Por muito tempo, caminhadas diárias eram a recomendação padrão quando se pensava em envelhecimento saudável. Mas a ciência e a prática clínica vêm mostrando que isso não é suficiente. Andar é importante, sim, para a saúde cardiovascular e o bem-estar. Mas, sozinha, a atividade não garante a autonomia necessária para subir escadas, carregar sacolas ou se recuperar de um tropeço.
É aí que entra a importância dos exercícios multifuncionais, uma abordagem que combina força, resistência, flexibilidade e equilíbrio para manter a independência e reduzir o risco de quedas, especialmente em pessoas acima dos 60 anos.
— Até os 30 anos estamos em processo de evolução natural. Depois disso, o corpo começa a reduzir suas capacidades físicas e a musculatura passa a perder função. Em uma vida sedentária, esse declínio é ainda mais acelerado — explica o educador físico Anderson Nazario, especialista em treinamento para pessoas 60+.
O primeiro pilar dessa abordagem é a força muscular, que dá sustentação a gestos simples do dia a dia e assegura a autonomia necessária para as tarefas rotineiras.
— Sem isso, não existe equilíbrio, coordenação, mobilidade e, consequentemente, independência. A força é a base para todas as outras capacidades físicas — afirma Simone Bassani Pacheco, fisioterapeuta.
Os movimentos são pensados a partir de atividades práticas. Ao fortalecer o quadríceps, por exemplo, não basta trabalhar a extensão e a flexão do joelho em um aparelho de musculação. O ideal é simular o ato de levantar-se de uma cadeira ou subir um degrau, ativando também equilíbrio e coordenação.
Esse caráter funcional é essencial para evitar lesões e até compensar condições crônicas.
— Pessoas com labirintite, por exemplo, podem contar com a proteção de uma musculatura forte e com reações de equilíbrio que evitam quedas em situações de tontura — explica a fisioterapeuta.
A queda é, de fato, uma das maiores ameaças ao envelhecimento saudável. Acima dos 80 anos, fraturas de fêmur, punho ou traumatismos cranianos se tornam comuns, comprometendo gravemente a autonomia. Os exercícios atuam justamente na prevenção.
— Quando temos força e equilíbrio, conseguimos nos recuperar de um tropeço em vez de cair — resume o educador físico.
Os benefícios não param por aí. Anderson lembra o caso de uma paciente de 82 anos que, após seis semanas de exercícios básicos de fortalecimento e estabilidade, comemorou um ganho simples que, em sua rotina, fez toda a diferença.
— Ela me contou que voltou a se vestir sozinha, coisa que não conseguia mais há algum tempo. Esse tipo de conquista devolve dignidade e comprova a efetividade do exercício — diz o profissional.
Além de prevenir quedas e recuperar funções perdidas, a prática regular traz ganhos adicionais: melhora a postura, aumenta a agilidade e estimula o convívio social. O encontro com outras pessoas durante as aulas favorece a saúde mental e o bem-estar, potencializado ainda pelos hormônios liberados com a atividade física.
Hoje, temos jovens cada vez mais sedentários, que passam oito, dez horas por dia sentados. Não existe remédio ou tecnologia que compense isso. Só o exercício é capaz de equilibrar os efeitos da vida moderna”
— Simone Bassani Pacheco, fisioterapeuta
O ideal, explicam os especialistas, é fazer treinos multifuncionais de três a quatro vezes por semana, intercalando estímulo e descanso.
Embora associado ao envelhecimento, esse tipo de exercício é altamente recomendado a partir dos 30 anos.
— Hoje, temos jovens cada vez mais sedentários, que passam oito, dez horas por dia sentados. Não existe remédio ou tecnologia que compense isso. Só o exercício é capaz de equilibrar os efeitos da vida moderna — alerta Simone.
Segundo ela, mesmo fatores genéticos podem ser amenizados com a prática regular.
— Uma pessoa com predisposição à artrose, por exemplo, pode retardar ou até neutralizar esse processo. O exercício é o estabilizador do corpo.
Com a expectativa de vida em crescimento, os profissionais são unânimes: envelhecer bem exige movimento. Mais do que prolongar os anos, o treino multifuncional oferece a chance de vivê-los com independência, autonomia e qualidade.