Na corrida pela estabilidade financeira, muitas vezes esquecemos que o tempo é um dos ativos mais valiosos da vida. Mais do que acumular bens, saber administrar as horas do dia impacta diretamente a saúde, a produtividade e o bem-estar. Em um mundo que valoriza a velocidade, desacelerar e planejar o tempo de forma consciente podem ser estratégias mais inteligentes para uma vida longeva.
O economista comportamental Márcio Nami explica que a chave está em compreender que tempo não se acumula.
— O tempo é o único ativo que a gente não consegue guardar. A questão é como equilibrar produtividade com aquilo que realmente faz sentido — diz.
Segundo ele, muitas vezes confundimos sonhos com projetos.
— Sonhos são desejos inspirados em referências externas, enquanto projetos são planos factíveis, com prazos e prioridades — explica.
Transformar o que é importante em projeto ajuda a dar clareza ao propósito e evitar a armadilha de viver apenas para acumular recursos financeiros.
— O dinheiro é sempre positivo, mas, quando é buscado sem consciência, vira uma corrida infinita. Quando sei o que me move, consigo alinhar finanças e qualidade de vida — afirma.
Márcio alerta ainda para o risco de perpetuar a “ilusão da produtividade”. A crença de que trabalhar mais horas significa produzir mais gera exaustão e, paradoxalmente, baixa eficiência.
— Produtividade não é quantidade de horas, mas qualidade do resultado. Sem descanso e lazer, partes essenciais da engrenagem, vem a ansiedade, a depressão e a queda de desempenho.
Produtividade não é quantidade de horas, mas qualidade do resultado. Sem descanso e lazer, vem a ansiedade, a depressão e a queda de desempenho”
— Márcio Nami, economista comportamental
Na prática, essa percepção se intensifica quando o tempo passa a ser percebido como finito. Foi o que aconteceu com a economista e influenciadora Ana Contti, de 58 anos.
Depois de uma longa carreira em grandes empresas, ela enfrentou crises de burnout e um vazio existencial que a levou a repensar sua trajetória.
— A impressão era de que tinha dormido e acordado sem ver o tempo passar. Foi um choque perceber que, na melhor das hipóteses, já estava na metade da vida — lembra.
Dividida entre carreira, filhas, pais e marido, Ana achou que não havia espaço para si mesma.
— Sempre priorizei trabalho, casa e família, mas não cuidava de mim. Foi quando descobri que precisava me colocar na minha própria agenda — conta.
A virada aconteceu quando ela decidiu sair do ambiente corporativo e se dedicar à criação de conteúdo sobre longevidade. A renda diminuiu, mas o sentido aumentou.
Sua forma de olhar para o dinheiro também mudou. Se no passado era importante usar roupas e bolsas caras e ter o carro do ano, atualmente ela prefere investir em lazer, viagens e experiências.
— Eu trabalhava para sustentar um padrão de consumo que já não me preenchia. Hoje ganho menos, mas sou muito mais feliz. Porque, no fim, não é sobre viver mais, é sobre viver bem — afirma.
Até as amigas que ela não tinha tempo para encontrar, porque vivia ocupada, agora fazem parte da nova agenda.
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Eu trabalhava para sustentar um padrão de consumo que já não me preenchia. Porque, no fim, não é sobre viver mais, é sobre viver bem”
— Ana Contti, economista e influenciadora
Para o economista comportamental, o ponto de partida é simples: presença. Ele recomenda técnicas como a respiração consciente, que consiste em observar a entrada e a saída de ar nos pulmões, para manter a atenção no agora e evitar a armadilha de viver sempre no passado ou no futuro — gatilhos de depressão e ansiedade.
Também sugere abandonar projetos que não fazem mais sentido, em vez de insistir em tarefas que só acumulam frustrações.
— Saber parar é tão importante quanto começar.
Outra dica é abrir espaço para o lazer, que pode ser viajar, cozinhar, ler ou simplesmente ficar em silêncio.
— O importante é que faça sentido para você.
A influenciadora reforça a lição a partir de sua experiência pessoal. Hoje, o primeiro compromisso do dia é consigo mesma: atividade física, meditação e cuidados com a saúde mental.
— Aprendi a dizer “não”. E, a cada vez que digo “não” para os outros, digo “sim” para mim.
Equilibrar tempo, dinheiro e propósito, portanto, não é apenas uma questão de disciplina, mas de consciência. Se não é possível acumular tempo, é preciso usá-lo de forma a torná-lo realmente valioso.