) até o fim de 2027, em comparação com a meta anterior de 2,5 bilhões de francos.
As medidas indicam que o novo CEO pretende manter a estratégia mais ampla de seu antecessor, que incluía revisões e possíveis vendas de unidades com desempenho abaixo do esperado.
— O mundo está mudando, e a Nestlé precisa mudar mais rápido — disse Navratil nesta quinta-feira. — Isso incluirá tomar decisões difíceis, mas necessárias, para reduzir o quadro de funcionários.
As ações da fabricante de alimentos dispararam até 8,2% nas negociações na Suíça, o maior ganho desde 2008.
Os cortes de empregos, que representam cerca de 6% da força de trabalho, ocorrerão ao longo dos próximos dois anos, informou a empresa, fabricante das cápsulas de café Nespresso e dos chocolates KitKat, nesta quinta-feira.
Dos 16 mil cortes de empregos planejados, cerca de 12 mil ocorrerão entre funcionários administrativos, e o restante nas áreas de fabricação e cadeia de suprimentos.
O anúncio dos cortes acompanhou uma alta de 4,3% nas vendas do terceiro trimestre, impulsionada por aumentos de preços e melhora no crescimento real interno, uma métrica importante de volumes acompanhada de perto por analistas e investidores.
— Embora ainda muito frágil, acreditamos que esse conjunto de resultados ajudará a Nestlé a restaurar parcialmente a confiança dos investidores — disse Jean-Philippe Bertschy, analista do Vontobel.
A Nestlé nomeou Philipp Navratil como CEO no mês passado, após a demissão de Laurent Freixe, um ano depois de sua nomeação. Na esteira do escândalo, o presidente do conselho, Paul Bulcke, deixou o cargo antes do previsto, sendo substituído pelo ex-CEO da Inditex SA, Pablo Isla.
A mudança provocou turbulência na cúpula de uma empresa conhecida por sua cultura corporativa conservadora, deixando a nova dupla de liderança com a tarefa de apresentar um plano para reviver o crescimento em volume e enfrentar questões de governança.
Veterano da Nestlé há mais de 20 anos e até recentemente responsável pelo negócio Nespresso, Navratil indicou que pretende manter a estratégia de Freixe, que inclui aumentar os investimentos em publicidade, apostar em menos, porém maiores, iniciativas de produtos e se desfazer de unidades com desempenho insatisfatório.
Sobre a construção da cultura da empresa, Navratil afirmou em uma teleconferência com analistas:
“Todos nós somos avaliados pelos mesmos indicadores-chave de desempenho. Será fácil ver quem está entregando resultados e quem não está. Seremos implacáveis na avaliação de nossa equipe.”
O CEO destacou que a principal prioridade da Nestlé é aumentar ainda mais o crescimento real interno, acrescentando que a empresa está avaliando todo o seu portfólio.
— Recebemos com satisfação a ambição de Navratil em promover uma cultura que não aceita perder participação de mercado e em que o sucesso é recompensado, o que soa mais assertivo do que antes — disse James Edwardes Jones, analista do RBC Capital Markets.
Jones acrescentou que o avanço no crescimento real interno no trimestre foi importante, já que essa tem sido a maior preocupação dos investidores.
O antecessor de Navratil havia iniciado uma reestruturação que incluía a possível venda de marcas de vitaminas com dificuldades e a busca por um parceiro para o negócio de águas engarrafadas da Nestlé, que Freixe havia transformado em uma unidade independente.
Navratil afirmou a jornalistas, em uma teleconferência, que eventuais perdas de empregos decorrentes de desinvestimentos não serão contabilizadas nas 16 mil reduções planejadas.