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Parque do Flamengo chega aos 60 anos como um espaço para todos, dos peladeiros aos chefes de Estado

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outubro 19, 2025
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Praia e parque cheios de vida — Foto: Custódio Coimbra

Impossível adivinhar que observações Lotta Macedo Soares (1910-1967) faria a respeito do Parque do Flamengo 60 anos depois da sua inauguração festiva, num domingo dedicado às crianças em outubro de 1965. Mas até que dá para fazer algumas suposições. Desde que abraçou a ideia de transformar o imenso aterro em área verde, aberta a todos, e iniciou seu esforço para convencer as autoridades da época de que não fazia sentido destinar tão nobre espaço apenas a autopistas ligeiras ou terreno fértil para a especulação imobiliária, Lotta defendia a ideia de que surgisse ali um território franco, para todos: o parque do povo. Passadas seis décadas, talvez ela concordasse que pelo menos esse objetivo foi atingido.

O sessentão Parque do Flamengo está bombando. Levantamento feito pelo Observatório do Turismo da Secretaria municipal de Turismo, com base na geolocalização de celulares, estimou que, somente entre janeiro e julho deste ano, o local recebeu 8,4 milhões de usuários (uma mesma pessoa pode ser contada em dias diferentes), entre cariocas e turistas. É o maior movimento entre os principais parques públicos da cidade. No mesmo período, a Lagoa Rodrigo de Freitas — outra área composta por aterros, como O GLOBO vem mostrando em uma série de matérias publicadas desde anteontem — recebeu 4,9 milhões.

— O parque é muito atual. Em termos de espaço democrático, ele continua sendo um lugar pulsante de encontro, lazer e convivência. Quando a gente pensa que, lá atrás, o Burle Marx e sua equipe imaginaram esse espaço enquanto o aterro ainda estava sendo feito, é impressionante. Foi um trabalho coletivo, com educadores, técnicos, botânicos, pessoas do governo da então Guanabara, todos pensando uma cidade mais verde, mais acessível, mais democrática. Essa discussão é extremamente atual — diz Isabela Ono, diretora executiva do Instituto Burle Marx.

Praia e parque cheios de vida — Foto: Custódio Coimbra

Entre os milhões de visitantes, tem de tudo: gente praticando esportes de toda a sorte (inclusive na praia em frente, liberada para banho depois de muito tempo), lendo, namorando ou, simplesmente, vendo a vida passar. Além disso, o lugar é o point de grandes eventos, palco para poses de chefes de estado, além de receber shows e estar na rota de animados blocos de carnaval.

— É uma marca muito forte do Rio. Desde o início, havia um desejo de abrir a cidade para o Pão de Açúcar, de criar uma relação de contemplação com a natureza. O Parque do Flamengo nasce dessa ideia. Representa essa dualidade: dominar a natureza, construindo sobre ela, sobre o mar e, ao mesmo tempo, valorizá-la — reflete Marcela Abla, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil — Departamento Rio de Janeiro (IAB-RJ).

Local onde o lazer atrais diferentes públicos — Foto: Domingos Peixoto
Local onde o lazer atrais diferentes públicos — Foto: Domingos Peixoto

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Uma das tribos mais tradicionais no pedaço é a dos peladeiros. Os oito campos, que desde 2010 são de grama sintética, começaram a ganhar público a partir de 1966, quando o Jornal dos Sports decidiu patrocinar torneios de amadores.

A abertura foi em grande estilo, com uma pelada que contou com o goleiro Castilho, recordista de jogos (698) pelo Fluminense, e reserva da seleção bicampeã (1958, 1962); e Nilton Santos, um dos maiores ídolos da história do Botafogo. Quem também entrou em campo no primeiro torneio, pelo Juventude de Quintino, foi Zico, que na época tinha apenas 13 anos e ainda dava os primeiros passos na carreira.

Zico (o segundo, agachado, da direita para a esquerda) no primeiro torneio de pelada do Aterro do Flamengo — Foto: Arquivo Pessoal
Zico (o segundo, agachado, da direita para a esquerda) no primeiro torneio de pelada do Aterro do Flamengo — Foto: Arquivo Pessoal

— É possível que na época Zico fosse um ‘’gato’’ (informou ser mais velho) para jogar. Antigamente isso era comum. A experiência nesses torneios amadores foi fundamental para o amadurecimento profissional dele — conta Edu Coimbra, de 78 anos, irmão mais velho do Galinho.

Em 1971, segundo o Jornal dos Sports, o torneio chegou a reunir 30 mil jogadores que se apresentavam para um público de 4 a 5 mil pessoas nos fins de semana:

Parque é o ambiente ideal para reunir familiares e amigos — Foto: Domingos Peixoto
Parque é o ambiente ideal para reunir familiares e amigos — Foto: Domingos Peixoto

—Eu vi o Aterro do Flamengo ser construído. Achava que seria um sucesso para a convivência das pessoas. Os torneios do JS ajudaram a popularizar o espaço como área de lazer — conta o advogado e peladeiro José Brito Freire Filho, o Zé Britto, que enfrentou o time de Zico. —Nós ganhamos — celebra.

Eventos esportivos seguem sendo uma marca do parque. A Riotur informa que este ano, até meados deste mês, foram realizadas ali 51 atividades legalizadas, contra 48 no mesmo período do ano passado. No segmento cultural e gastronômico, o aumento é maior: 64 em 2025 e 19 em 2024.

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Não chega a ser exagero dizer que o Parque do Flamengo já teve também seus dias de “centro do mundo”, pelo menos desde a Rio-92, quando abrigou o Fórum Global, encontro de ONGs da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Em 2000, foi realizado um primeiro encontro de chefes de estado no Museu de Arte Moderna (MAM). Depois disso, vieram a Rio + 20 (2012), o G20 (2024) e a Cúpula dos Brics (2025). Entre 3 e 5 de novembro deste ano, o museu será sede do Fórum de Líderes Locais da COP 30 e da reunião que marca os 20 anos do C40, entidade que reúne as prefeituras das maiores cidades do Mundo.

—Além do cenário espetacular, nenhuma cidade do mundo pode oferecer um lugar que reúna chefes de estado ao lado de um aeroporto (Santos Dumont) e uma base da Marinha. E ainda conta com a Marina da Glória como área de apoio. Quanto à segurança, é de menor complexidade que outros locais — diz Lucas Padilha, secretário municipal de Cultura, que representou a prefeitura na organização do G20.

Aterros na cidade do Rio de Janeiro ao longo dos tempos. Aterro do Flamengo foi inaugurado em 1965. — Foto: Custodio Coimbra / Agência O GLOBO
Aterros na cidade do Rio de Janeiro ao longo dos tempos. Aterro do Flamengo foi inaugurado em 1965. — Foto: Custodio Coimbra / Agência O GLOBO

Por falar no MAM, seus jardins também são ocupados a cada fim de semana por praticantes e professores de modalidades variadas: pode-se andar de patins, skate, aprender forró… Um dos clássicos da área são as aulas de Raquel Poti, que conta já ter formado mais de 1,8 mil pernaltas desde que passou a oferecer oficinas por lá, em 2014.

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—O Aterro do Flamengo é um ponto de respiro da cidade em meio a tantos prédios, atrai gente de todos os lugares. É de fácil acesso e, nas imediações do MAM, há áreas planas pra o treinamento dos pernaltas— conta Poti.

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Outra cria do espaço é a Orquestra Voadora, um dos maiores cortejos do carnaval do Rio :

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— Desfilamos ali desde o início, em 2009. Nascemos e crescemos nessa região, que é bem central. Por causa da quantidade de público, passamos para as pistas a partir de 2010, num esforço para evitar danos à vegetação — conta o saxofonista André Ramos, um dos fundadores do bloco. — A gente pensa em voltar a ensaiar por lá, mas ficamos preocupados com a segurança do público fora do carnaval—acrescentou.

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