A provável filiação de Neguinho da Beija-Flor ao PT, que quer lançá-lo ao Senado, representaria um novo capítulo na agitada relação entre ele e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista chegou a apadrinhar o casamento do sambista na Sapucaí, em 2009, mas a amizade degringolou quando Neguinho participou de uma sátira sobre a prisão de Lula, dez anos depois. Em 2022, houve uma reconciliação.
Agora, o diretório fluminense do partido estimula que o intérprete que se aposentou no último Carnaval depois de 50 anos à frente da Beija-Flor seja candidato ao Senado. Internamente, outro grupo coloca o nome da deputada federal Benedita da Silva. Foi a decana da sigla, inclusive, quem ligou como “bombeira” para Neguinho quando ele brincou com a prisão do então ex-presidente.
Ainda não há uma data para a possível filiação do sambista ao PT, mas o presidente estadual do partido, Diego Zeidan, vê Neguinho como “um cara extremamente popular, que fura a bolha da esquerda e dialoga diretamente com o povo”.
Relembre abaixo episódios marcantes da relação entre Lula e Neguinho da Beija-Flor:
Em 2009, Lula ostentava enorme popularidade, assim como o governador Sérgio Cabral (MDB). No Carnaval, o presidente foi ao camarote do governo do estado na Sapucaí, e naquele ano Neguinho realizou ali, no Sambódromo, seu próprio casamento. O presidente apadrinhou o casório, apesar de não ter descido para a avenida.
Aquela mesma noite marcou a celebração da cura de um câncer por parte de Neguinho. Depois de casar, o sambista, de cabeça raspada, foi ao camarote em que Lula estava e posou para fotos ao lado dele e de Cabral.
Enquanto Lula estava preso, em 2019, Neguinho apareceu cantando trecho do “Samba do Triplex”, lançado pelo artista Boca Nervosa. A letra ironizava as justificativas da defesa do petista no caso do triplex no Guarujá que entrou na mira da Lava-Jato.
— O Boca Nervosa fez uma sátira e eu gostei. Cantei junto com ele, e tinha uma sobrinha com celular gravando — contou o músico durante participação no programa Conversa com Bial, da TV Globo. — Quando deu 5h30, o celular toca e era a Benedita da Silva, (perguntando) “o que você arrumou com o Lula?”
Na mesma entrevista, Neguinho confessa que Lula não o perdoou pela gravação.
Curiosamente, é com Benedita, a “bombeira” daquele episódio, que o sambista divide o PT atualmente na escolha de um nome para o Senado.
Em 2022, com Lula de volta ao jogo político, um evento do petista com escolas de samba do Rio serviu de espaço para Neguinho tentar uma reconciliação. Pessoas que acompanharam o pedido de desculpas do cantor relataram ao jornal Extra, na ocasião, que o então presidenciável foi frio com o outrora amigo.
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Só depois, nos bastidores do evento, que a coisa fluiu melhor. Neguinho chegou a tirar uma foto beijando uma das bochechas de Lula, enquanto André Ceciliano, hoje secretário no Planalto e na época presidente da Assembleia Legislativa do Rio, beija a outra.
Bem antes de o PL virar o partido de Jair Bolsonaro, em 2013, Neguinho se filiou à sigla. Agora, o PT planeja filiá-lo em um evento ainda sem data marcada.
A intenção do diretório petista no Rio é lançá-lo como pré-candidato ao Senado e promover um encontro entre ele e Lula. Outros setores do partido, contudo, apoiam Benedita para a eleição.