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‘Os EUA estão passando por um processo de putinização’, diz Garry Kasparov, enxadrista russo e ativista político

BRCOM by BRCOM
setembro 21, 2025
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Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos EUA, Donald Trump se cumprimentam na pista da Base Militar Elmendorf-Richardson em Anchorage, Alasca — Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

Nascido na ex-União Soviética, o ex-campeão mundial de xadrez e ativista político Garry Kasparov, de 62 anos, vive há dez anos em Nova York, onde se tornou uma influente voz dissidente contra Moscou. Chegou a se candidatar à Presidência da Rússia, em 2008, mas, seis anos depois, deixou o país alegando perseguição pelo governo de Vladimir Putin. Defensor das democracias liberais, Kasparov é também um feroz crítico do presidente americano, Donald Trump, que considera uma ameaça existencial à democracia.

— Os EUA estão passando por um processo de ‘putinização’ — afirma.

Aposentado dos tabuleiros, mas considerado um dos maiores gênios da história do xadrez, Kasparov virá a São Paulo nesta semana para a cerimônia de abertura de um campeonato da modalidade, o Grand Chess Tour, e falou com exclusividade ao GLOBO sobre política, tecnologia e a evolução do esporte.

Em seu livro “Winter is Coming” (“O inverno está chegando”), publicado há dez anos, o senhor escreveu sobre a ameaça que Putin representava à democracia na Rússia. Como vê a Presidência de Trump? Esse inverno está chegando aos EUA?

É isso que tenho defendido. Estou terminando a trilogia de uma série de artigos para a revista The Atlantic em que meu argumento é que os EUA estão passando por um processo de “putinização”. Essa é uma ameaça existencial e um teste. As eleições de meio de mandato testarão se a democracia americana sobreviverá a um ataque direto de Donald Trump. Acredito que ele representa uma ameaça real aos valores e tradições da democracia liberal americana.

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A popularidade de Putin segue alta na Rússia mesmo após três anos de guerra com a Ucrânia. Como explicar isso?

Tenho dúvidas sobre a popularidade de Putin. A popularidade é medida por eleições ou por pesquisas de opinião, que só funcionam quando as pessoas não têm medo de falar. A Rússia agora é uma ditadura de um homem só. Quase ninguém responderia à pergunta sabendo das consequências. Quanto a sua permanência no poder, até agora ele está lá… Mas ele chegou a um ponto em que a guerra se tornou o principal motor de sua estabilidade no poder. Ele não pode parar a guerra porque teria de lidar com as consequências disso. Uma delas é como absorver mais de um milhão de “assassinos em potencial” (soldados e mercenários que voltariam do front). Mesmo com apenas alguns milhares deles retornando da guerra, temos histórias sobre estragos causados por eles. Algumas dezenas de milhares de veteranos que voltaram do Afeganistão criaram uma cultura criminosa e uma atmosfera de extorsão na Rússia na década de 1990. Agora, os números são dez vezes maiores, se não vinte vezes.

Enquanto Putin permanecer no poder, a guerra continuará. A maneira de desafiá-lo é basicamente a Ucrânia vencer a guerra. Essa vitória não significa colocar tanques ucranianos em Moscou. Mas é preciso derrotar as tropas russas no campo de batalha e também destruir a infraestrutura de guerra de Putin. A propósito, a Ucrânia está indo bem, considerando as circunstâncias. Eles provavelmente destruíram cerca de 20% dos sistemas de refinaria russos e estão atacando-os com força. A tão alardeada ofensiva de verão de Putin fracassou completamente. Agora vemos uma guerra de atrito que, na verdade, não funciona bem para Putin.

As sanções econômicas estão sendo eficazes?

As sanções, na minha opinião, são uma peneira com muitos furos, mas têm surtido algum efeito. Por outro lado, temos a China, que está bancando a guerra. Xi Jinping precisa dela e, como Putin depende totalmente de Pequim, ele não pode escapar de continuá-la. Só depois disso poderemos fantasiar sobre o momento em que a população russa entenderá que a guerra está perdida e que o império está morto. A única maneira de isso acontecer é por meio de uma terapia de choque, fincando a bandeira ucraniana em Sebastopol. No momento em que entenderem que o império está morto, começarão a pensar no que vem a seguir. E a próxima escolha será uma dicotomia simples: ou você tenta fazer as pazes com a Europa, confessando os crimes, ou se torna uma espécie de província chinesa, um satélite chinês. Há uma chance muito, muito grande de que a Rússia não sobreviva em seu território atual nos próximos cinco a dez anos, porque é um domínio imperial e o tempo dos impérios acabou.

Presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e dos EUA, Donald Trump se cumprimentam na pista da Base Militar Elmendorf-Richardson em Anchorage, Alasca — Foto: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

Como o senhor interpreta a relação entre Trump e Putin?

Há um terreno muito fértil para especulações sobre esse assunto. Podemos especular sobre o histórico empresarial de Trump, suas falências e a ajuda misteriosa que ele sempre recebeu. Pensando em sua primeira viagem à União Soviética em 1987, e conhecendo a KGB [principal agência de inteligência e segurança interna da União Soviética], não consigo imaginar que eles não tenham tentado falar em particular com aquele multimilionário americano, com uma esposa tcheca, um estilo de vida extravagante e reputação de mulherengo. Mas, sem especular, vamos nos ater aos fatos. E os fatos são que Trump não tem vergonha de criticar, culpar ou xingar ninguém, sejam políticos americanos ou líderes estrangeiros. Há apenas uma pessoa que ele nunca criticou em sua vida: Vladimir Putin. Acho que Trump jamais fará algo contra Putin, mas ele pode ser forçado a não se tornar seu aliado. Trump está um tanto limitado pela opinião de seu círculo íntimo e de senadores republicanos. Mas se você espera que Trump ajude a Ucrânia, o melhor resultado que você pode obter é que ele não ajude Putin, porque ele nunca fará nada contra Putin.

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Após sua famosa disputa de xadrez contra o computador IBM Deep Blue, em 1996, o senhor adotou uma visão otimista sobre impactos da inteligência artificial, descrita em seu livro “Deep Thinking” (“Pensamento profundo”). Essa visão mudou depois do abalo causado por ChatGPT e congêneres?

Não mudo aquela opinião nem um centímetro. A única consequência negativa que essa IA trouxe foi que muitas pessoas perderam dinheiro investindo milhões de dólares em um monte de conversa fiada. A IA provou ser uma ferramenta muito útil, claro, mas na verdade, o ChatGPT e os grandes modelos de linguagem ilustraram o ponto que levantei no livro: ainda há espaço para a criatividade humana porque há muitos problemas que não estão sendo resolvidos. O ChatGPT está sendo usado para uma quantidade enorme de trabalho feito por humanos, mas se for usado por alunos para criar seus trabalhos e, em seguida, por professores para avaliá-los, isso é uma ameaça à criatividade humana. Tudo isso torna a capacidade dos humanos de criar e ser engenhosos ainda mais importante. Estamos agora reavaliando as relações homem-máquina.

Jovens enxadristas têm usado IA para aprender e praticar. Isso está tornando a geração atual de jogadores melhor do que as anteriores?

Isso é verdade no que diz respeito à quantidade de conhecimento. Agora, eles estão realmente ficando mais fortes? É difícil dizer, mas eu duvido. Muitos jogadores jovens simplesmente não conseguem sentir a posição (na partida) com a ponta dos dedos, com a intuição. Eles pensam como máquinas. Mas é preciso entender as razões pelas quais uma determinada jogada é boa ou não. É porque ela é sugerida pela máquina? Não. Isso é um desafio para eles agora. Eu sabia reconhecer se uma jogada era boa olhando pequenos detalhes, combinando fatores. Hoje eu jogo ocasionalmente, apenas por diversão. Quando você olha minhas partidas contra eles (enxadristas jovens), muitas vezes eu os supero completamente, mesmo que, na casa dos 60 anos, eu não esteja mais afiado. Eu acho que eles são diferentes agora. Talvez eu não diga que eles são melhores ou piores porque, afinal, o jogo de xadrez mudou, assim como tudo muda com o tempo.

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