Das casas comandadas por Monique Gabiatti (que tem também Polvo Marisqueira e o Polvo Bar, que acabou de aumentar de tamanho), o bar Belisco é o mais distinto. E o mais fraco. Muito pouco, quase nada do que desfrutamos ali me remeteu à cozinha cheia de frescor e leveza de Monique, eleita chef revelação no Prêmio Rio Show 2025. Com meu voto convicto. Sigo nele, mas estranhei o excesso de cremes amanteigados, as fondutas, os molhos trufados em profusão que predominaram nessa nossa investida regada, porém, a bons vinhos — aposta alta dali.
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O Belisco fica no fervo da Rua Arnaldo Quintela, com mesas na calçada e o salão mais barulhento dos últimos tempos. Mas ninguém parece se incomodar com ruídos por ali — e por toda a rua. Registramos os decibéis nas alturas, mas levamos a noite muito bem, obrigada. Quase no grito.
E não foi a zoeira o ponto fora da curva, mas a seleção de pratos pesados, invernosos, gordurosos que nos levaram a um suadouro em noite de temperatura camarada. Talvez tenha sido nosso erro, pois embarcamos no cardápio que nos foi proposto para harmonizar com os vinhos escalados. Se tivéssemos recorrido ao menu, a experiência poderia teria sido mais exitosa, como dizem os hermanos.
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A casa tem uma boa adega, 150 rótulos, com 60% exemplares naturais ou de pouca intervenção. Vendem em taças a R$ 22 (há mais de 30 diferentes por mês); garrafas, a partir de R$ 99. Pechincha perto do que vejo por aí. E bons vinhos, que seja dito. Além de preços bacanas, o bar adota uma prática supersimpática de “régua”: três exemplares de um produtor com uvas diferentes. A cada mês uma região de vinho do mundo entra na roda. Dezembro é França (tintim), o Languedoc (salut). Tomamos um branco e dois tintos da linha Le Fat Bastard da vinícola Gabriel Meffre, a R$ 80 por cabeça. Troco.
O primeiro prato foi o melhor da noite e o mais ao estilo da chef: cubos de atum com shoyu e saquê com coalhada seca de boursin (R$ 57). Animador. Em seguida, entraram os cremosos: a rabanada de steak tartare, hit dali, com torrada de brioche embaixo e carne, gema picante, salsa trufada, fonduta de grana padano e ovas de massago por cima (R$ 79). Não é coisa demais? Depois, o gratin de cogumelos: os cogumelos ocupavam o lugar dos escargots na travessa, mas estavam camuflados pelo molho benchamel. E mais gremolata, salsa picada e nuvem de grana padano (R$ 63). As lulinhas do Arraial, grelhadas no azeite de alho assado com gremolata, foram outro conforto (R$ 69). Pães quentinhos, serviço gentil. Alegria, alegria.
O Belisco não é um bar que chamaria de meu. Ruim não é, só prefiro mergulhar em outras ondas da Gabiatti.
Rua Arnaldo Quintela 93, Botafogo. Seg a sáb, das 18h à meia-noite.

