São 25 jovens, cada uma delas com um instrumento nas mãos e muitos sonhos na cabeça: Nathaly, Mavi, Vanessa, Ana Clara, Clarysse, Jhennifer, Stephanie… mas pode chamar simplesmente de Chiquinha. É dessa forma carinhosa que elas se referem umas às outras. Um jeito que arrumaram para marcar a identidade e transparecer o orgulho de pertencer à Orquestra Sinfônica Jovem Chiquinha Gonzaga. Motivos não faltam. Entre muitas outras conquistas coletivas e pessoais, as meninas embarcam na próxima quinta-feira para uma viagem que promete ser de sonho para Nova York, onde, três dias depois, no domingo, a orquestra apresenta um repertório brasileiríssimo, do clássico ao popular, em uma das casas mais prestigiadas do mundo: o Carnegie Hall.
- Parque Arlindo Cruz: Após anos de abandono, inauguração da área, em Piedade, acende esperança de dias melhores no bairro; entenda
- Mulheres do mundo: Festival WOW no Complexo da Maré e tem presença confirmada das escritoras Conceição Evaristo e Sueli Carneiro
Moradora da Mangueira, na Zona Norte, a violinista Clarysse Amaral, de 21 anos, não vê a hora de embarcar. Ela diz que a experiência na OSJ Chiquinha Gonzaga deu um rumo para a sua vida. Depois de aprender a tocar o instrumento em um dos projetos sociais do qual participou, chegou a pensar em desistir. Até que a orquestra chegou.
— Estava meio perdida, sabe? Tentei ser atendente, trabalhar com administração e até como trancista, mas não conseguia me encaixar. Entrar para a orquestra mudou tudo. Nada se compara à música — diz Clarysse, que está se preparando para o Teste de Habilidades Específicas da UFRJ, onde pretende estudar canto.
Oriundas de projetos sociais desenvolvidos pelo Instituto Brasileiro de Música e Educação (IBME) em escolas da rede pública de ensino do Estado do Rio, as jovens instrumentistas têm idades entre 16 e 22 anos. O grupo completo conta com 52 integrantes com histórias de vida, paixão pela música e perseverança bastante semelhantes.
- Tempo bom: Fim de semana no Rio será de sol, após semana marcada por dias nublados e frio; confira a previsão
Moradoras de Campos Elíseos, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, as irmãs Jhennifer e Stephanie Costa, de 21 e 20 anos, respectivamente, vêm de uma família recheada de músicos que tocam em grupos religiosos. As duas descobriram o violino há oito anos, quando viram uma criança tocando o instrumento.
— Foi um concerto de Natal e tinha esse menino, bem criança mesmo, que fez um solo de forma linda. Ali a gente se encantou, e o violino escolheu a gente — lembra Jhennifer, que concilia as atividades com as Chiquinhas e os estudos. Ela vai tentar uma vaga para licenciatura em Música na Unirio.
A apresentação das Chiquinhas no concerto “Sons do Brasil – New York”, no Carnegie Hall, terá no repertório Heitor Villa-Lobos, Tom Jobim, Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi e Chiquinha Gonzaga, a musa inspiradora do grupo.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/r/I/rJM3fhRCWUQpuFJV1qug/112799162-rio-de-janeiro-rj-17-10-2025-rio-integrantes-da-orquestra-chiquinha-gonzaga-compos.jpg)
— Eu fui conhecer mais a fundo a história da Chiquinha Gonzaga quando entrei na orquestra. Ela foi muito importante para nós. Ajudou a conquistar direitos autorais, o que para os músicos é essencial. Para nós mulheres, a importância dela vai além da música, inclusive. Eu acho que não tinha um nome melhor para representar a nossa orquestra — diz a contrabaixista Mavi Vasconcelos, que começou a estudar o instrumento em um projeto social em Petrópolis, onde nasceu.
- Show de João Gomes na Lapa: proibição de estacionamento na região já começam neste sábado; confira todas as alterações
Para prosseguir na carreira, Mavi se mudou para o Rio, e hoje mora no Centro. Bem a calhar, já que os ensaios da OSJ Chiquinha Gonzaga acontecem em uma sala do IBME no icônico prédio da Central do Brasil. No comando dos ensaios, a regente Priscila Bonfim.
— É estimulante ver essas meninas, que entraram ainda muito jovens na orquestra, e hoje já começam a colher concretamente os frutos desse trabalho que é árduo, mas muito gratificante. São meninas fortes musical e artisticamente, e isso transparece dentro da música, mas também fora dela, em outras atividades da vida — elogia Priscila.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/N/q/RHDj59QFaT2BuKRdtuTg/112799268-rio-de-janeiro-rj-17-10-2025-rio-integrantes-da-orquestra-chiquinha-gonzaga-compos.jpg)
A apresentação da OSJ Chiquinha Gonzaga em Nova York vai ter duas participações especiais de mulheres igualmente jovens e talentosas: a soprano Manuela Korossy e a cantora Flor Gil.
- Maracanã: Flamengo vê com ‘bons olhos’ a venda do estádio, diz relator do projeto na Alerj
— É uma expectativa enorme e muito especial. O Carnegie Hall é um lugar histórico para música, um palco por onde passaram tantos, até meu avô (Gilberto Gil). Estar ali já é emocionante, mas estar ali com uma orquestra formada apenas por meninas brasileiras deixa tudo ainda mais especial — diz Flor Gil.
Para a cantora lírica brasileira radicada em Nova York, a apresentação será histórica.
— Mais que uma experiência interessante, acho que vai ser um evento histórico mesmo. Quando a gente pensa a música clássica em espaços tão tradicionais, fala de estruturas fixas e restritas inevitavelmente a um público e corpo artístico extremamente masculinizado e elitizado. Esse concerto será totalmente o contrário — analisa Manuela Korossy, bolsista em vias de concluir sua formação na renomada Juilliard School.
A instituição de ensino superior nova-iorquina, aliás, está no roteiro das Chiquinhas na Big Apple. As meninas participarão de masterclasses na Juilliard e na Universidade de Columbia. Tem ainda visita ao Metropolitan Opera e apresentações no Consulado Brasileiro na cidade e em Washington. Entre uma nota e outra, vai dar tempo para “turistar” um pouco. Bravo!

