Num país em que a expectativa de vida já ultrapassa os 75 anos, são os gestos cotidianos que constroem segurança financeira para o futuro. Mais do que aplicar grandes somas de forma esporádica, é a disciplina que assegura tranquilidade, autonomia e qualidade de vida ao envelhecer. Atitudes simples, como revisar gastos automáticos e separar mensalmente uma quantia para investir, podem ter um impacto enorme quando mantidas ao longo do tempo.
Para a educadora financeira Dina Prates, o maior desafio não está em começar a investir, mas em manter a regularidade.
— Muita gente aplica R$ 1 mil de uma vez e passa um, dois anos sem investir. Quando olha o saldo, tem algum valor guardado, mas ainda distante de seus objetivos. Se tivesse investido R$ 50 ou R$ 100 por mês, além de acumular mais, teria criado um hábito — explica.
Segundo ela, é esse comportamento que garante a manutenção do patrimônio e a construção da independência. E a constância está diretamente ligada à qualidade de vida e à longevidade.
— O valor que eu guardo hoje é pensando na minha aposentadoria, na vida que quero ter mais adiante e na capacidade dos meus recursos de sustentar essa rotina — afirma a economista.
Na planilha, entram também gastos com viagens e atividades prazerosas, fundamentais para preservar o bem-estar ao longo dos anos.
O primeiro passo para um futuro financeiro saudável é justamente criar o hábito de poupar, mesmo que pouco. Em seguida, é importante ampliar o horizonte do planejamento — de metas de seis ou 12 meses para prazos mais longos, que contemplem os próximos dois anos.
— As pessoas até conseguem se organizar para objetivos imediatos, mas têm dificuldade de olhar para o amanhã. É preciso conectar as metas à idade e entender como você quer estar em 10, 20 e 30 anos — ensina.
O valor que eu guardo hoje é pensando na minha aposentadoria, na vida que quero ter mais adiante e na capacidade dos meus recursos de sustentar essa rotina”
— Dina Prates, educadora financeira
Parte desse processo envolve revisar os hábitos de consumo. Isso não significa deixar de gastar, e sim usar os recursos com consciência.
— Quando você começa a pensar na durabilidade do que compra e avalia se aquilo faz sentido dentro do seu contexto, consegue otimizar o orçamento e sobra mais para o que realmente importa — comenta ela.
Outro passo importante é observar o orçamento e identificar onde é possível reduzir.
— Não estamos falando em cortar, mas em ajustar. Reduzir hoje cria espaço para investir mais amanhã. E, com o tempo, é isso que faz diferença — diz a educadora.
A boa notícia, segundo ela, é que nunca é tarde para começar. Dina cita o exemplo da própria mãe, que começou a se organizar financeiramente aos 50 anos e, hoje, aos 68, tem uma reserva sólida.
Além de colocar as contas em dia e montar uma reserva de emergência, a educadora financeira recomenda atenção especial à alimentação e à saúde física.
— Essas áreas, quando negligenciadas, acabam se transformando em grandes custos. Olhar para elas é também investir em estabilidade financeira — pontua.
Investimento é autocuidado
Mais do que uma questão prática, Dina ressalta que o cuidado com as finanças também tem impacto emocional e está diretamente ligado à autoestima.
— Uma pessoa que tem liberdade para decidir onde e como gastar vive com mais leveza. Quem está endividado ou com restrições sente que não tem capacidade de investir em nada, nem em si mesmo. E isso afeta profundamente a maneira como se enxerga. O estresse financeiro corrói a autoestima — afirma.
Para ela, aprender a investir é uma forma de autocuidado. Saber administrar seus recursos é compreender que eles devem ser ferramentas, não o centro de tudo.
E não adianta ter pressa: cultivar uma relação saudável com as finanças é um processo. Pequenos hábitos, repetidos ao longo do tempo, trazem tranquilidade e permitem viver momentos significativos com mais segurança.
O equilíbrio financeiro, afinal, também é emocional.
— Não existe relação perfeita com o dinheiro. O importante é ter consciência, buscar equilíbrio e entender que planejar o futuro é um ato de amor-próprio. É isso que garante não só segurança, mas a liberdade de envelhecer com dignidade e escolhas — conclui.