No primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, 9 de novembro, os candidatos terão que responder 45 questões da área de Ciências Humanas, com assuntos de História, Geografia, Sociologia e Filosofia — que muitas vezes aparecem interligados.
O GLOBO conversou com professoras das quatro disciplinas, responsáveis pela preparação para o Enem dos alunos do Elite, parceiro da Plataforma Amplia, para saber o que não pode faltar na revisão final para a prova de Ciências Humanas.
Antes, porém, de partir para os conteúdos, uma recomendação compartilhada pelas professoras: é hora de resolver as provas dos anos anteriores, com foco nos erros. Ou seja, os estudantes devem fazer o máximo de questões, conferir o gabarito e rever os tópicos relacionados àquelas que errarem.
Outra dica conjunta é observar com atenção a estrutura das questões, que incluem um comando – indicativo do que deve ser buscado no texto e a relação com a resposta – e um suporte, na forma de texto, imagem, mapa, gráfico, charge, entre outros.
– No comando aparece o verbo de ação, que tem relação direta com a habilidade que o Enem quer avaliar. O cuidado com esse comando é essencial, pois é ele que vai deixar claro se o aluno deve ou não basear sua resposta no suporte da questão, e o que exatamente precisa buscar naquele texto ou imagem, por exemplo. Isso tem relação direta com o gerenciamento de tempo na prova, que é bastante extensa – explica Juliana Przybysz, coordenadora de Geografia das turmas de pré-vestibular do Elite.
Esse material é parte do Projeto Enem, canal digital que publica conteúdos gratuitos com dicas e orientações para os alunos. A iniciativa é realizada pelo GLOBO com patrocínio do Elite e da plataforma Amplia.
Entre os temas que costumam ser cobrados nas provas de História do Enem, estão:
- Ditadura militar (1964–1985);
- Era Vargas e República Liberal Democrática (1930–1964);
- Brasil Colonial: economia e escravidão;
- Primeira República (1889–1930);
- Guerra Fria e Nova Ordem Mundial;
- Movimentos sociais e cidadania no Brasil.
Camila Feitosa, coordenadora de História das turmas de pré-vestibular do Elite, observa que o Enem não traz questões factuais. A prova exige que os estudantes utilizem os conhecimentos históricos para compreender, analisar e interpretar as situações.
– Os alunos adoram falar “não tem história na prova”. Tem muito conteúdo de história, mas não é factual, não é data, não é nome, não é título de alguém. O aluno precisa fazer uma análise crítica, uma contextualização com o que está acontecendo, para resolver as questões.
Dentre os assuntos de maior importância, a professora destaca a escravidão, em especial seus impactos na construção do Brasil. Para ela, vale refletir sobre como a escravidão movimenta a economia, mexe com a sociedade e traz um reflexo da resistência e da atuação naquele momento.
Camila ressalta ainda que o Enem trabalha com temas que ligam passado e presente. Assim, assuntos como ditadura, Era Vargas e a própria escravidão precisam ser pensados dentro de processos de manutenção de poder e de privilégios.
– Precisamos observar como os processos históricos impactam o acesso ao mercado de trabalho, à moradia e às universidades, por exemplo. Como essa população de pretos e pardos no Brasil, que é maioria, não ocupa esses espaços. E entender que isso vem dessa formação de país a partir da ocupação e de colonização portuguesa – analisa.
Já na prova de Geografia do Enem, os assuntos que aparecem com frequência são:
- Espaço urbano e agrário;
- Geopolítica e questões econômicas;
- Geologia e geomorfologia;
- Domínios morfoclimáticos;
- Migrações e demografia;
- Questões ambientais, clima e fontes de energia.
Um tópico ressaltado pela professora Juliana Przybysz é a cartografia, área voltada para a representação terrestre principalmente por meio de mapas. É importante que o estudante saiba interpretar as diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
– Cai projeção cartográfica, escala, coordenada? Cai. Mas o essencial é a leitura e a interpretação de mapas. Porque isso pode cair numa questão, por exemplo, sobre Israel e Palestina. Se você não souber ler o mapa, perdeu a questão – alerta Juliana.
Os impactos ambientais também merecem atenção. O estudante precisa compreender os impactos em diferentes ambientes (atmosféricos, solos, rios etc), mas também deve saber sobre acordos e conferências ambientais. Para a professora, o foco deve ser o Acordo de Paris – tratado internacional sobre mudanças climáticas, assinado em 2015 – e COP-30, 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, que acontecerá no mês que vem, em Belém (PA).
– Mesmo que ainda não tenha acontecido, o Brasil foi escolhido para sediar este evento em 2023, com candidatura em 2022, e pela primeira vez a COP será no bioma amazônico. Belém foi escolhida para sediar o evento por estar no coração da Amazônia, porém os preços altos e a escassez dos hotéis vão levar alguns países, principalmente aqueles com baixo desenvolvimento econômico, a não participar. Há todo um debate relacionado a essa questão de infraestrutura urbana.
Geografia urbana, aliás, é um item bastante cobrado no Enem. Os candidatos devem conhecer conceitos como metrópole, metropolização, região metropolitana, cidade global e hierarquia urbana, em especial a brasileira. No exame, as questões costumam vir bem contextualizadas, o que exige o domínio desses conceitos, sinaliza Juliana.
De acordo com a professora Lígia de Albuquerque, coordenadora dessas disciplinas no Elite, a prova de Sociologia do Enem é um pouco mais previsível, com assuntos e estruturas de questões que se repetem com maior frequência de um ano para o outro. Entre esses temas, que podem aparecer conectados, estão a democracia, políticas públicas e os movimentos sociais.
– O aluno deve pensar como as democracias funcionam, às vezes até com um olhar histórico, e também o papel que os movimentos sociais têm para integrar as memórias e as políticas públicas efetivas – recomenda Lígia.
Questões que envolvem cultura, identidade e causas identitárias também são bastante frequentes no Enem. Uma possibilidade é a da relação afetiva dos grupos humanos com o espaço, que dialoga com o conceito de lugar, da Geografia. Além disso, destaca a professora, o tema identitário muitas vezes conversa com os movimentos sociais. Um exemplo é a questão da prova de 2024 sobre o Black Lives Matter, que buscava saber como esse movimento reforçava a identidade.
Já no caso da Filosofia, Lígia considera que é mais difícil prever os temas cobrados por ter menos questões e uma gama de possibilidades maior. Para uma revisão de última hora, ela sugere pensar em eixos temáticos, como as teorias éticas e políticas.
Quanto aos autores, a professora destaca que, nos últimos anos, têm aparecido mais filosofia antiga, com destaque para Platão e Aristóteles, e filosofia contemporânea, com Michel Foucault, Hannah Arendt e Jurgen Habermas.