Um recorte ainda inédito da pesquisa Genial/Quaest reforça uma conclusão que permeia toda a rodada de outubro do levantamento: a recuperação da avaliação de Lula, paulatina desde agosto, e sua vantagem sobre todos os adversários nos cenários sobre a disputa eleitoral de 2026 não são suficientes, até aqui, para que haja um voto entusiasmado no presidente, nem otimismo generalizado quanto à sua gestão.
O instituto perguntou aos entrevistados se Lula merece continuar mais quatro anos como presidente. E 56% responderam que não, contra apenas 41% que registraram que sim. Trata-se, ainda assim, de uma evolução: é o melhor resultado para o petista desde março deste ano. O pior momento nesse quesito foi registrado em maio, quando 63% consideravam que Lula não merecia se reeleger, e apenas 33% diziam que sim.
Os únicos segmentos medidos pela Quaest que consideram que Lula merece se reeleger são os eleitores do Nordeste (57% dizem que sim e 41% que não na região) e os que estudaram até o ensino fundamental (55% a 42%) . Em todos os demais recortes, seja por região, renda, escolaridade, idade ou gênero, o “não” vence o “sim”. As melhores performances acontecem entre as mulheres (51% acham que não merece, e 45% que sim) e entre os que recebem até 2 salários mínimos (empate técnico de 49% de menções negativas a 47% positivas).
Em todos os segmentos, porém, vem ocorrendo melhora, em muitos casos apenas na margem de erro, desde agosto, o que é um dado positivo para Lula.
— A recuperação de popularidade do governo e a vantagem eleitoral demonstradas nesta semana não parecem ser definitivas. É como se Lula fosse uma escolha possível, mas não ideal para um pedaço do eleitor. A aposta na aprovação da isenção do Imposto de Renda talvez reverta essa impressão, mas isso só vai ficar claro ano que vem quando o eleitor sentir no bolso a vantagem da reforma — diz o cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest.
Outros dados presentes na pesquisa corroboram essa fragilidade do voto em Lula e mesmo da avaliação melhor de seu governo: 56% continuam achando que o petista não deveria nem ser candidato. É um percentual inferior aos meses anteriores (em maio eram 66%), mas ainda é a maioria absoluta dos pesquisados.
No questionário relativo à avaliação do governo ainda predominam aqueles que dizem que o país está indo na direção errada com Lula, e os que demonstram pessimismo em relação à economia, com peso ainda expressivo da inflação de alimentos como componente de insatisfação.
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Todos esses dados lidos em conjunto mostram que Lula se beneficiou de uma série de circunstâncias, como a condenação de Jair Bolsonaro, o sentimento de nacionalismo gerado pelas sanções determinadas pelos Estados Unidos contra o Brasil, pleiteadas e comemoradas pelos bolsonaristas, uma certa desorganização no campo da direita, com a demora do ex-presidente em abrir caminho para um candidato, as manifestações de rua do campo progressista contra a PEC da Blindagem e a anistia ampla geral e irrestrita e a aprovação da isenção do IR pela Câmara.
Nenhum desses fatores parece, no entanto, dar ao eleitor a certeza de que Lula é a melhor opção para continuar governando o Brasil. O voto dele, nesse momento, parece se dar mais por exclusão e por um critério de “é o que temos para hoje”, o que é bastante frágil para garantir alianças e projetar uma estratégia eleitoral de longo de prazo.
