Ciro Gomes está negociando sua filiação ao PSDB. Tasso Jereissati tem feito a articulação. Entre terça-feira e quarta-feira, Ciro chegou a conversar por telefone com Marconi Perillo e Aécio Neves. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.
‘Estudar Direto foi a missão que meu filho me deu’
Ao pensar em cursar uma faculdade, Mirtes Renata Santana de Souza sonhava com Gastronomia, por gostar de cozinhar e dos elogios que recebia. Mas, após a morte trágica do filho, Miguel Otávio, de apenas cinco anos, em junho de 2020, Mirtes escolheu outro caminho. Optou pelo curso de Direito, uma decisão que ela resume em uma palavra: missão.
— Foi a missão que meu filho me deu.
Ela decidiu estudar para entender melhor o funcionamento da Justiça brasileira e acompanhar de perto o processo que investiga a morte do filho, que caiu do nono andar de um prédio de luxo no Recife, depois de ser deixado sozinho num elevador por Sari Corte Real, então patroa de Mirtes.
Ao longo do curso, a estudante transformou sua dor em pesquisa. O tema do seu Trabalho de Conclusão de Curso foi “Trabalho Escravo Contemporâneo e Direitos Fundamentais: uma análise da proteção constitucional brasileira com foco nas trabalhadoras domésticas”. A escolha teve base não só em sua trajetória pessoal, mas também nos relatos de outras mulheres com histórias marcadas pela exploração e pela desigualdade. Ela também cita a história de Sônia Maria de Jesus, de 50 anos – que foi resgatada em uma operação contra o trabalho análoga à escravidão da casa de um desembargador e que depois retornou à residência dos investigados.
— Ouvir essas mulheres foi muito forte. Muitas delas viveram situações ainda mais absurdas do que eu vivi – contou Mirtes.
O trabalho ganhou nota máxima da banca. Agora, Mirtes planeja concluir o último período da faculdade, prestar a OAB e seguir advogando. Não só por justiça no caso de Miguel, mas também por tantas outras pessoas que, como ela, enfrentam um sistema ainda desigual.
O fato é que, cinco anos depois da tragédia, Sari Corte Real responde ao processo em liberdade, e está até cursando faculdade de Medicina. Na última semana, o MP de Pernambuco se manifestou contra o novo recurso apresentado pela defesa. No documento, o MP pede que os embargos de declaração sejam rejeitados, por considerar que não há omissões ou contradições na decisão do Tribunal de Justiça que manteve a pena de sete anos de reclusão em regime fechado.
A defesa de Sari alegou que a decisão do TJPE foi omissa e contraditória ao tratar “dosimetria da pena e da caracterização do dolo eventual” — quando a pessoa assume o risco do que pode acontecer. O MP, no entanto, sustenta que a responsabilidade da ré está claramente demonstrada, inclusive com base nas imagens que mostram Sari permitindo que Miguel usasse o elevador sozinho.
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Em entrevista ao blog, Mirtes Renata, que venceu o prêmio Faz a Diferença em 2021, critica a morosidade da Justiça e descreve sua luta para que a culpada pela morte de Miguel seja presa.
Como foi a apresentação do TCC?
Eu estava bem nervosa no momento da apresentação, mas consegui apresentar direitinho. E eles gostaram do conteúdo e por isso que a nota foi máxima.
Sobre o que tratou sua pesquisa?
O que me inspirou a fazer sobre esse tema foi minha própria vivência e vivências das mulheres. Nessa escrita, primeiro eu ouvi outras trabalhadoras domésticas. E que tinham vivências diferentes da minha. Então, o que eu ouvi delas foi coisas extremamente absurdas, que mexeram muito comigo. Através dessas escutas, resolvi escrever sobre o trabalho análogo à escravidão com foco nas trabalhadoras domésticas. Aí eu trouxe um pouco sobre a proteção constitucional para elas, da Lei complementar 150 (PEC das domésticas). E ainda descobri uma falha, principalmente com relação ao seguro-desemprego: uma trabalhadora doméstica recebe três parcelas, um número menor do que outras categorias, que é algo que deveria ser analisado e corrigido. Trago minha vivência com relação ao caso do meu filho, o caso da Ação Civil Pública, no qual eles foram sentenciados por prática de racismo (o TST reconheceu o racismo estrutural dos empregadores). E viram que eu passei por um trabalho análogo à escravidão também. Cito também o caso de Sônia Maria de Jesus, que foi resgatada em uma operação contra o trabalho análoga à escravidão da casa de um desembargador no Sul.
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Você pensa em transformar esse TCC em livro?
Eu estou analisando direitinho com o meu professor. Eu vou depositar essa semana no repositório da faculdade. Depois a gente vai sentar pra conversar para uma possível publicação.
Você atua como assessora parlamentar na Assembleia Legislativa de Pernambuco, mas seu foco é a advocacia?
Meu foco é advogar mesmo.
Tem uma área que você gostaria de seguir?
Seria em direito penal, mas só que eu não tenho psicológico para atuar nessa área. Então, vou trabalhar com direito trabalhista.
Você já finalizou a faculdade?
Ainda não. É porque na universidade que eu estudo, o TCC é feito em um período antes do fim do curso. Eu defendi meu TCC agora no nono período. Ainda tenho seis cadeiras para finalizar.
Cinco anos depois, como está o caso do Miguel na Justiça?
Está bem parado. Teve uma movimentação onde o Ministério Público peticionou as contra-razões aos embargos dela e eles peticionaram as contra-razões com relação aos nossos embargos.
Você tem medo de impunidade?
Eu não tenho esse sentimento. Porque eu estou correndo atrás. A maioria da sociedade vê isso. Mas como eu estou bem de frente mesmo, correndo e tudo mais, estou batalhando para isso não aconteça. Apesar do Judiciário Pernambucano estar proporcionando isso a ela (Sari). Está proporcionando esse momento para ela estar viajando, estar passeando no shopping, fazendo faculdade. Agora é cobrar o andamento do processo e que vá para Brasília.
Exato. Porque só lá vai resolver. Porque enquanto estiver aqui em Pernambuco não vai resolver, não. Porque a família Corte Real tem muita influência dentro da sociedade pernambucana. Por isso que está há cinco anos sem uma real punição. Muito estranho o processo de não ter ido já pra Brasília. Minha advogada advoga em vários outros casos com mais de um réu e que já foram para o STJ. A tramitação é rápida. Já era para ter sido resolvido há muito tempo. E pela proporção que o caso de Miguel tomou, uma proporção internacional. O caso do meu filho já era para ter sido resolvido.
Sem essa repercussão nacional e internacional (O caso de Miguel foi citado como exemplo de racismo sistêmico na pandemia em relatório do Grupo de Trabalho da ONU sobre Pessoas de Descendência Africana), você acredita que seria pior?
Exatamente. A gente está o tempo todo cobrando, fazendo com que o caso do Miguel tome essa proporção, vem cobrando, está saindo na mídia. Sempre está em evidência o caso do meu filho e, mesmo assim, está do jeito que está. Se eu que estou estudando, fazendo faculdade de Direito, entendendo melhor o andamento do processo, eles fazem o que fazem, imagina essas pessoas que não têm conhecimento? Algumas mães que não têm apoio e os casos dos filhos não são resolvidos. Principalmente, o caso de crianças pretas.
Quando trabalhava como funcionária doméstica, você já tinha o sonho de fazer a faculdade de Direito? Qual era seu sonho?
No meu coração, eu queria fazer Gastronomia porque eu adoro cozinhar, adoro receber elogios das pessoas com relação às comidas que eu preparo. Mas eu estou fazendo Direito por uma questão de necessidade mesmo. De missão que o meu filho me deu para não só acompanhar o caso dele, mas também ajudar outras pessoas. Então, eu estou nessa missão até o fim.
O STJ suspendeu a ação que condenou os ex-patrões a pagarem indenização de R$ 1 milhão. Ao mesmo tempo, você foi alvo de críticas nas redes sociais por pedir uma indenização. Como lida com isso?
Alguns não entendem que isso é de direito. Eu tenho direito sim à indenização. E essas pessoas ricas só arcam com o peso dos seus atos quando dói no bolso. Eu tenho direito, eu não vou abrir mão dos meus direitos, mas é bom que entendam que esse não é meu foco. O meu foco é a ação penal, o meu foco não é só a condenação de Sari, mas também a prisão. A ação trabalhista e a ação civil são coisas que eu tenho direito. Infelizmente as duas ações estão paradas. Mas é algo a que eu tenho direito e que também eu não vou abrir mão.
Você recebeu convite para entrar na política?
A política é algo bem atraente, mas isto não é o que vai fazer com que eu entre nela. Já recebi convites para ser candidata a vereadora, deputada estadual, federal, tudo mais, mas é algo que eu não quero. Também não tenho coração para fazer isso não, me lançar candidata, porque infelizmente há pessoas que são perversas e que vão me machucar. Porque há candidatos que não se preocupam em mostrar à sociedade quais são seus projetos, quais são seus planos de governo. E se preocupam em atacar outros candidatos. Não vou aguentar se alguém chegar e me atacar, falar mal do meu filho. Então isso para mim não vai ser legal.
Muitas pessoas dizem: “Mirtes, se candidata porque dessa forma tu vai ganhar e tu vai conseguir justiça pela morte do seu filho”. Mas na posição que eu estou hoje, eu vou conseguir, sim, justiça pela morte do meu filho. Não preciso ter que me candidatar, me lançar em algum cargo para poder fazer justiça pela morte do meu filho. E vou fazer.
‘Estudar Direto foi a missão que meu filho me deu’
secretário admite problemas no serviço, mas culpa empresa que administra cartão
Com a proximidade da data em que o novo cartão Jaé será obrigatório nos transportes municipais do Rio, a partir do dia 5 de julho para gratuidade e 2 de agosto para o público geral, a rotina nos postos de atendimento tem sido marcada por filas que dobram quarteirões, idosos passando mal e longas esperas sob sol e frio, sem qualquer estrutura de acolhimento. O cenário provocou indignação e cobranças à Prefeitura do Rio, que, por sua vez, atribuiu as falhas à empresa que opera o sistema de bilhetagem digital, também chamada Jaé.
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— A prefeitura não está tendo dificuldade nenhuma em administrar. São erros do Jaé (empresa) e eles vão corrigir. Mas volto a falar, conforme o prefeito colocou: toda mudança tem esse período de maturação, de erros, de acertos. O que importa é sentar à mesa, corrigir e botar em prática os acertos em cima dos erros que aconteceram — afirmou ao GLOBO o secretário municipal de Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida, Felipe Michel.
Michel admitiu que há erros no processo, confirmou que a prefeitura tem acompanhado a situação e que cobrou medidas imediatas da empresa. Segundo ele, uma série de providências passará a ser adotada a partir da próxima segunda-feira. Entre elas estão a instalação de cadeiras, distribuição de água e reforço no efetivo com uso de tablets para agilizar os atendimentos.
O posicionamento do secretário, que também preside o Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa (Condep), vem em resposta às críticas que se intensificaram nos últimos dias, diante do colapso observado em unidades como Cidade Nova, Madureira e Engenhão. Nos locais, idosos relataram falta de cadeiras, ausência de água e desorganização no atendimento — muitos saem de casa após receberem mensagem de que o cartão estaria pronto, mas ao chegarem, não encontram o nome no sistema ou sequer o bilhete produzido.
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— Pessoas com problemas de circulação no joelho e outras condições associadas à idade não podem ficar horas em pé. Já cobramos essas medidas. A empresa se comprometeu a garantir estrutura mínima em todos os postos. Os de maior movimento, como Engenhão, Madureira e Cidade Nova, terão reforço especial — disse.
Segundo Michel, uma reunião emergencial sobre o tema deve acontecer na sexta-feira entre a pasta, a secretaria de transportes e a empresa do cartão para discutir ações de contingências com relação aos problemas relatados pelos usuários, faltando pouco mais de 15 dias para mudança da operação.
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— Devido ao dia 5 de julho ser próximo, essa operação teve alguns erros que serão corrigidos. Convocamos uma reunião entre a secretaria de envelhecimento saudável, Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) e o Jaé para podermos sentar a mesa e corrigir esses erros — confirmou o secretário.
O secretário também anunciou a criação de novos pontos de atendimento, com a abertura de polos emergenciais em casas de convivência da própria pasta, como as de Botafogo e Madureira, além da sede da Secretaria no décimo andar da prefeitura, no Centro.
Mesmo diante das promessas, o problema se estende também à entrega domiciliar dos cartões. Apesar da orientação do município de que os beneficiários solicitem o Jaé pela internet, com entrega gratuita em até dez dias úteis, relatos de descumprimento são frequentes. Há casos de pedidos feitos em fevereiro que ainda não chegaram, obrigando idosos a enfrentar filas para buscar o bilhete que deveriam ter recebido em casa.
— Concordo plenamente. Também identificamos esses casos. São erros operacionais que precisam ser corrigidos — disse Michel.
O secretário ressaltou que os problemas não atingem apenas os cartões de gratuidade, mas toda a operação do sistema, inclusive os bilhetes pagos.
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— É por isso que estamos indo pessoalmente aos pontos, ouvindo as pessoas, identificando as falhas e pressionando a empresa. As pessoas idosas precisam de respeito, dignidade e segurança. O que não pode acontecer é alguém esperar horas e voltar para casa de mãos vazias.
Segundo ele, o prefeito Eduardo Paes tem ciência da situação, embora não deva participar da reunião marcada para esta semana. Michel afirmou que recebeu “carta-branca” para cobrar a operadora e garantir que tudo esteja resolvido até 5 de julho, data em que o Jaé passará a ser obrigatório para usuários com gratuidade.
— O mínimo que essas pessoas merecem é poder sentar, beber água e serem atendidas com rapidez. Estamos cobrando, acompanhando e fiscalizando de perto. O compromisso é garantir conforto e respeito — concluiu o secretário.
Procurada, a empresa Jaé informou ter ampliado seu atendimento, com a inauguração de novas lojas e aumento no número de profissionais que atendem nas unidades físicas, para evitar filas. “Mais de 10 mil clientes foram atendidos nas 15 lojas do Jaé, só no início desta semana. Este volume representa um aumento de 220%”, disse a empresa. “No entanto, as filas acabam sendo formadas nas lojas, geralmente, por passageiros que querem fazer o cadastro de forma presencial (e não pelo aplicativo) e por passageiros que vão retirar os cartões quando há dificuldade de entregar os mesmos diante de o endereço informado estar incorreto ou depois de três tentativas de entrega sem sucesso”.
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veja onde há mais católicos, evangélicos, umbandistas e espíritas no Rio
No começo deste mês de junho, o IBGE divulgou dados do Censo de 2022 que apontaram uma consolidação do perfil religioso do Brasil. No país, o percentual de evangélicos alcançou o maior patamar histórico, com 26,9% da população, embora tenha reduzido o ritmo de crescimento no número de pessoas protestantes. A maioria dos brasileiros ainda é católica (56,7%), mas a igreja liderada pelo Papa Leão XIV continua perdendo fieis, numa queda de 8,4 pontos percentuais com relação a 2010. No Rio, o movimento se assemelha ao nacional. O estado é um dos que têm menos católicos no país: são 38,9% da população (mais apenas do que em Roraima), 6,9 pontos percentuais a menos do que no começo da década passada. Já os evangélicos são 32% dos fluminenses, 2,6 pontos percentuais acima do registrado em 2010.
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Em que municípios, porém, os evangélicos mais avançaram no Rio? Onde os católicos são mais presentes? E com relação a outras religiões, como as de matriz africana? Onde há mais umbandistas e candomblecistas, por exemplo? Neste feriado religioso de Corpus Christi, um dos mais importantes para a Igreja Católica, O GLOBO reuniu alguns dos resultados do Censo. Veja abaixo:
Quais os municípios do Rio com mais católicos?
Pequenas cidades do Noroeste e do Norte fluminense têm as maiores proporções de católicos no estado. A com mais devotos apostólicos romanos é Varre-Sai, de apenas 10.207 habitantes no Censo de 2022. Da população com 10 anos ou mais, aponta o IBGE, 75,3% são católicos. Num dos extremos do estado, na divisa com o Espírito Santo, o município tem São Sebastião como padroeiro, o mesmo da capital. A festa para o santo, inclusive, é uma das celebrações locais mais tradicionais. A fé no município está expressa ainda no Alto de Santo Cristo, monumento de Jesus Cristo crucificado, localizado num monte a 1.080 metros de altitude.
Na lista dos cinco municípios fluminenses com mais católicos estão ainda Laje do Muriaé (72,3%), São João da Barra (67,2%), Miracema (66,2%) e São Sebastião do Alto (65%), esta última na Região Serrana.
Na Região Metropolitana, Niterói é a cidade mais católica (44,9%), na 41ª posição entre os 92 municípios do Rio. Na capital, 43,6% dos moradores declaram seguir a religião. Em São Gonçalo, são 35,2%. O município é conhecido por ter um dos maiores tapetes de sal de Corpus Christi na América Latina.
Onde mais aumentou o número de católicos? E onde reduziu?
Apenas cinco municípios no estado tiveram aumento na proporção de católicos. Novamente, Varre-Sai se destaca no topo do ranking, com crescimento de oito pontos percentuais. Em 2022, os fieis da igreja também representaram uma parcela maior da população em São João da Barra, Cardoso Moreira, Rios das Flores e Italva. Por outro lado, a cidade com maior redução desses devotos foi Quatis, na Região do Médio Paraíba.
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Em que municípios há mais evangélicos?
No Centro-Sul Fluminense, Paty do Alferes, com 29.619 moradores em 2022, é o município com maior proporção de evangélicos no Rio, com 48% dos que têm 10 anos ou mais. A cidade comemora, inclusive, o Dia do Evangélico, todo 15 de janeiro, com feriado municipal estabelecido por lei local em 2024.
Não muito longe dali, São José do Vale do Rio Preto (Região Serrana) e Paracambi (Região Metropolitana) ocupam a segunda e a terceira posições no estado: 47,1% e 46,8% da população, respectivamente. Além de Paracambi, outros municípios da Região Metropolitana têm grande concentração de protestantes, como Seropédica (46,3%), Queimados (44,6%), Itaboraí (44,2%), Duque de Caxias (40,4%) e Nova Iguaçu (40,2%).
Onde os evangélicos avançaram? E onde diminuíram?
No município mais católico do Rio, Varre-Sai, os evangélicos em 2022 eram 6,29 pontos percentuais a menos do que no Censo de 2010, segundo o IBGE. A cidade é uma das oito fluminenses que experimentaram uma queda na proporção de evangélicos. Por outro lado, em Sumidouro, na Região Serrana, os protestantes avançaram 14,06 pontos percentuais, chegando a 45,5% dos moradores, superando o percentual de católicos (42,4%).
Que municípios têm mais umbandistas e candomblecistas no Rio?
Duas cidades dividem o topo do ranking das com maior proporção de umbandistas e candomblecistas: Barra do Piraí, no Médio Paraíba, e Nilópolis, na Baixada Fluminense, onde essas religiões de matriz africana são seguidas por 3,7% da população. Na região do Vale do Café, Barra do Piraí tem forte presença negra, com atuação histórica de comunidades quilombolas e grupos de jongo. Já Nilópolis, conhecida nacionalmente pela escola de samba Beija-Flor, chegou a desenvolver um cadastro para mapear casas de matriz africana, incluindo, além da umbanda e do candomblé, manifestações como o tambor de mina e a pajelança.
A cidade do Rio, junto com Mesquita, na Baixada Fluminense, aparecem logo depois de Barra do Piraí e Nilópolis neste ranking. Em ambos os municípios, 3,6% dos habitantes com 10 anos ou mais se declararam umbandistas, ou candomblecistas.
Onde há mais espíritas no Rio?
Niterói, na Região Metropolitana, é a cidade com mais espíritas no estado. São 5,9% dos moradores.
O IBGE pesquisou ainda a população que afirma seguir tradições indígenas no país: no Rio, Paraty, lar de guaranis como os da Terra Indígena Parati-Mirim e também de pataxós, tem 0,3% da população.
Quais os municípios com mais pessoas sem religião?
Cidades da Baixada Fluminense se destacam nessa leitura. Japeri, com 31% dos moradores sem religião, é a campeã do estado nessa categoria, seguida por Belford Roxo (27%).
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‘A gente precisa se olhar com mais carinho’
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O desejo por uma personagem solar, “que mostrasse mais a arcada dentária”, já vinha de tempos. Com 18 anos de uma carreira marcada por personagens intensos, Alice chegou a se sentir esgotada. Houve vezes em que precisou chorar em 90% das cenas.
O primeiro alívio veio com Raíssa, sertaneja de “Rensga Hits!”, cuja nova temporada estreia este ano, no Globoplay. Agora, a “mocinha Duprat” coroa a fase alto astral e a maturidade da atriz de 29 anos, que participou do “Conversa vai, conversa vem”, videocast do GLOBO, no ar no canal do jornal no YouTube. Confira trechos a seguir.
Poderia ser forçado, mas o bordão ‘chérie’ caiu bem na sua boca. Isso é carisma?
Lídia Brondi, uma atriz maravilhosa que deu vida brilhantemente à Solange, tinha um carisma inacreditável, amor. Talvez eu tenha trazido mais de humor, mas aquela mulher era inacreditável, iluminava a tela. Tentei honrar o que foi feito por ela. O bordão, o jeito de se vestir e se comportar permaneceram. Ela já era uma mulher moderna, e essas coisas que não se desfizeram com o tempo.
Solange é ‘resistência’. Expressa opiniões políticas alinhadas à esquerda. Seria e voz da autora Manuela Dias?
Nunca falamos sobre isso. Solange é a voz de muita gente, a voz de um tempo, é posicionada. Vejo jovens se posicionando como ela. Ter sido black block, o ímpeto de “o mundo não tá legal, é preciso fazer algo”. É firme nas escolha e valores. Olha Odete com respeito, não chega julgando, mas quando a vê sendo preconceituosa e destratando pessoas é: “Opa, peraí, essa madame não vai se criar aqui, não. Não é porque é bilionária que vai passar por cima de todos”. Esse o mundo que a Solange acredita, e ela fala isso com clareza.
Você e Humberto Carrão criaram clima para dar mais força à narrativa da novela, ao imaginário das pessoas? Não desmentiram logo o boato de namoro, né?
Humberto sempre foi discreto na vida pessoal. Eu também. Demorou para saberem que eu tinha terminado com o meu último namorado. Eu e Humberto tivemos um reencontro. Tínhamos trabalhado juntos em “A Lei do Amor”. Quando nos reencontramos, mais maduros, nos reconhecemos. É legal olhar e falar: “Caramba, que pessoa legal você se tornou”. É mágico. Amor genuíno. A gente não tá namorando. Existe, sim, um encantamento. Que bom que eu encontrei um parceiro que está alinhado com meus valores, meu ideal de mundo, que olha pra equipe com carinho e não só para o umbigo dele, que joga com você, que conversa sobre o futuro da novela, da TV, do cinema. A gente sonha junto, e as pessoas acabam torcendo. Agora, vamos ver se eles vão conseguir se acertar na novela. Ainda tem uma Maria de Fátima e um Renato pela frente.
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Mas é chato não poder ter amigo homem que logo dizem que está namorando. Fora que se ficar desmentindo, vira refém disso.
Tive e tenho muitos amigos homens que olho com admiração e não com desilusão ou decepção tipo, “homem é tudo igual”. Carrão é esse menino legal, antenado com o mundo, que busca melhorar, faz terapia! Estou há um ano solteira. Aconteceu de sair, ficar com um cara, mas se for ficar dando satisfação sobre a minha vida toda.. Quero isso, não.
Dizem que mulheres heterossexuais estão no mapa da fome. Concorda? Tem a ver com o estaremos mais exigentes?
A gente está na miséria (risos). Vi vídeos engraçados sobre isso… Uma amiga ligando para a outra assim: “Amiga, ele faz terapia! Comprou flores pra mim”… Ah, jura? O básico. Está na hora de eles correrem atrás. Namorei muita gente legal. Um deles eu apresentei para uma amiga. Estão juntos há quatro anos. Tem essa ressignificação que podemos dar às relações amorosas quando elas terminam bem.
O que acha das análises que apontam Afonso como ‘tóxico’ travestido de ‘gente boa’?
O Afonso do passado gritava muito com a Solange, a gente via mais claramente esse lugar, que hoje é um pouco mais velado, fica na sonsice. Quando a gente faz uma novela obra aberta, sabe que tudo pode acontecer. A gente lê, vê a cena sendo feita, mas quando olhamos no ar, sentimos junto com o público. A traição com a Maria de Fátima, o comportamento dele enquanto Solange estava em Madri. Olhava para o Humberto e falava: “Sai, não quero falar com você, hoje estou muito chateada”. A gente brinca, assim. Defendo a minha personagem. Tem essa coisa de: “Não acredito que ele traiu ela com a Maria de Fátima?”. Mas a novela também está falando sobre um casal que não se comunica direito. Vejo a minha geração assim. É um debate: “Como a gente tá se relacionando hoje em dia?”
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Desde muito jovem, você tem uma profundidade enorme. Construiu sua carreira em cima de personagens densos, imersos em tramas sensíveis. Foi uma busca sua?
Acho que isso nasceu comigo. Era uma criança profunda, sensível, se sempre tive obsessão por aprender. Gosto de deixar as pessoas me ensinarem e tenho esse olhar de curiosidade para o outro. Me mudei várias vezes, isso foi me moldando. Fiz ginástica artística por oito anos. A realidade das meninas que faziam a ginástica comigo era muito diferente da minha. Eu olhava e pensava: “Por que o mundo é assim? Por que as meninas não tem dinheiro pra pagar uma passagem de ônibus para treinar”. Desde criança, entendi a seriedade disso e de questionar a sociedade e o mundo do jeito que é. Essa profundidade, eu acho que vem de um incômodo, de uma vontade de mudar aquilo que não tá legal, de um comprometimento com o mundo e com a minha função.
Depois de tanto drama, vieram a Raíssa, de “Rensga Hits” e a Solange, que se aproximam muito mais da sua personalidade, com esse sorrisão iluminado, essa espontaneidade.
Raíssa chegou no momento em que virei para o Chico Accioly (do departamento artístico da GLOBO) e disse: “Estou precisando fazer uma personagem solar”. No teatro, fazia comédia, me soltava. Na TV, papeis sombrios, com questões emocionais. Aquilo me consumia. Em “Órfãos da terra” teve um dia que chorei durante 30 cenas. E, aí, fui jantar com o meu namorado e cortava o peixe chorando, não conseguia fechar a torneira. Tem um lugar emocional que mexe, desestabiliza a gente. Aí, pensei: ” Estou precisando fazer uma personagem que mostre mais a arcada dentária” (risos).
Até porque você teve um burnout fazendo a Maria de “Onde nascem os fortes”, personagem que te exigiu física e emocionalmente, e que sofria bastante…
Ainda não tinha maturidade de distinguir o que era personagem, atriz e Alice. Era muito intensa. Ali, entendi o meu limite. Tive que ser reanimada. Meu coração bateu a 31 e fui parar numa UPA. Estava numa cena de ação e comecei a passar mal. Passar mal. Falei: “Tem algo estranho acontecendo, não tô com força”. Eu tremia, não conseguia falar direito. Fiquei deitada no chão, veio uma ambulância, tomei duas doses de atropina porque uma não adiantou, e tive uma reação alérgica, minha pupila ficou dilatada, não conseguia respirar direito. Minha mãe pegou foi me ver e o médico disse: “Tive muito medo de perder sua filha”. Imagina uma mãe ouvir isso!
E depois caiu em depressão ao ter que se despedir da personagem.
Acabou a série e eu entrei pra análise. Vivi um período sombrio. Era um luto. Quando acaba uma novela, série, filme, peça está perdendo a sua melhor amiga com a qual conviveu durante meses. A história, a persona que criou não existe mais. Acabou. É um vazio. Vivi essa depressão. Não tinha vontade de sair, de me ver, de que me vissem. Tinha muita vergonha de mim. Não sabia me reconhecer mais. Estava com um cabelo que não era o meu e nem da personagem. Eu pensava: “Quem sou eu?”. E mais, a vida inteira eu emendei colégio, faculdade, um trabalho no outro. Passei a maior parte do tempo fora de casa, vivendo outras vidas. E quando, finalmente, entro de férias e tenho tempo livre, não sabia o que fazer. “O que gosto de fazer?”. Não sei!
E foi dar conta disso na terapia…
Foi quando eu conheci a minha analista. Ela salvou a minha vida. Porque eu saí de um buraco. Uma boa analista é aquela que te dá potência de viver, um motor para você agarrar a sua vida e fazer o que quiser dela. Mas que te faça bem. Hoje, quando vivo esses lutos, término olhe e falo: “Não quero viver o que vivi em 2018, não vou voltar para aquele lugar”. Olho para esses pensamentos e penso: “Peraí, estou louca, vamos acalmar, tomar uma água, fazer uma massagem”. Me ajuda muito a água, entrar no banho e deixar a agua escorrer. E, aí, eu peço proteção, me conecto com a minha espiritualidade, a minha fé. Me concentro em acender uma vela fazer a minha oração, pedir pra Deus e pros meus orixás.
Você é da umbanda, e é filha de Oxóssi…
Sou filha de Oxum, Oxóssi e Iemanjá.
De que forma a espiritualidade e a religião te ajudaram no caminho do autoconhecimento? E qual a importância de se reiterar o pertencimento a uma religião de matriz africana?
Nunca fui de ter preconceitos com religiões no geral, filosofias. Espiritualidade nunca me deu medo, sempre me deu curiosidade. Desde pequena tenho interesse. Já fui em centro de budista, espírita, umbanda, candomblé. Acho que a fé é também motor da vida. É o que leva a gente pra frente. Acredito muito na energia das coisas. Em fazer o bem. Comecei a olhar um pouco mais para os orixás depois de um tempo. Fui educada num colégio católico. Hoje, eu rezo para Santa Teresinha, Deus, Maria, Jesus, Oxóssi, Oxum, Iemanjá. Eu tenho essa fé expansiva. E zero preconceituosa.
Acabou de sair uma pesquisa do IBGE dizendo que a adesão às religiões de matriz africana têm aumentado muito. Isso em meio, a gente sabe, muitos ataques. A intolerância religiosa é gigante…
Vou pedir respeito sempre. O Brasil é um país muito diverso, e a gente tem que olhar pra isso com felicidade e respeito. Não adianta a gente querer enquadrar todo mundo num lugar só. Que todas as pessoas acreditem num mesmo Deus, numa mesma energia. Então, é só respeito, é você olhar e falar: “Tudo bem, ele pratica essa religião e tá tudo certo, vou seguir minha vida”.
Por que tacar fogo num terreiro, gente? É inacreditável. Então, vou reafirmar a minha fé, a minha crença. Não desejo mal de ninguém, nunca pedi pelo mal de ninguém? Peço para a minha proteção, para que coisas boas cheguem pra mim, para os meus amigos, minha família.
Você foi atleta profissional. Para além dos benefícios do esporte, sabemos que esse ambiente pode ser muito cruel para crianças, uma cobrança no grau máximo. Teve que lidar com essa auto cobrança depois, uma autos sabotagem, uma síndrome de impostora que, às vezes, a gente se coloca?
Totalmente. Essa coisa da auto cobrança de você querer se superar. Na minha época tinha um modo de se treinar, de se educar que era muito cruel.
Abusivo. Era todo um sistema. Não culpo um professor, um técnico específico. A gente vivia isso porque era o aceitável, permitido. Éramos meninas. Estávamos com 7, 8 anos e me lembro de gritarem muito comigo. Me chamarem de incompetente quando aos 6 anos. É. Era uma pressão, e você se sente um lixo.
Reverberou para outros aspectos da sua vida?
Carreguei isso durante muito tempo. Com análise e maturidade, vai dando uma assentada. Um pouco na energia de “peraí, o que é meu e o que é do outro”, entendeu?
Em 2022, quando estreou o ‘Rensga hits’, você me disse: ‘Maria, fiquei com medo do sucesso’. Isso é um pouco auto sabotagem, não?
Acho que é, tenho certeza. É que a gente sabe que é trabalho tão de formiguinha, de todo dia que qualquer escorregada.. A linha é muito tênue. Então, tem que trabalhar para aquilo funcionar, acontecer. E aí, quando finalmente o sucesso vem, é assustador. Porque pode ser muito ilusório, achar que o jogo está ganho, “ah, eu fiz essa personagem, bombei e aí acabou, não preciso fazer mais nada na vida”. Não é assim.
O que mantém seus pés no chão.
Minha educação. Meus pais tiveram uma humildade de se olhar, não se achar a última bolacha do pacote. De levar a vida generosos com os amigos, com as pessoas próximas. A educação por parte da minha faculdade, colégio. Quando estava num momento em que podia me deslumbrar com a minha carreira…
Aos 16 anos, entrei para a faculdade e tinha acabado de fazer protagonista de “Malhação”. Aquele momento em que todo mundo te oferece tudo, te promete mundos e fundos, e que sua carreira pode ou não continuar e decolar. Mas, aí, eu estava numa sala de aula. Com professores e vários outros alunos que vieram de Angra, de Friburgo, do Acre. De lugares que eu nunca tinha conhecido. e tinha uma uma cultura diferente da minha. Eu olhava para aquilo todos os dias. Enquanto estava trabalhando, falava: “Gente, o mundo é imenso e não essa minha bolha da Zona Sul onde eu cresci”.
É difícil alguma mulher que não tenha sofrido abuso sexual de alguma ordem. E você já revelou ter vivido uma situação dessas. Que consequências a violência sexual que já revelou ter sofrido teve na sua vida?
É difícil quando a gente se dá conta disso. Eu demorei. A vida inteira tive dificuldade de falar. Quando, finalmente, consegui compartilhar, entendi que não estava sozinha, que não era a única. E isso alivia. É uma dor que você nunca vai curar, mas vai aprender a lidar com ela, vai olhar para isso com outra perspectiva. Antes, eu sentia muita culpa. Desenvolvi transtorno alimentar durante 10 anos. Aliás, não dá para dizer que me livrei, é que nem alcoolismo: é dependência química mesmo, que pode te acompanhar a vida inteira, fica no inconsciente. Há mais de três anos, não tenho. Mas o abuso me acarretou coisas físicas no meu corpo. Comia para cria essa camada de proteção.
Para preencher um vazio…
É. E veio também de um lugar… Eu estava muito em evidência, o Brasil inteiro via uma adolescente de 15 anos e opinava. “Tá gorda”, “tá magra”. Tudo isso interfere na nossa forma de se olhar. Em relação ao abuso, pude fazer a Carolina, na série “Justiça 2”, que vivia um abuso intrafamiliar do tio. Era o personagem do Murilo Benício, que foi grande parceiro. Apesar de ser uma história pesada, a gente conseguia dar risada junto no intervalo. Eu me sentia segura, acolhida. Recebia mais de 20 mensagens diariamente de mulheres e homens contando casos pessoais sobre os quais nunca tinham falado e que a série os ajudou a enxergar. Falar e buscar ajuda te dá uma estrutura. A série veio num lugar de cura para mim.
Mas deve ter despertado gatilhos…
Sim. Tinha dias que o meu corpo doía inteiro, eu ficava mal. Fico até emocionada de contar (os olhos se Alice se enchem de lágrimas). Foi um trabalho que mudou minha vida, em que vivi esse processo de entendimento e de cura, de olhar para aquilo e saber que aquela história da Carolina também tinha sido um pouco a minha. Não no lugar do tio… Mas que vivi isso de alguma forma e muitas outras mulheres também. E aí existe o lugar de entender o poder genuíno da arte como cura. O teatro, o audiovisual me salvaram. Não sei o que seria da minha vida sem isso sem uma personagem como essa. Sem as séries, os livros que eu li. A arte muda os nossos mundos mesmo. E um tema como esse precisa ser colocado, falado. Ter esse espaço foi um presente.
O abuso teve impacto na sua vida sexual?
Totalmente. Fui redescobrir meus prazeres depois de longo tempo. Muitas vezes, você liga o sexo à culpa. Não se permite viver o prazer por conta disso. O que eu faço de roubarem o seu desejo, seu poder com o próprio corpo é isso, ser dona dele. Porque alguém te tirou esse poder. É o que acontece com nós mulheres. Todos os dias alguém nos tira esse poder. De a gente escolher o que fazer com o próprio corpo. É num lugar de sentir culpa por sentir prazer. Na alimentação, eu sentia culpa por sentir prazer. Comia mais do que deveria porque meu inconsciente pedia por aquilo. E depois me sentia culpada. Tá tudo interligado.
O que foi fundamental para você virar a chave, aprender a gostar de você?
Não estou 100% satisfeita, mas é um alívio. Viria para essa entrevista com milhões de preocupações. “Ai, meu rosto está assim, meu corpo tá assado”. Viria com tanta insegurança que não conseguiria relaxar, me divertir com você. Eu era essa pessoa, dura, tinha medo. Me sinto muito mais feliz. Pelo lugar que conquistei com meu trabalho, dedicação. Tem contradições, mas usei a internet como ferramenta. Vivi uma fase em que as pessoas falavam muito de aceitação nas redes sociais, a coisa da libertação dos corpos. Hoje, acho que há de novo uma opressão, voltamos uns passos atrás. Mas tem um lugar de olhar outras a beleza de outras mulheres e falar: “Cara, tá tudo bem”.
Fiquei muito tempo sem ir à praia. Quando voltei, olhava para outros corpos e falava: “Gente, porque me escondi tanto, que ideia de jerico eu tinha na cabeça para não querer colocar um biquíni?”. Quando você muda a cabeça e chega num lugar de maturidade, olha pra trás e fala: “Eu era muito boba”. Deixei de aproveitar muita coisa.
Digo isso com 29 anos, tenho uma vida pela frente. Mas imagino quantas mulheres não ficaram aprisionadas a vida toda. Poder reverberar a questão da aceitação… E, pra mim, ainda é fácil falar, sou uma mulher branca, padrão. Mas sofri tom todas essas coisas no passado. E ainda sofro com milhões de influências. Mas a gente precisa se olhar com mais carinho. E parar de falar do corpo da amiguinha! Coisa chata! 2025, gente! Vamos falar de conquistar outras coisas, de trabalho, causas sociais.
As mulheres estão mais livres sexualmente? Como é, hoje, a questão do desejo para você?
Essa geração está sabendo fazer mais isso, e as mais velhas sabendo dizer do que gostam. Se querem usar vibradores, onde está a fantasia, o fetiche delas. Vejo a gente conseguindo ter essas experiências orgásticas com mais facilidade, apesar de ainda ter dificuldade. Hoje é mais falado, normalizado. E vamos desconstruindo ideias, nos permitindo ter mais prazer.
Se investiga com liberdade?
Sim. Totalmente. Tenho as minhas travas, limites, inseguranças. Mas me sinto mais segura, entendo mais o que eu gosto. O sexo não está mais ligado a um lugar de culpa como estava antes.
O comentário daquele vídeo seu dançando com o Carrão e o Lucas Leto foi “o verdadeiro significado de tanto faz”. Como é para alguém que teve problemas com corpo e imagem se ver desejada? Mexe com a vaidade?
Sempre fui atrás das pessoas que quis. Mesmo quando não estava tão feliz com o meu corpo, tentava me abrir para o outro, me relacionar, chegava junto. Dava uma bisoiada, jogava meu charme, e a coisa rolava. Não sempre, óbvio, já tomei muito toco nessa vida (risos).
Verdade. Mas sempre consegui demonstrar o desejo quando me sentia desejante. Mas tinha mais dúvida se era desejada também, ficava insegura. Hoje, se não estou desejada, está tudo bem. Vou tentar desviar, direcionar o desejo para outro lugar. Normal, tomar toco, tá tudo certo.
Você falou em redes sociais, que é um lugar que usa com sabedoria. Se serve dele, sem se expor demais. E também um canal em que desabafa, como quando criticou o fato de não bastar ser bom na profissão, é preciso ter muitos seguidores…
Essa coisa de ter que ter números para poder trabalhar. Como se os seus anos de formação, estudos e cursos não fossem suficientes se não tiver mais de um milhão de seguidores. Quanto seguidores precisa ter para se considerar um bom ator? Isso sempre me incomodou. E não só na minha profissão. Se você indica um médico, o cara está lá com 80 anos de profissão, milhões de congresso, mas se não tem Instagram, não deve ser bom? Acho um absurdo! É bom se comunicar, colocar o rosto no mundo, mostrar sua influência. Mas não pode ser uma condição para as pessoas serem aceitas nas suas profissões. Números não significam que dará dignidade a uma personagem, a uma história. Isso vai depender de você. Que medidor é esse que estamos criando. Carreira se constrói a longo prazo. E quando você é devoto da arte, do que aquilo causa nas pessoas, entende a profissão.
Temos pela frente, tem o filme inédito “Rio de sangue” e a terceira temporada de “Rensga hits”. Mas já contou não depositar as fichas só na profissão de atriz. Tem vontade de dirigir, produzir as próprias coisas? Tem um livro vindo aí…
Muita vontade. Me vejo produzindo e dirigindo no futuro. Também quero muito voltar para o teatro. E tem esse livro. Já há algumas crônicas escritas, coisas soltas, que invento e situações que eu vivi. Tem muito de mim ali, que quero muito compartilhar. Sempre gostei de escrever, mas nunca tive coragem de publicar. Esse livreo tem muita influência da minha avó, que sempre gostou muito de literatura. Quero que ela leia, que esteja aqui pra prestigiar. Quero que seja nessa fase dos 30, que farei em novembro.
Imagina, crise nenhuma. Adoro fazer aniversário, viver mais anos. Quero envelhecer, viver o máximo que eu puder com saúde. Ah, tem um filme na Itália também, o primeiro filme faço em outra língua. Estou aprendendo italiano. Wagner (Moura) disse isso numa entrevista, que falar pai e mãe em outra língua é muito diferente. É desafiador, tem um lugar de desconforto que eu quero experimentar.
‘A gente precisa se olhar com mais carinho’
Espetáculo imersivo em igreja na Avenida Paulista conta a história bíblica da criação do mundo
De exposições de Leonardo da Vinci a filmes da Disney, as chamadas “experiências imersivas” viraram moda em São Paulo nos últimos anos. Mas a apresentação da vez adentra um espaço inusitado: uma igreja. Até o final de agosto, o espetáculo “Genesis” toma conta da paróquia São Luís Gonzaga, na Avenida Paulista, em um show que une arte, espiritualidade e tecnologia para contar a história bíblica da criação do mundo.
Durante trinta minutos, efeitos visuais e músicas clássicas conduzem os visitantes em uma viagem pela versão cristã da criação do universo. Dividido em sete etapas — ou sete dias, de acordo com a narrativa —, as projeções contam desde o surgimento da luz ao “dia de descanso”, quando a Terra teria ficado pronta.
Criado pelo coletivo de arte suíço Projektil, a experiência faz parte da série de shows de luzes “Eonarium”, que acontece em cidades dos Estados Unidos e da Europa. Realizada sempre em prédios ou pontos reconhecidos por seus valores histórico e patrimonial, ela já passou pela sinagoga judaica Ohabei Shalom, em Boston (EUA), e pela igreja Oosterkerk, em Amsterdã (Holanda). Agora, pela primeira vez na América Latina, o espetáculo está em cartaz em São Paulo e em Santiago (Chile), no Club de la Unión.
Apesar de circular por diversas localidades, o show é feito sob medida para cada espaço, com projeções adaptadas às arquiteturas por meio de um mapeamento 3D.
— A paróquia São Luís Gonzaga está localizada no coração da cidade, na Avenida Paulista. Como a experiência é inspirada na história bíblica da criação do mundo, não tem um lugar melhor do que uma igreja para fazermos esse show — disse Thiago Kodic, líder da frente de eventos brasileiros da Fever, empresa que colabora com o coletivo mundo afora.
Na paróquia, as projeções do espetáculo tomam conta das paredes e do teto, convidando o público a olhar para diferentes pontos durante a apresentação. Com trilha sonora clássica e sons naturais, Kodic brinca que as misturas sensoriais tornam o ambiente quase meditativo.
— O show é bem dinâmico, já que o público nem sempre está olhando para o mesmo lugar. Então, é um convite para fazer um alongamento, uma yoga e aproveitar. É uma oportunidade de reflexão — ele diz.
O projeto “Eonarium” possui também o show de luzes o “Enlightenment”, inspirado nos concertos “As quatro estações”, do compositor e músico italiano Antonio Vivaldi. Segundo Thiago Kodic, a ideia é trazê-lo à cidade de São Paulo no ano que vem.
— Queríamos ‘sentir o apetite’ do público. Como já tivemos uma recepção muito boa, recebemos como um sinal verde para trazermos outros espetáculos para São Paulo e levarmos ‘Genesis’ para outras cidades do Brasil no futuro — completa Kodic.
O espetáculo “Genesis” acontece na paróquia São Luís Gonzaga (Avenida Paulista, 2378, Cerqueira César) até 31 de agosto. As sessões acontecem todos os dias, exceto às terças-feiras, entre 18h e 21h. Os ingressos custam entre R$ 29 e R$ 160, a depender do tipo (meia, inteira, social ou em grupo) e do dia escolhidos.
* Estagiária sob orientação de Pedro Carvalho
Espetáculo imersivo em igreja na Avenida Paulista conta a história bíblica da criação do mundo
‘Não precisa ser perfeita para funcionar, 5 minutos já bastam’, diz psicólogo sobre os benefícios profundos da meditação
Ele levava uma vida muito comum. Nicolás Iglesias trabalhou durante sete anos no mundo das corporações multinacionais e outros sete em uma agência de contratação de talentos de Hollywood, pertencente a um dos maiores grupos publicitários do mundo. Lembra quase como uma anedota o fato de ter negociado com Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. Morava em uma cobertura no coração de São Paulo (SP). Havia seguido o percurso perfeito do “dever ser”: formado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica da Argentina (UCA), com trabalho, bom salário e projeção profissional. Paralelamente, também havia estudado coaching organizacional e feito sua primeira formação em terapia Gestalt.
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Tinha “tudo”, mas todas as manhãs era invadido por um vazio e uma tristeza, com a sensação de querer deixar aquele lugar que conquistara com tanto esforço. “Até aqui eu cheguei”, disse a si mesmo e aos acionistas do grupo. Convicto, decidiu dar uma guinada em sua vida.
Em 2015, foi morar em São Francisco, na Califórnia, para estudar no Instituto Esalen, a escola de referência mundial e berço da terapia Gestalt, o mesmo lugar escolhido, por exemplo, por Chopra, um renomado médico indiano conhecido por escrever sobre bem-estar, para lançar seus livros. Aproveitou a oportunidade para estudar budismo.
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Em 2016, voltou para Buenos Aires, aprofundou sua conexão com o budismo e conheceu quem define como seu mestre: Gerardo Abboud, uma das principais referências do budismo na América Latina, que viveu 15 anos na Índia com grandes lamas, mestres espirituais do budismo tibetano. Dois anos depois, teve coragem de viver a experiência de morar em um monastério no norte da Índia.
Hoje, sente prazer por realizar um novo sonho: escrever seu primeiro livro, Meditación en zapatillas, (traduzido para o português: Meditação de Tênis), que foi lançado há poucas semanas na Feira do Livro de Buenos Aires.
Como foi a experiência de viver como um monge?
— A verdade é que foi muito difícil. Você acorda às quatro da manhã para começar a prática; às sete é servido o café da manhã, que é arroz com lentilhas. Continua praticando, ao meio-dia tem o almoço, que também é arroz com lentilhas. A prática segue até as sete da noite. Depois, o jantar: arroz com lentilhas. Foi assim que vivi durante um mês e meio.
Durante todo o dia, você pratica meditação sozinho, mas pode fazer o que quiser. Se quiser, pode sair, olhar o celular. A orientação do mestre é que, se for levar isso a sério, não contrate uma babá para te dizer quando meditar. A mensagem é: você mesmo é quem precisa reunir coragem espiritual.
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Que aprendizado isso te deixou?
O primeiro foi: esquecer todo tipo de expectativa, e eu experimentei isso na pele. Na primeira semana em que estive lá, pedi uma entrevista com o lama mais importante do centro. Fui até uma casinha no alto da montanha onde havia um senhor alimentando um cachorro, achei que era um assistente. Quando me cumprimentou, ele disse que era o mestre.
Lembro que eu tinha mil perguntas, mas depois de 10 minutos de conversa, ele me disse: “100 perguntas, uma solução: meditar. Vá para o seu quarto e volte em algumas semanas.” Saí de lá com raiva, frustrado, e, depois de alguns dias, comecei a entender qual era a lição do mestre.
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A prática do desapego: ter a capacidade de deixar para trás o que você achava que sabia e ficar com o que é. É um processo muito transformador que você tem que fazer sozinho, e só depende de você.
Quando voltou, não se sentia um peixe fora d’água?
No começo, sim. Como todo processo, há um tempo de decantação, e depois você integra. Mas sempre, a palavra-chave de todos esses trabalhos é o desapego. Sem renúncia, não há transformação. Sem renúncia, não há crescimento, não há mudança. Você precisa deixar um estágio para passar a outro.
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É como o amor: não sei explicar. Eu sou judeu de berço, estudei em colégio alemão e depois fui para a Universidade Católica Argentina, onde tínhamos catequese, história das religiões. Não tenho uma explicação.
A praticidade. Embora tenha uma parte religiosa e espiritual, o núcleo do budismo é o treinamento da mente. E por mente não me refiro só ao cérebro ou à cognição, mas ao conjunto mente–emoção. Corpo e alma, corpo e cérebro: somos uma unidade.
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Você fala em treinar a mente para não ser dominado pelas emoções?
É um treino que começa com o foco da atenção: meditar prestando atenção à respiração, a um mantra, uma música, ou o que for, sempre que você percebe que se dispersou do presente.
O exercício é esse: você se distrai, e volta. Sempre volta.
O que causa esse vai e vem entre passado e futuro?
O passado gera nostalgia e tristeza. Enquanto o futuro gera ansiedade e agitação. Ambos estão fora do nosso controle. Por isso as práticas contemplativas, chame como quiser: mindfulness, meditação, são fundamentais. Elas nos colocam no único lugar que realmente existe: o agora.
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Por que você deu ao livro o nome Meditação de Tênis?
Sempre quis trazer essas práticas para o chão, tornar acessíveis os ensinamentos e estruturas psicológicas e psicoespirituais como o budismo. Você não precisa raspar a cabeça, virar budista nem vestir uma túnica laranja para praticar isso.
Para meditar, o mais simples é sentar, e, toda vez que a mente se dispersa, você volta. É entediante, não acontece nada, não tem mágica, você não se sente a Julia Roberts em Comer, Rezar, Amar. Mas é como ir à academia: você faz flexões, e os músculos não crescem de um dia para o outro.
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Quanto tempo é preciso meditar?
Tecnica e cientificamente, cinco minutos por dia são suficientes. Quem diz isso são Daniel Goleman e Richard Davidson, duas das maiores autoridades em inteligência emocional, no livro Rasgos Alterados.
De manhã ou à noite? Sentado?
Pessoalmente, gosto mais de manhã: é como um pequeno ritual para começar o dia. O ideal é estar sentado, para não dormir. Mas não precisa cruzar as pernas como um pretzel. Pode ser numa cadeira. Não precisa de técnica perfeita. O importante é voltar sempre que a mente se for. É governar a presença.
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Esse poder de estar presente leva também à parte mais “informal” da meditação: algumas vezes por dia, parar e habitar o presente, o que quer que esteja acontecendo. Pode ser olhando o céu, dirigindo, levando os filhos à escola…
Mas também se recomendam meditações longas. Para que servem?
A meditação é o primeiro passo. Treinar a atenção é como usar rodinhas na bicicleta — até que você ganha equilíbrio e pode tirá-las. Depois que sua atenção se fortalece, você pode treinar a compaixão, a generosidade, o altruísmo, a bondade, a empatia. São todas qualidades de um ser pleno.
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Isso ajuda a ter menos apego?
Sim. Por exemplo, quando você se irrita porque te cobraram errado uma multa, esse treino te dá a capacidade de voltar para o presente. A prática impede que as emoções distorcidas te dominem.
O problema não é o que acontece com você, é o que você faz com o que acontece. Com essas práticas, você aprende a lidar de forma mais madura com suas experiências.
Quando falo em meditação de tênis, minha proposta é: faça o melhor que puder, mas faça alguma coisa. Você pode criar esse espaço de meditação no metrô, no ônibus…
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Você já teve alguma experiência reveladora?
Essa pergunta é uma faca de dois gumes. Se estamos falando em soltar expectativas, em meditar de tênis, de forma simples… qualquer experiência mágica ou transpessoal já cria uma nova expectativa. E o nosso trabalho é habitar o presente sem expectativas.
Mas nunca sentiu nada extraordinário?
Na Índia, tive uma experiência de paz profunda, que não tinha nada a ver com felicidade. Era só paz, uma serenidade que eu nunca tinha sentido. Me senti iluminado. Fui ver o mestre, feliz, achando que tinha alcançado algo. Ele me olhou e, com uma simplicidade absoluta, disse:
“Continue. As experiências não importam. Deixe-as ir. Continue meditando.”
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Conversei com meu mestre, Gerardo Abboud, e perguntei por que ele tinha “descartado” meu grande feito após dias e dias de meditação. E ele foi direto:
“Se você espera que a meditação seja uma espécie de lobotomia, vai se frustrar. Porque, como na vida de qualquer ser humano, há dias melhores e dias piores.”
O que sim está comprovado é que, com a meditação, você alcança um estado maior de calma, bem-estar e tranquilidade. E começa a perceber seus próprios relatos mentais. Você se torna consciente do que antes era inconsciente.
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Isso é o que, na psicologia, chamamos de a tirania do perceber, a tirania da consciência. O verdadeiro salto de maturidade psicológica é quando paramos de esperar soluções mágicas. Não existe Papai Noel. Se eu quero um presente, vou lá e compro. E isso é duro de aceitar, porque o mapa da consciência é um território muito intricado.
Você falou também sobre compaixão. Qual a relação?
Somos tão exigentes conosco que, se fôssemos assim com os amigos, não sobraria nenhum. Precisamos ser compassivos com nós mesmos, e isso também se cultiva com a meditação.
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Rio se firma como vitrine do Brasil para o mundo; entenda
Seja pela vista da Lagoa, na Zona Sul, seja pela representação da estética do subúrbio, nas cenas que retratam o bairro de Vila Isabel, na Zona Norte, com seus bares e praças, o remake de “Vale tudo”, da TV Globo, por exemplo, dissemina o imaginário carioca diariamente. Mais do que vender a imagem do Rio para outras cidades brasileiras, a indústria criativa do estado, com destaque para a da capital, ganha protagonismo na projeção da identidade do Brasil para o mundo. É o que revela o Mapeamento da Indústria Criativa 2025, pesquisa da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), divulgada na quarta-feira (18). De acordo com o estudo, o Rio contribui para reforçar valores e estilos de vida brasileiros internacionalmente, influenciando desejos — é o chamado soft power.
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O conceito foi desenvolvido no fim dos anos 1980 pelo cientista político americano Joseph Nye. Ele defendeu a tese de que é possível influir e projetar uma boa imagem de uma cidade ou do país por meio de sua cultura. No caso do Rio — cuja preocupação em ser vitrine é antiga, mas que tem investido ainda mais nesse movimento atualmente, num esforço para fazer frente à imagem de cidade violenta —, esse poder de influência se deve, sobretudo, à potência do audiovisual e à indústria de eventos, aponta o levantamento.
— Estamos sempre lidando com a questão da brasilidade. Eu faço a criação das aberturas de novelas e séries. Participei do processo criativo da abertura de “Vale tudo”, que conta com mais de 150 imagens que tentam construir um retrato do que entendemos de Brasil. Inclusive, recentemente, houve um painel em Cannes, na França, em que exibiram o material, justamente para falar de brasilidade — diz Julia Rocha, diretora de arte da TV Globo.
Segundo a pesquisa, 2,7% das empresas empregadoras no estado são do segmento criativo, percentual maior que a média nacional (2,3%). Em números absolutos, o estado registrou cerca de oito mil estabelecimentos criativos empregadores em 2023, o terceiro maior número do Brasil — um crescimento de 2,8% em comparação com o ano anterior, período analisado pelo estudo. O setor emprega 124 mil trabalhadores, o segundo maior número do país, atrás apenas de São Paulo, que tem 517 mil. Cerca de 75% desse total se concentram na capital fluminense. Já o crescimento dos empregos criativos no estado (6,5%) superou o ritmo nacional (6,1%).
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Gerente de Ambientes de Inovação da Firjan e coordenadora da pesquisa, Julia Zardo avalia que o crescimento da indústria criativa carioca se relaciona com a exportação do que chama de “marca brasileira”. Dentro da indústria criativa do Rio, analisa, um dos segmentos que mais exercem influência na imagem que o exterior cria do país é o audiovisual.
— Somos uma potência do audiovisual. A cidade tem um grande número de filmagens para cinema, com Marechal Hermes, na Zona Norte, entre os destaques. Nesse contexto, uma produção internacional que tenha gravações aqui pode levar o Rio como protagonista desse produto audiovisual. O próprio Oscar de “Ainda estou aqui” (melhor filme internacional, com uma história que se passa no Rio nos anos 1970) tem feito muitas produções estrangeiras olharem para a cidade como possibilidade de território para gravar — observa.
Segundo dados mais recentes da Rio Film Comission, órgão da prefeitura que presta apoio a produtoras, a capital registrou, em um ano, 7.885 diárias de filmagens, superando Paris, com 7.400, e São Paulo, com 4.895.
E existem outros exemplos na capital que ilustram a tendência de crescimento do setor. Em obras há dois anos, o Polo Cine e Vídeo, na Barra Olímpica, deve duplicar sua área construída, oferecida como locação para filmagens, com equipamentos mais modernos e cinco novos estúdios. Desse total, três já foram erguidos e se somaram aos quatro já existentes, que foram reformados. Entre as produções que usaram o espaço está a sequência do filme “O auto da compadecida”, que levou mais de quatro milhões aos cinemas.
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— Os talentos artísticos e os técnicos mais experientes se concentram no Rio. Depois dos Estúdios Globo, somos o maior do país. O setor audiovisual está em transição e a tendência é de expansão desse mercado — diz Marcelo Pedrazzi, da produtora Quanta, concessionária que administra o Polo Cine e Vídeo.
Os megaeventos, como o réveillon e grandes shows, a exemplo da recente apresentação de Lady Gaga na Praia de Copacabana, ajudam a fazer do Rio uma vitrine do país para o exterior, o que atrai cada vez mais turistas e movimenta a economia do estado.
— Diferentes gêneros musicais, como o funk, o charme, o rap e ainda a bossa nova, continuam como uma referência de exportação da nossa cultura, com participação crescente dos DJs, além do calendário permanente de grandes eventos, como o Rock in Rio, levando o nome da cidade para fora, o carnaval e a própria Bienal do Livro. Em um ano, as atividades da indústria de eventos cresceram 40% — destaca Julia Zardo.
Por falar em carnaval, a folia é um dos eventos que mais atraem os olhares do mundo para o país, despertando o interesse de turistas e gerando efeitos na economia. Este ano, na capital, a festa movimentou R$ 5,5 bilhões em serviços prestados, principalmente, por hotéis, bares e restaurantes.
— No auge dos preparativos do desfile deste ano, chegamos a ter cerca de 300 pessoas trabalhando. O nível da festa tem crescido sempre, exigindo reforçar as equipes, inclusive com trabalhadores temporários. Isso representa um aumento de 30% do pessoal em cerca de dez anos — diz Almir Reis, presidente da Beija-Flor, atual campeã do carnaval.
A Firjan apontou também a importância dos influenciadores digitais, um filão em crescimento, para a divulgação da imagem da cidade, a ponto de a Secretaria municipal de Turismo certificar com um selo, o Rio Digital Influencer, os que se destacam nessa tarefa.
— Minha atuação vai além das redes sociais. Ela é parte ativa do movimento que impulsiona a economia local e posiciona o Rio como uma cidade vibrante, criativa e cheia de oportunidades. Meu conteúdo não apenas conecta pessoas, mas inspira o consumo consciente e o que é produzido aqui — afirma Vanessa Ramos (@girodacarioca), uma das influenciadoras certificadas pela prefeitura.
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O estudo analisou 13 segmentos da indústria criativa, separados em quatro grandes áreas: Consumo, Mídia, Cultura e Tecnologia. Tecnologia (45%) e Consumo (39,8%) são as áreas que mais empregam na economia criativa fluminense. Porém, ao se considerar o crescimento de postos de trabalhos criativos de 2022 para 2023, o ranking foi liderado pelo avanço de vagas na área da Cultura (9,4%).
— Dentro de Cultura, uma das áreas que mais cresceram foi a gastronomia. As pessoas começaram a querer voltar para a rua a fim de conviver, e isso movimentou a geração de empregos nesse setor — avalia a coordenadora da pesquisa.
O setor tem visto também o surgimento de novos empreendedores. É o caso de Anderson Drumond, sócio da Valhalla Burguer, com lojas na Tijuca, no Méier e em Jacarepaguá e planos de expandir para a Zona Sul. Boa parte dos alimentos consumidos na rede vem de produtores artesanais, incluindo a cerveja, o chope e o hidromel.
— Entre fornecedores e pessoal próprio, a cadeia produtiva emprega cerca de 60 pessoas. E é uma mão de obra especializada, que exige treinamento e qualificação — diz Drumond.
Outro exemplo é Diva Oliveira, de Vila Isabel, dona de uma confeitaria artesanal, que, em parceria com os hotéis da rede Othon, ministra aulas on-line e forma cozinheiros especializados na gastronomia preta. A iniciativa já formou 48 pessoas.
— Ofereço alguns doces à base de ingredientes diferentes, como um bolo de frutas cítricas com sementes de papoula. E outro com capim-limão, que é mais encontrado em chás — conta.
Rio se firma como vitrine do Brasil para o mundo; entenda
Perto do fim
O governo não quer cortar gastos, mas o Congresso e o Judiciário também não querem Parece que está chegando o fim do mundo, e não estou falando sobre a entrada dos Estados Unidos na guerra de Israel contra o Irã. Trato de coisas nossas, como as recentes decisões do Congresso que aumentam gastos em benefício dos parlamentares. Em plena discussão sobre a necessidade de cortar gastos, o Congresso recusa-se a aumentar imposto, no que está certo, mas aumenta suas vantagens como se não houvesse amanhã. O pior, para o Brasil, é que provavelmente a oposição que domina o Congresso será governo a partir de 2026 e receberá um país quebrado. Matéria exclusiva para assinantes. Para ter acesso completo, acesse o link da matéria e faça o seu cadastro.
Perto do fim
Empresa brasileira vai participar da construção do maior avião cargueiro do mundo
A empresa brasileira Akaer foi escolhida para participar de um dos projetos mais ambiciosos da aviação mundial: o desenvolvimento do maior avião cargueiro já projetado na história. O contrato foi firmado com a Radia, empresa norte-americana do setor de energia, e anunciado oficialmente nesta terça-feira, durante o Paris Air Show.
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A missão da Akaer será liderar o projeto da cabine pressurizada do WindRunner, aeronave concebida para transportar cargas de dimensões inéditas, como pás de turbinas eólicas com mais de 100 metros de comprimento. A cabine deverá garantir segurança e controle ambiental tanto para a tripulação quanto para os sistemas críticos do avião, mesmo sob condições extremas.
— É motivo de orgulho fazer parte deste relevante projeto que será um marco para a aviação mundial. O desenvolvimento do WindRunner é desafiador e complexo, e a participação da Akaer é resultado do reconhecimento da excelência e experiência que construímos ao longo dos anos — destacou Cesar Silva, CEO da Akaer.
Aeronave colossal para acelerar a transição energética
Com 108 metros de comprimento, 80 metros de envergadura e capacidade para transportar até 80 toneladas, o WindRunner é maior do que qualquer cargueiro militar existente e supera as dimensões de um Boeing 747. A aeronave está sendo desenhada para operar em pistas não pavimentadas de apenas 1.800 metros, o que permite entregas diretas em regiões remotas, sem a necessidade de infraestrutura aeroportuária sofisticada.
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Além de equipamentos militares, satélites e veículos de grande porte, o principal objetivo do projeto é facilitar o transporte de pás eólicas gigantes, usadas em turbinas de nova geração. Com isso, a Radia pretende eliminar barreiras logísticas que atualmente restringem o crescimento de parques eólicos em terra firme.
O CEO da Radia, Mark Lundstrom, cientista de foguetes formado pelo MIT, fundou a empresa em 2016 justamente com esse propósito: aplicar soluções aeroespaciais para expandir a energia limpa. O projeto já levantou centenas de milhões de dólares em investimentos e, segundo a PitchBook, a Radia já está avaliada em US$ 1 bilhão.
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A ideia da empresa é fazer com que o WindRunner torne economicamente viável a construção de parques eólicos com torres 90 metros mais altas do que a média atual, resultando em turbinas mais potentes, eficientes e com maior alcance. De acordo com estimativas da Radia, a adoção dessas turbinas em grande escala pode reduzir o custo da energia em até 35% e aumentar a estabilidade da geração em 20%.