Nesta terça-feira, o rei britânico Charles III destacou a orgulhosa independência do Canadá ao proferir o discurso inaugural do Parlamento na capital Ottawa, após repetidas ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de anexar seu vizinho ao território. Normalmente, o Discurso do Trono é proferido pelo governador-geral, que representa a Coroa Britânica no Canadá.
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O soberano de 76 anos, que trata um câncer há mais de um ano, foi convidado especialmente pelo primeiro-ministro canadense, Mark Carney, para a abertura da legislatura em Ottawa. Este é o primeiro discurso feito por um monarca em quase 50 anos.
— A democracia, o pluralismo, o Estado de Direito, a autodeterminação e a liberdade são valores que os canadenses apreciam profundamente e que o governo está decidido a proteger — declarou Charles III, chefe de Estado do Canadá e citando o “momento crítico” enfrentado pelo país.
O premier tenta usar a visita do monarca para destacar a soberania do país, que faz parte da Commonwealth britânica — formado por 15 Estados soberanos, incluindo o Reino Unido e algumas de suas antigas colônias. O rei, obrigado a manter uma estrita neutralidade política, nunca comentou publicamente as declarações de Trump, que insiste para que o Canadá se junte aos Estados Unidos como o “51º estado”.
Carney, primeiro-ministro desde meados de março, colocou a defesa da soberania do Canadá no centro de sua campanha. Em maio, Carney disse à Casa Branca que seu país “nunca estará à venda”, em resposta ao presidente dos EUA que listou as “vantagens formidáveis” para os canadenses de se unirem em um “casamento maravilhoso”.
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Além da retórica expansionista, o presidente dos EUA iniciou uma guerra comercial que afetou tanto aliados quanto países rivais, atingindo o Canadá de forma particularmente dura.
Milhares de pessoas foram às ruas da capital canadense na segunda-feira para cumprimentar o monarca, que viajou com sua esposa, Camilla. Em uma atmosfera festiva, o público agitou as bandeiras canadense e a britânica, a Union Jack. O casal real visitou um mercado de produtores rurais na segunda-feira, assistiu a uma apresentação de dança indígena e foi homenageado com honras militares. Mais tarde, o rei participou de audiências privadas com Carney e líderes indígenas.
Para Shrikant Mogulala, de 32 anos, o rei está no país “para enviar uma mensagem clara a Trump” de que o Canadá não está à venda. Já Kirsten Hanson, de 44 anos, celebrou o apoio do rei e afirmou à AFP que, se ele puder fazer algo para demonstrar a soberania canadense, será “fantástico”.
— Ninguém quer ser dominado pelos Estados Unidos — acrescentou.
Para Félix Mathieu, professor de política na Universidade de Quebec, em Outaouais, o evento é “extraordinário”, já que esta é apenas a terceira vez que um soberano lê o discurso. Elizabeth II, mãe do rei Charles III , que morreu em setembro de 2022, só fez o discurso do trono duas vezes em seu longo reinado: uma em 1957 e outra em 1977.

