O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e o presidente da França, Emmanuel Macron, discutiram ao telefone nesta terça-feira, durante uma conversa sobre a guerra na Faixa de Gaza e o futuro do enclave palestino, em um momento em que o grupo terrorista Hamas avalia uma nova proposta de cessar-fogo apresentada por mediadores internacionais, diante da retomada do conflito. Macron pressiona pelo compromisso com a criação de um Estado palestino, enquanto Netanyahu rejeita completamente a hipótese, argumentando que se trataria de uma recompensa ao terrorismo.
- Leia também: Estudante palestino de Columbia é preso ao comparecer à entrevista de cidadania nos EUA e pode ser deportado
- Cotidiano da guerra: Bombardeios israelenses destroem hospital e deixam menina morta na Faixa de Gaza
Detalhes da conversa entre as duas lideranças foram divulgados em declarações separadas. Em uma publicação na rede social X, Macron disse ter pedido a Netanyahu que reabrisse a “perspectiva de uma solução política de dois Estados”. O gabinete do premier israelense, por sua vez, disse que Netanyahu argumentou que a criação de um Estado palestino a criaria “um bastião do terrorismo iraniano” a poucos quilômetros de cidades israelenses.
“O primeiro-ministro expressou forte oposição ao estabelecimento de um Estado palestino e disse que isso constituiria um enorme prêmio ao terrorismo”, disse a declaração emitida pelo Gabinete.
Macron mencionou diversas vezes nos últimos dias a possibilidade da França reconhecer um Estado palestino em junho, durante uma conferência na ONU que vai co-presidir ao lado da Arábia Saudita, em Nova York. A proposta do líder francês incluiria uma série de reconhecimentos do Estado palestino, mas também de Israel por parte de Estados que hoje não o fazem.
Em um comunicado após a ligação, Macron afirmou ter deixado sua posição “muito clara” ao líder do Estado judeu, e defendeu que o “calvário” dos civis em Gaza deve “terminar”, pedindo um cessar-fogo, a libertação de todos os reféns e “a abertura de todos os pontos de passagem para a ajuda humanitária”. O presidente também argumentou que “os interesses de segurança de Israel e de todos os demais na região” eram primordiais, e classificou como “prioridade absoluta” a desmilitarização do Hamas e a libertação de todos os reféns capturados durante o atentado de 7 de outubro de 2023.
Na segunda-feira, Macron conversou com o chefe da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, a quem defendeu uma proposta de reforma na ANP e o afastamento do Hamas do poder em Gaza, como forma de “avançar” em direção a uma solução de “dois Estados”.
“É essencial construir uma estrutura para o dia seguinte: desarmar e expulsar o Hamas, definir uma governança confiável e reformar a Autoridade Palestina”, escreveu Macron no X após a conversa telefônica com Abbas.
A agência de notícias oficial palestina Wafa noticiou que os líderes concordaram sobre a “necessidade urgente de um cessar-fogo”, a “aceleração da entrega de ajuda humanitária” e a “tomada de Gaza pela Autoridade Palestina, incluindo em responsabilidades de segurança”, além de criticarem “o deslocamento do povo palestino de seu território”.
- Saiba mais: Hamas divulga vídeo de soldado israelense mantido refém em Gaza; militares ampliam ofensiva no sul do território
Embora almeje o fim das capacidades militares do Hamas, a proposta francesa não agrada Israel, cujo governo intensificou sua campanha militar, inclusive com a tomada de porções do território palestino em Gaza e na Cisjordânia, sob a bênção do governo dos EUA, liderado por Donald Trump, que propôs a retirada dos palestinos de Gaza e envio para países estrangeiros. A coalizão governista de Netanyahu, a mais à direita da história de Israel, é firmemente contra um Estado palestino, e pesquisas sugerem que a maioria da população israelense também o é.
O Gabinete israelense também apontou no comunicado emitido após a conversa entre os dois líderes que “nenhuma entidade palestina” condenou o ataque do Hamas contra Israel.
Em paralelo, um dirigente do Hamas afirmou nesta terça-feira que o grupo provavelmente encaminhará uma resposta no prazo de “48 horas” a uma proposta de cessar-fogo israelense, apresentada por representantes do Egito na segunda-feira. O acordo envolveria uma trégua temporária de ao menos 45 dias, em contrapartida por uma troca de 10 reféns ainda vivos em Gaza, por 1.231 prisioneiros palestinos e a liberação de entrada de comboios humanitários no enclave.
Hamas divulga novo vídeo de refém israelense em Gaza
Segundo uma fonte ouvida pela AFP, a proposta israelense também menciona um “fim permanente da guerra” condicionado ao desarmamento do Hamas — o que classificou como uma “linha vermelha (…) não negociável” para o movimento.
Caso a França venha a reconhecer o Estado palestino, tornar-se-á o primeiro membro do G-7 a tomar tal medida. Países como o Reino Unido e os EUA apoiam formalmente uma solução de dois Estados para o conflito israelense-palestino, mas somente após negociações entre as partes. Quase 150 países reconhecem o Estado palestino. Em maio de 2024, Irlanda, Noruega e Espanha deram o mesmo passo, seguidos pela Eslovênia em junho.
Os palestinos esperam eventualmente formar uma nação que inclua Gaza e o território maior da Cisjordânia, que juntos têm mais de 5 milhões de habitantes. Décadas de esforços internacionais de paz se basearam na ideia de um Estado palestino nessas áreas, que Israel capturou na Guerra dos Seis Dias, em 1967. As últimas grandes negociações foram paralisadas em 2014. (Com AFP e Bloomberg)