Engane-se quem pensa que harpa é instrumento de uso exclusivo da música clássica. Bom exemplo disso é a 20ª edição do “RioHarpFest”, festival — 100% gratuito — todo dedicado a ela. Até o final de julho, serão 84 concertos espalhados pela cidade, diariamente, com 150 instrumentistas e grupos vocais de 25 países. Nos programas, do jazz à bossa nova, de música latino-americana a barroca. A ideia, segundo o idealizador do evento (um “braço” da série “Música no Museu”), Sérgio da Costa e Silva, é transformar o Rio de Janeiro, mesmo que por um mês, na “capital mundial das harpas”.
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— Nós colocamos o Rio e o Brasil no circuito mundial da harpa — celebra Sérgio, que já rodou o mundo com o “HarpFest”, e este ano ainda vai para Portugal, Espanha, França, Bélgica, Croácia, Itália, Áustria, Alemanha e África do Sul. — Normalmente a harpa fica à esquerda, escondida. Com o festival, nós a trazemos para a frente do palco.
Considerada um dos instrumentos mais antigos do mundo, a harpa — que já era tocada no Egito há mais de cinco mil anos — aparece, ao longo do evento, nos mais variados tipos e formatos, desde a clássica de concerto e a celta tradicional até o koto japonês e as harpas árabes e indianas. Mais exemplos disso são o venezuelano Jesús Suárez, com a sua harpa venezuelana (com cordas de náilon e sem pedais), e a carioca Lilian Amancai, com a sua “Kamale Ngoni”, uma harpa do Oeste africano feita com uma cabaça — e que carrega muita história em suas cordas.
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— Ela saiu do contexto ritualístico, na casta dos caçadores, para ser utilizada em músicas contemporâneas, mas permanece como um potente instrumento de comunicação, pela herança que carrega — afirma Lilian, feliz de estar em contato com o próprio legado preto através do instrumento. — A harpa africana preserva os saberes da cultura, da arte e da vida.
Jesús, que já se apresentou nas duas últimas edições do festival, destaca a boa recepção do público.
— As pessoas sempre se aproximam, com bastante carinho e respeito, para conhecer mais da música e da cultura da Venezuela — comenta o instrumentista. — Lembro de uma moça conterrânea que passou por um ensaio no Forte de Copacabana e, só de escutar o som, reconheceu a harpa imediatamente. Ela morava fora da Venezuela há muitos anos e, para ela, ouvir aquele som foi como se transportar ao seu país.
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Dos 84 concertos, 60 acontecem no CCBB. Os demais se dividem entre locais históricos como a Igreja Nossa Senhora de Bonsucesso, o Real Gabinete Português de Leitura, a Igreja da Candelária e o Forte de Copacabana, além do Jockey Club.
Entre as novidades da programação deste ano estão os professores e alunos do Conservatório de Música da China (que “estão vindo como forma de intercâmbio, uma extensão dos estudos”) e os harpistas Naja Mohoric, da Eslovênia, e Nicolas Almada, do Uruguai. Os grupos Les Alizes, da França, e Ecos Latinos, dos EUA, que voltam à programação do festival, estiveram entre os nomes mais pedidos pelo público, revela Sérgio.
— Os artistas formam uma relação pessoal com a gente, viram amigos. Além dos concertos, eles têm uma atividade complementar que é conhecer o Rio — comenta.
Os ingressos serão disponibilizados a partir das 9h do dia de cada concerto, na bilheteria do CCBB ou pelo site.
CCBB. Às 12h30: Pierre Descaves e Alessandro Aguiar (Brasil) misturam koto (cítara japonesa de 13 cordas), oboé e corne inglês em concerto que reúne estilos clássicos japoneses e europeus
ABL. Às 15h: Kobie du Plessis (África do Sul) interpreta músicas tradicionais sul-africanas, como “South African Folk Tune”
Às 18h: a Orquestra de Gaitas de Foles (Brasil), que celebra a tradição musical portuguesa com arranjos contemporâneos, se apresenta com a sul-africana Kobie Du Plessis
CCBB. Às 12h30: a renomada harpista clássica Edith Gasteiger (Áustria) passeia pelo repertório tradicional de seu país
Às 15h: Kobie du Plessis (África do Sul)
CCBB. Às 13h: o grupo de jazz Ecos Latinos (EUA) se apresenta com a harpista Claire Lefur (França)
Às 15h: repeteco de Edith Gasteiger (Áustria)
CCBB. Às 13h: a harpista Lilian Amancai e a percussionista Sabrina Chaves (Brasil) apresentam o projeto “Musso Ngoni”, uma celebração às raízes negras do Oeste africano, com composições autorais
CCBB. Às 15h: repeteco de Ecos Latinos (EUA) com participação de Claire Le Fur (França)
CCBB. Às 12h30: harpista da Orquestra Sinfônica Nacional do México, Baltazar Juarez (México) toca clássicos internacionais, como Mozart
CCBB. Às 15h: repeteco de Edith Gasteiger (Áustria)
Real Gabinete Português. Às 12h30: o grupo Al Nur Kibir (Líbano) apresenta um repertório com músicas turcas e árabes.
Às 15h: com sua harpa venezuelana, Jesús Suárez (Venezuela) interpreta um programa de músicas latino-americanas, com homenagens aos maestros Guillermo Hernández e Benjamin Díaz
Espaço Cultural Arte Sesc Flamengo. Às 18h: o grupo Ecos Latinos (EUA) se apresenta novamente, desta vez sem participação
CCBB. Às 12h30: Kevin Zabdiel (México) interpreta músicas folclóricas mexicanas e clássicos internacionais
Às 15h: repeteco de Baltazar Juarez (México)
Às 17h: O Grupo Shiva Gita (Índia) apresenta um programa de músicas tradicionais indianas
Nas próximas semanas, vale ficar de olho em concertos de harpistas consagrados. Veja alguns:
- A paraguaia Mercedes Ramirez (CCJF, dia 15, às 14h) toca músicas novas e clássicos paraguaios, como “Recuerdos de Ypacarai”
- O duo italiano Earth & Rose, formado pelo flautista Alberto Rosas e pela harpista Francesca Romana Di Nicola (CCBB, dia 17, às 15h), apresenta obras de Piazzolla, Eduardo Martín e mais
- O belga Jacques Vandevelde (CCBB, dia 21, 15h) interpreta repertório eclético, que vai desde o bolero de Ravel aos Beatles, passando por música caribenha
- O colombiano Eduardo Rodrigues (CCBB, dia 23, 15h) tem um programa latino-americano
- A francesa Eloïse Labaume (CCBB, dia 24, às 15h), que também é cantora, apresenta clássicos europeus, com destaque para o seu conterrâneo Debussy