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O Ministério das Relações Exteriores do Brasil tomou conhecimento sobre a retirada dos opositores de Maduro, ligados ao movimento político liderado por María Corina Machado, após o anúncio de Rubio, que mencionou “uma operação precisa”. O site Venezuela News, de linha editorial alinhada ao chavismo, publicou na ontem que os opositores saíram de Caracas após receberem “salvo-condutos” como resultado de “intensas negociações” entre o governo Maduro e “representantes de alto nível da comunidade internacional”.
O Brasil é responsável pela representação argentina em Caracas desde agosto do ano passado, quando Maduro expulsou os diplomatas argentinos do país. A justificativa era que o presidente Javier Milei não reconheceu a reeleição do líder chavista e se colocou ao lado do candidato da oposição, Edmundo González. Desde então, o governo brasileiro vinha fazendo insistentes gestões junto às autoridades venezuelanas, para que fossem fornecidos salvo condutos aos asilados.
Interlocutores da área diplomática afirmaram que todos os movimentos na Embaixada da Argentina eram monitorados, mas não havia diplomatas brasileiros no prédio. “Nossa linha tem sido a mesma, pressionar pelos salvo-condutos, mas não temos como saber o que fazem outros atores, esse é o ponto”, disse um deles.
Um importante diplomata argumentou que o Brasil “não tem o monopólio das negociações com a Venezuela”, indicando que a conduta de Maduro desagradou ao governo brasileiro. A Embaixada do Brasil em Caracas, acrescentou o embaixador, tampouco opera no ramo de operações de resgate.
Em uma nota publicada no começo da tarde desta quarta-feira, o Itamaraty indicou que soube da saída dos venezuelanos na noite de ontem, mencionando que ficou responsável pela integridade física dos asilados desde agosto, período em que também tentou atender as necessidades básicas de todos e “solucionar a situação na residência”.
Desde abril do ano passado, ainda antes da assunção das responsabilidades de representação dos interesses da Argentina, o Brasil gestionou inúmeras vezes, no mais alto nível, para que fossem concedidos os salvo-condutos necessários e ofereceu transportar os asilados por via aérea, de modo a solucionar diplomaticamente a crise. As reiteradas gestões não foram atendidas, o que prolongou a difícil situação humanitária na residência da embaixada argentina em Caracas, que se encontrava cercada por forças de segurança. O anúncio da saída põe fim a esse episódio e ao drama vivido pelos asilados durante mais de 400 dias”, diz a nota.
Em uma publicação no X, María Corina comemorou a retirada de seus colaboradores da embaixada, onde denunciavam um cotidiano de cortes prolongados no abastecimento de água potável e de energia elétrica.
“Uma operação impecável e épica pela liberdade de cinco heróis da Venezuela. Meu reconhecimento e agradecimento infinito a todos os que a tornaram possível”, escreveu a opositora.
Inicialmente, seis refugiados buscaram abrigo na representação diplomática argentina. Em dezembro de 2024, porém, Fernando Martínez Mottola se entregou às autoridades, recebendo liberdade condicional. Ele morreu em 26 de fevereiro por problemas de saúde.
A saída dos opositores coincide com os questionamentos de Caracas à administração de Donald Trump pela deportação de mais de 200 imigrantes venezuelanos dos Estados Unidos para o megapresídio Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot) em El Salvador. Maduro, que na terça-feira chegou à Rússia para se reunir com o presidente Vladimir Putin, pediu que os imigrantes sejam libertados incondicionalmente, e também a repatriação à Venezuela de Maikelys Espinoza, uma menina de dois anos separada de seus pais no processo de expulsão destes dos Estados Unidos.
Aliado do presidente dos EUA, Donald Trump, Javier Milei agradeceu ao governo americano pelo resgate dos venezuelanos, expressando seu “reconhecimento à operação bem-sucedida”. O presidente argentino, porém, não citou o Brasil, que manteve o prédio sob custódia e cuidou da segurança dos opositores de Maduro durante nove meses.
“[A Argentina] valoriza profundamente os esforços realizados para garantir a segurança e o bem-estar de quem, por muito tempo, esteve sob proteção argentina da perseguição do regime de Nicolás Maduro”, indicou a Casa Rosada em comunicado.
O Brasil não reconheceu o resultado da eleição na Venezuela, realizada em 28 de julho de 2024, porque não foram apresentados documentos que comprovassem a vitória de Maduro. No entanto, jamais cogitou em romper relações, ou apoiar o candidato opositor, para não perder os canais de diálogo.