Embalados pelo retorno do Oasis aos palcos — e por uma menos célebre turnê do contemporâneo Robbie Williams —, os artistas do Reino Unido têm ido ao fundo do baú para buscar referências dos anos de Cool Britannia. A expressão corresponde à estética do país durante a virada do século, um período de grande produção cultural e de otimismo político e social, na esteira da eleição do líder trabalhista Tony Blair como primeiro-ministro.
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Em agosto de 1997, ano da eleição de Blair, o terceiro disco do Oasis, “Be here now”, foi definido no Segundo Caderno como “a bola da vez” na música pop. A bola está de volta em campo hoje, também na televisão e na moda. E a influência do grupo liderado pelos irmãos Gallagher neste retorno é clara.
Com três álbuns no top 5 dos mais ouvidos da Charts, que organiza a audiência musical no Reino Unido, a turnê de retomada da banda chegou a criar o que alguns fãs — que talvez não estivessem nem na barriga da mãe em 1995, quando o hit “Wonderwall” tomou o mundo — batizaram de Britpop Summer (“Verão do Britpop”, em tradução livre). A expressão foi usada pela imprensa da época para abranger todo o pop rock do Reino Unido dos anos 1990.
O patriotismo estava estampado há 30 anos nas roupas e nas músicas de ícones do movimento como o vocalista do Blur, Damon Albarn, que abusava das camisas de times de futebol locais e de grifes inglesas como Burberry. Hoje, os grandes nomes da música do Reino Unido seguem a tendência criada pelas estrelas dos anos 1990.
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Um exemplo é a sequência de shows de Dua Lipa no estádio de Wembley, em Londres, em 20 e 21 de junho. Além de ter levado ao palco o compatriota Jay Kay, vocalista do grupo Jamiroquai, que fez sucesso nos anos 1990, a cantora ainda fez referências visuais à cultura e identidade local. Em um dos momentos do segundo show, Dua Lipa vestiu um casaco de pele estampado com a Union Jack, a bandeira britânica.
Fãs apontaram que o modelito foi usado em referência ao vestido imortalizado por Geri Halliwell, uma das vocalistas das Spice Girls, na edição de 1997 do Brit Awards, premiação mais prestigiada da música britânica. Após as apresentações, Dua Lipa exibiu em suas redes sociais um buquê de rosas e uma carta que recebeu da girl band ainda no camarim. “Querida Dua, só queríamos te desejar muita sorte com seus shows esgotados no Estádio de Wembley. Isso é Girl Power! Nós te amamos!”, dizia a carta assinada pelo conjunto.
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Outra evidência da volta do Cool Britannia é o sucesso — e de certa forma a própria existência — da série “Too much”, da Netflix. Inspirada na história da criadora, a americana Lena Dunham, que também criou e protagonizou “Girls” (disponível na HBO Max), a produção gira em torno de Jessica, que troca Nova York por Londres após um fim de namoro traumático. Na capital inglesa, Jessica se apaixona por Felix, um artista independente enigmático e difícil de lidar — como diversos ícones da música do Reino Unido dos anos 1990.
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Cheio de piadas sobre o choque cultural entre a protagonista e o entorno, “Too much” exalta e tira sarro da cultura britânica na mesma medida. A combinação fica mais clara do que nunca no clipe lançado pela série para a canção “London Bridge”, de Fergie.
No vídeo, a ex-vocalista dos Black Eyed Peas, ao lado de Jessica, aparece acompanhada de bailarinos vestidos como os guardas reais do Palácio de Buckingham, além de também usar um vestido estampado com a Union Jack.
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Fora dos palcos, a moda também acompanha a tendência retrô. Nas redes sociais, surgiram tutoriais de como usar o seu bucket hat (ou “chapéu pescador”) e sua camisa de botão ao melhor estilo Liam Gallagher, sempre tentando combinar as peças com uma calça jeans de corte reto e um tênis de perfil baixo, como antigamente.
Segundo a pesquisadora e analista de moda Paula Acioli, o estilo resgata a simplicidade extrema e ar de “desleixo intencional” do Cool Britannia, que por sua vez também incluía a mistura de referências da moda jovem dos anos 50, 60 e 70 e privilegiava itens de brechós e grifes britânicas.
— Esse estilo se destaca pela oposição à ostentação e extravagância do pop americano dos anos 80, assim como pelo do luxo em geral — explica Acioli — É simples e descolado.
* Estagiário sob a supervisão de Gustavo Alves
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Vista-se como um Gallagher.
Tutoriais foram postados nas redes sociais ensinando como usar o bucket hat (o “chapéu pescador”) e a camisa de botão, seguindo o estilo de Liam Gallagher. É obrigatório tentar combinar calça jeans de corte reto e um tênis de perfil baixo.
O estilo das peças exprime a simplicidade extrema e o “desleixo intencional” do Cool Britannia, que incluía a mistura de referências da moda jovem dos anos 1950, 1960 e 1970 e privilegiava itens de brechós e grifes britânicas. Celebrar a bandeira britânica também conta: em junho, Dua Lipa vestiu um casaco de pele estampado com a Union Jack, referência ao vestido de Geri Halliwell, das Spice Girls, na edição de 1997 do Brit Awards.
Desde o início do ano, foram anunciadas coleções do Oasis pela Levi’s e pela Adidas, além de algumas peças referentes à banda terem entrado no catálogo da Renner no Brasil. A Umbro reeditou um agasalho usado por Liam em um show memorável em Manchester em 1996.