Após ficar 38 dias internado para tratar problemas respiratórios, o Papa Francisco fez sua primeira aparição pública neste domingo. Em sua tradicional oração do Angelus — publicada pouco antes de Francisco aparecer na sacada do Hospital Gemelli, em Roma —, o Pontífice agradeceu a todos que torciam por sua recuperação, a dedicação incansável dos médicos e dos profissionais da saúde no seu período de recuperação e citou a retomada dos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza.

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O Pontífice acenou da janela do hospital e deu a bênção aos fiéis que estavam agrupados na frente do local. Ele recebeu alta neste domingo e já saiu do hospital em direção ao Vaticano.

O Pontífice de 88 anos não conduz a oração do Angelus desde 9 de fevereiro. Desde então, faltou à cerimônia por cinco semanas consecutivas, algo sem precedentes desde sua eleição em março de 2013.

Papa Francisco aparece em sacada de hospital em Roma — Foto: Tiziana FABI / AFP

O Angelus é uma antiga tradição da Igreja Católica e também é chamada de “oração da paz”, pois tem o objetivo de honrar a “encarnação do salvador”, que colocou os fundamentos da paz entre Deus e os homens. A oração é normalmente proferida pelo Papa de uma janela do Palácio Apostólico com vista para a Praça de São Pedro, no Vaticano, onde os fiéis geralmente se reúnem para vê-lo e ouvi-lo.

Leia na íntegra o texto preparado para o Angelus, divulgado pela Santa Sé:

“Queridos irmãos e irmãs, bom domingo!

A parábola que encontramos no Evangelho de hoje nos fala da paciência de Deus, que nos exorta a fazer de nossa vida um tempo de conversão. Jesus usa a imagem de uma figueira estéril, que não produziu os frutos esperados e que, no entanto, o agricultor não quer cortar: deseja adubá-la mais uma vez para ver “se dará fruto no futuro” (Lc 13,9). Esse agricultor paciente é o Senhor, que trabalha com zelo o terreno de nossa vida e aguarda confiante o nosso retorno a Ele.

Neste longo período de recuperação, tive a oportunidade de experimentar a paciência do Senhor, que vejo também refletida na dedicação incansável dos médicos e dos profissionais da saúde, assim como nos cuidados e nas esperanças dos familiares dos doentes. Essa paciência confiante, ancorada no amor de Deus que nunca falha, é verdadeiramente necessária à nossa vida, especialmente para enfrentar as situações mais difíceis e dolorosas.

Entristece-me a retomada dos pesados bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, com tantas mortes e feridos. Peço que as armas se calem imediatamente e que se tenha a coragem de retomar o diálogo, para que todos os reféns sejam libertos e se alcance um cessar-fogo definitivo. Na Faixa de Gaza, a situação humanitária é novamente gravíssima e exige o compromisso urgente das partes beligerantes e da comunidade internacional.

Alegra-me, por outro lado, que a Armênia e o Azerbaijão tenham acordado o texto definitivo do Acordo de Paz. Espero que seja assinado o quanto antes e possa, assim, contribuir para estabelecer uma paz duradoura no sul do Cáucaso.

Com tanta paciência e perseverança, vocês continuam a rezar por mim: agradeço-lhes muito! Eu também rezo por vocês. E juntos imploramos pelo fim das guerras e pela paz, especialmente na martirizada Ucrânia, na Palestina, em Israel, no Líbano, em Mianmar, no Sudão e na República Democrática do Congo.

Que a Virgem Maria nos proteja e continue a nos acompanhar no caminho rumo à Páscoa.”

Francisco estava internado desde 14 de fevereiro, devido a um quadro de bronquite que, posteriormente, evoluiu para uma pneumonia em ambos os pulmões. De acordo com os médicos, Francisco passará “pelo menos dois meses” se recuperando de casa.

— O Papa retornará à residência de Santa Marta — disse o médico Sergio Alfieri em coletiva de imprensa neste sábado, acrescentando que ele terá que se submeter a “uma longa convalescença” de “pelo menos dois meses”.

O Vaticano vem relatando uma melhora gradual na saúde do Pontífice desde o início do mês. O primeiro sinal foi a mudança no prognóstico em 10 de março, que antes era classificado como reservado, ou seja, sem previsão clara de recuperação.

Até o início desta semana, Francisco vinha utilizando uma máscara de oxigênio, mas, na terça-feira, o Vaticano informou que, pela primeira vez, ele conseguiu ficar sem ela. Na quarta-feira, a Santa Sé confirmou que o Papa já não usava mais a máscara.

Ao longo da sua internação, o estado de saúde do Papa passou por altos e baixos, com episódios de insuficiência respiratória aguda e broncoespasmo (contração repentina dos brônquios que dificulta a passagem de ar para os pulmões) que exigiram o uso de terapias como ventilação mecânica não invasiva.

Papa Francisco agradece orações e cita bombardeiros em Gaza em primeiro discurso ao receber alta; leia na íntegra