Com o aumento da expectativa de vida no Brasil — hoje em torno de 76 anos, segundo o IBGE —, pensar em investimentos de longo prazo deixou de ser escolha e se tornou necessidade. A aposentadoria, que antes parecia um tema distante, hoje pede preparo desde cedo. Estruturar uma carteira de aplicações, avaliando opções e pensando em se proteger contra imprevistos, é um passo essencial para quem quer envelhecer com tranquilidade.
De acordo com o consultor financeiro Leandro Benincá, a hora de planejar é agora. Esse passo, no entanto, carrega a dificuldade de o amanhã ser algo distante e de a maioria das pessoas não conseguir visualizar o que vem pela frente.
— Quando se é jovem, é mais fácil recomeçar. Aos 30 ou 40 anos, dá para trocar de emprego ou se recuperar de uma perda. Mais velho, o tempo já não joga a favor. A longevidade, portanto, exige um olhar mais atento ao futuro — aponta.
Segundo ele, tudo começa quando se decide guardar alguma coisa — na poupança, em casa, onde for. A partir do momento em que começa, a pessoa naturalmente se interessa por fazer melhor.
Ele sugere pensar o planejamento em etapas. A primeira é começar a poupar. A segunda, buscar informação. Pode ser em cursos, leituras, palestras on-line ou programas especializados. A terceira, quando já se tem um patrimônio maior e o risco de errar pesa mais, a dica é procurar ajuda especializada.
Para quem está começando a investir, o especialista propõe a imagem de uma cômoda de investimentos, com gavetas destinadas a diferentes objetivos: emergências, ganhos de longo prazo, herança para os filhos e por aí vai.
— A diversificação nos protege do que pode dar errado e aumenta as chances de algo dar certo — comenta Benincá.
A regra é simples: nunca concentrar mais de 10% do patrimônio em um único investimento.
— Você faz um plano para daqui a 20 anos, mas e se amanhã acontece alguma coisa no trânsito e você se machuca? A realidade é que a vida não está necessariamente alinhada aos seus planos — diz ele.
Manter a disciplina nos investimentos, no entanto, é o maior desafio. Para isso, o consultor financeiro sugere mudar o foco: pensar nas recompensas, não nos riscos.
— Imagine não precisar mais pagar a conta de luz porque o rendimento do investimento cobre o valor. Depois o aluguel e assim por diante. São esses os prêmios em que devemos focar — ensina o especialista.
Quando se é jovem, é mais fácil recomeçar. Aos 30 ou 40 anos, dá para trocar de emprego ou se recuperar de uma perda. Mais velho, o tempo já não joga a favor. A longevidade, portanto, exige um olhar mais atento ao futuro”
— Leandro Benincá, consultor financeiro
O futuro começa no presente
O consultor alerta para o erro de dar importância exagerada aos gastos imediatos. Ele explica que muitas das decisões de consumo que tomamos hoje não farão tanta diferença daqui a dez anos. Trocar de celular ou de carro raramente muda a sua vida financeira. A verdadeira privação é abrir mão do que é mais importante lá na frente.
A dica é listar os desejos por prioridade e só passar ao segundo quando o primeiro estiver garantido.
— Quem diz “sim” para tudo acaba se privando do essencial. Achamos que estamos aproveitando o hoje quando, na verdade, estamos nos privando do amanhã — afirma.
Segundo o especialista, poupar entre 10% e 15% da renda garante uma aposentadoria tranquila. Quem consegue investir acima de 20% tende a alcançar um padrão confortável em 12 a 15 anos. Mas o importante, reforça, é começar.
— Muitos esperam o plano perfeito e acabam não fazendo nada. Guarde primeiro, a sofisticação vem depois — comenta.
O planejamento financeiro, por fim, deve ser revisado sempre que algo muda — renda, estrutura familiar, trabalho ou até a própria visão de vida.
— Às vezes, o sonho de ir ao Carnaval da Bahia dá lugar ao desejo de viver no campo. Por isso, é fundamental rever a rota. Mesmo quando a mudança é interna — conclui.

