A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, fez uma jogada ousada na última terça-feira ao defender, diante de ministros de 72 países, que a COP30 possa “ajudar a trilhar” o estabelecimento de “critérios globalmente consensuados” para uma eliminação gradual no uso de combustíveis fósseis. A fala ocorreu durante a pré-COP, em Brasília. O desmame planejado de petróleo, carvão e gás — única maneira de fechar o abismo que nos separa de estabilizar o aquecimento global em 1,5°C — é o elefante na sala da conferência de Belém, já que enfrenta resistências de países petroleiros, da Índia e de vários africanos. Por isso, está fora da agenda formal da COP. Marina tem defendido que o encontro na capital do Pará não se omita sobre o tema e que inicie um “mapa do caminho” para o fim da era fóssil. Em sua fala, comparou o assunto à redução do desmatamento, que parecia impossível até ser feita.
Quem defende o fim dos combustíveis fósseis diz que a COP30 precisa avançar na implantação do parágrafo 28 do Balanço Global do Acordo de Paris. Em oito tópicos, ele traz decisões como “transitar para longe dos combustíveis fósseis”, “duplicar a eficiência energética” e “triplicar as energias renováveis”. A petroleira Arábia Saudita tem uma leitura própria do texto: defende que ele é um “menu”. Ou seja, os países podem escolher qual dos tópicos implementar. E adivinha o que eles não querem ver em prática?
Segue o líder: nós e o biocombustíveis
Com apoio de Itália, Índia e Japão, o Brasil lançou na pré-COP uma proposta para multiplicar por quatro, até 2035, o total de combustível sustentável produzido no mundo, em relação a 2024. O tema será um dos principais da cúpula de líderes que Lula conduzirá em 6 e 7 de novembro, antes da COP. Ambientalistas temem que a proposta, apesar de importante, substitua um debate sério sobre fósseis.
O nó do esquema tático de US$ 1,3 trilhão
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Um dos momentos mais aguardados da pré-COP foi a apresentação, pelo Azerbaijão e pelo Brasil, do chamado mapa do caminho de Baku a Belém para atingir US$1,3 trilhão em financiamento climático até 2035. Conhecido pela sigla “B2B”, o documento será lançado no fim deste mês. As duas presidências limitaram-se a mostrar numa tela a estrutura do documento, sem adiantar seu conteúdo, frustrando alguns ministros.
Pagando o bicho: mapa do dinheiro pode restabelecer confiança
A maioria dos ministros presentes na pré-COP citou o relatório de Baku a Belém sobre financiamento como um dos principais resultados a ser alcançado na COP30. Os países em desenvolvimento estão especialmente ansiosos com o documento — querem saber de onde poderão vir os recursos essenciais para que cortem emissões e se adaptem à mudança do clima. Para uma ministra de Barbados, o “B2B” será a medida essencial da recuperação da confiança no processo da ONU após o resultado pífio da COP de Baku.
Contundidos: mares e florestas absorvem menos CO₂
A concentração de carbono na atmosfera teve em 2024 o maior salto anual já registrado desde o início das medições, em 1957. O relatório divulgado na última quarta-feira pela Organização Meteorológica Mundial, vinculada à ONU, atribui o resultado à queima de combustíveis fósseis, ao aumento dos incêndios florestais (foto) e à queda na eficácia dos sumidouros naturais de carbono. “À medida que as temperaturas globais aumentam, os oceanos absorvem menos CO₂ devido à diminuição da solubilidade em temperaturas mais altas”, destaca o texto, que terá impacto na COP30, em Belém.