Conhecido pela garotada como um período de diversão e de lazer, o início do recesso das férias escolares de julho, previsto para ocorrer nos próximos dias, provocou um alerta da Secretaria Municipal de Saúde(SMS). Com a criança passando um tempo maior em casa, aumenta o risco de ocorrer algum tipo de acidente doméstico. E de, consequentemente, ser necessária uma passada inesperada por um hospital. Segundo números da SMS, em 2024, neste mesmo período, os hospitais municipais da cidade do Rio de Janeiro realizaram 5.240 atendimentos motivados por queda, 1.080 por ingestão de corpos estranhos e 92 por queimaduras.
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Nos números de ingestão de objetos, registrados pela SMS, no ano passado, houve praticamente de tudo. Desde pregos e moedas até pilhas e bijuterias. Hélder Silva, médico e superintendente do Hospital Municipal Rocha Faria, localizado em Campo Grande, na Zona Oeste, disse que entre os acidentes domésticos mais comuns do período estão fraturas e queimaduras.
— Especialmente no mês de julho, é comum observarmos um aumento considerável na demanda da emergência pediátrica do Hospital Municipal Rocha Faria relacionados aos acidentes domésticos. Dentre os casos registrados, destacam-se com maior frequência as quedas com consequentes fraturas, configurando-se como a principal causa de procura por atendimento nesse contexto. Além disso, também são recorrentes ocorrências envolvendo queimaduras, ingestão de corpos estranhos e traumatismo cranioencefálico, situações que tendem a se intensificar durante esse período em que as crianças permanecem por mais tempo em casa, fora da rotina escolar e, muitas vezes, sem monitoramento constante— explicou o médico.
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Segundo a SMS, as estatísticas de atendimento mostram que o manuseio com o fogo também desperta cuidados importantes dentro das residências. Na cozinha, local de risco para uma possível queimadura, crianças precisam sempre do acompanhamento de um adulto. A principal causa de acidente doméstico entre crianças e adolescentes de 3 a 13 anos, nos períodos das férias de julho, é por líquidos superaquecidos, principalmente com água e álcool. O levantamento foi feito pelo Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Municipal Souza Aguiar (HMSA), no Centro do Rio.
Atuando neste serviço especializado, Estela Dana é a chefe do setor infantil do CTQ do Hospital Souza Aguiar. Em três décadas nesta rotina hospitalar, a profissional percebe também outros acidentes que causam queimaduras em domicílios, como choque elétrico, quando a criança coloca o dedo na tomada e em fios soltos ou mexe em algum eletrodoméstico. Ela revela que a unidade avançou ao longo dos anos na oferta de serviços para a melhor evolução do paciente.
— Hoje, a equipe do CTQ conta com práticas assertivas quanto ao manejo de todos os pacientes que chegam apresentando queimaduras. E especialmente nos pequenos pacientes, pois se configura como um problema grave, deixando sofrimento e sequelas nos menores e em toda a família. Implementamos curativos especiais como placas de materiais diversos para colocar na queimadura, permitindo manter um tratamento longo e com melhores resultados, além do conforto. Também a nova terapia tópica, o antisséptico, que nos ajuda a conservar a assepsia local. E o advento de novos antibióticos para a resolução de infecções, antes consideradas de difícil abordagem—, contou a médica.
O mesmo hospital também é referência no município do Rio de Janeiro para retirada de corpos estranhos. Em julho de 2024, a unidade realizou 236 atendimentos com esta finalidade. São desde objetos engolidos a inseridos no ouvido ou nariz, especialmente por crianças.
— No hospital, contamos com um serviço de urgência e emergência com décadas de experiência em retirada de corpos estranhos, que gerou, inclusive, um grande museu com a diversidade dos objetos que já foram extraídos. Mas a principal mensagem que precisamos deixar é a necessidade de supervisão reforçada dos pequenos durante esse período. Estar atento à classificação indicativa de brinquedos e à acessibilidade de pequenos objetos é primordial para evitar acidentes. As crianças são naturalmente curiosas e podem facilmente conduzir esses materiais à boca, nariz ou ouvidos— ressalta Edio Cavallaro, chefe do serviço de Otorrinolaringologia do Souza Aguiar.
Já os atendimentos por quedas de crianças também são frequentes neste período na rotina do Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier. Seja do berço, do brinquedo “pula-pula”, de bicicletas ou mesmo de laje, quando a criança sobe para soltar pipa. Medidas simples podem ajudar a evitar um acidente. É o que relata o chefe da Pediatria da unidade, Jorge Campos, realçando algumas recomendações.
— É preciso observar com atenção todos os ambientes em que as crianças ficam. Elas precisam ser mantidas longe da cozinha, as panelas precisam estar com o cabo sempre posicionado para dentro do fogão, não se pode deixar recipientes com líquido aquecido e álcool perto dos menores de idade. E proteger a fiação elétrica é fundamental, colocar protetor de tomada é uma opção segura para impossibilitar o choque e a queimadura por ele. Fora de casa e em parquinhos de diversão, caso aconteça uma queda, é importante observar se a criança apresentou vômito, sonolência ou convulsão, nesses casos procure por uma unidade de urgência e emergência— disse o médico Jorge Campos, chefe do setor de pediatria do Salgado Filho.