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Saques e violência dificultam que ajuda humanitária chegue aos necessitados em Gaza

BRCOM by BRCOM
agosto 3, 2025
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Palestinos recebem sopa de lentilha em um ponto de distribuição de alimentos na Cidade de Gaza — Foto: Omar AL-QATTAA / AFP

Após quase 22 meses de guerra, a pouca comida que entra em Gaza é rapidamente apanhada por multidões famintas que arriscam a vida sob tiros, por quadrilhas criminosas ou desviada no meio do caos, sem chegar a quem mais precisa.

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Graças a uma pausa parcial nos bombardeios anunciada recentemente por Israel, sob pressão internacional diante do risco de uma crise de fome em massa, a ajuda humanitária voltou a entrar no território sitiado — mas em quantidades consideradas insuficientes por organizações internacionais.

A dramática situação humanitária na Faixa de Gaza é consequência do bloqueio total à ajuda imposto por Israel entre 2 de março e 19 de maio.

Todos os dias, correspondentes da AFP testemunham cenas angustiantes nas quais multidões desesperadas se lançam — muitas vezes arriscando a vida — sobre veículos carregados de alimentos ou nos locais onde a ajuda é lançada por via aérea.

Na quinta-feira, em Al Zawayda, no centro da Faixa de Gaza, dezenas de palestinos visivelmente desnutridos correram, empurraram-se e lutaram pelos pacotes após verem paletes sendo lançados de um avião.

Palestinos recebem sopa de lentilha em um ponto de distribuição de alimentos na Cidade de Gaza — Foto: Omar AL-QATTAA / AFP

— A fome fez com que as pessoas começassem a brigar entre si. Elas lutam com facas — contou à AFP Amir Zaqot, que foi em busca de ajuda.

Para evitar tumultos, os motoristas do Programa Mundial de Alimentos (PMA) têm instruções para parar e deixar que as pessoas se sirvam diretamente. Em vão.

— Uma roda de caminhão quase esmagou minha cabeça e me machuquei tentando pegar o saco de farinha — desabafa um homem com um saco na cabeça, na região de Zikim, no norte de Gaza.

Mohammad Abu Taha foi ao amanhecer a um ponto de distribuição próximo a Rafah, no sul, para guardar seu lugar na fila:

— Já havia milhares esperando, todos famintos, por um saco de farinha, um pouco de arroz ou lentilhas.

— De repente, ouvimos tiros (…). Não havia para onde fugir. As pessoas começaram a correr, empurrar, cair. Crianças, mulheres, idosos — relata o homem de 42 anos. — A cena era trágica: sangue por todos os lados, feridos, mortos.

Quase 1.400 palestinos que esperavam ajuda morreram desde 27 de maio na Faixa de Gaza, “a maioria” pelas forças israelenses, denunciou a ONU na sexta-feira.

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O exército israelense nega atacar civis buscando ajuda e alega que se trata de “tiros de advertência” quando as pessoas se aproximam demais de suas posições.

Há meses, organizações internacionais também denunciam obstáculos impostos por Israel, como a negação de autorizações para cruzar fronteiras, lentidão nos trâmites aduaneiros, limitação de pontos de acesso e a obrigação de usar rotas perigosas.

Na terça-feira, em Zikim, “o exército israelense alterou de última hora os planos de carregamento do PMA, misturando os carregamentos e forçando o comboio a sair antes do previsto, sem a segurança adequada”, afirmou um alto funcionário da ONU sob anonimato.

No sul, na passagem de Kerem Shalom, “existem duas rotas possíveis para chegar aos nossos depósitos (localizados no centro da Faixa de Gaza)”, explica um dirigente de ONG que também prefere o anonimato.

— Uma é relativamente segura. A outra é cenário frequente de combates e saques. E é justamente essa que nos obrigam a usar — afirma.

Parte da ajuda é saqueada por quadrilhas — que frequentemente atacam diretamente os depósitos — e desviada para comerciantes que a revendem por preços exorbitantes, segundo diversas fontes humanitárias e especialistas.

— É uma espécie de experimento darwinista no qual só sobrevive o mais forte: os mais famintos não têm energia para correr atrás de um caminhão, esperar horas no sol ou brigar por um saco de farinha — afirma Muhammad Shehada, pesquisador convidado do Conselho Europeu de Relações Exteriores (ECFR).

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— Vivemos em um sistema ultracapitalista, onde comerciantes e quadrilhas corruptas mandam crianças arriscarem suas vidas em pontos de distribuição ou saques. Isso virou uma nova profissão — explica de Gaza Jean-Guy Vataux, chefe de missão dos Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Esses alimentos, ele detalha, são revendidos a “quem ainda pode pagar” nos mercados da Cidade de Gaza, onde um saco de 25 kg de farinha pode custar mais de 400 dólares.

Israel acusa repetidamente o Hamas de saquear a ajuda humanitária da ONU, que tem sido a principal fornecedora de ajuda desde o início da guerra, desencadeada após o ataque do grupo islamista em solo israelense em outubro de 2023.

Essas acusações serviram de justificativa para o bloqueio total imposto entre março e maio, seguido pela criação, no fim de maio, da Fundação Humanitária de Gaza (GHF), uma entidade privada apoiada por Israel e EUA, que afirma ser agora a principal fornecedora de ajuda — mas com a qual outras organizações se recusam a cooperar.

No entanto, a fundação tem apenas quatro pontos de distribuição para mais de dois milhões de habitantes, que a ONU descreve como “armadilhas mortais.”

“O Hamas (…) roubou ajuda humanitária da população de Gaza diversas vezes, disparando contra palestinos”, voltou a declarar o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na segunda-feira.

Segundo oficiais militares israelenses citados pelo The New York Times em 26 de julho, o Hamas conseguiu desviar parte da ajuda fornecida por algumas organizações, mas não há “provas” de que a ONU esteja sendo roubada regularmente.

Muito enfraquecido, o Hamas é hoje composto principalmente por “células autônomas descentralizadas escondidas em túneis ou casas destruídas”, avalia Muhammad Shehada.

Mercado com pouca comida disponível na cidade de Gaza — Foto: Saher Alghorra / The New York Times
Mercado com pouca comida disponível na cidade de Gaza — Foto: Saher Alghorra / The New York Times

Alguns agentes humanitários disseram à AFP que, durante o cessar-fogo anterior ao bloqueio de março, a polícia de Gaza — com muitos membros do Hamas — ajudava na segurança dos comboios, mas que o atual vácuo de poder favorece os saques e a insegurança.

— As agências, a ONU e as organizações humanitárias pediram repetidamente às autoridades israelenses que facilitassem e protegessem os comboios e nossos depósitos — afirma Bushra Khalidi, responsável de políticas da Oxfam em Gaza. — Esses apelos foram amplamente ignorados.

Há ainda suspeitas de que o exército israelense tenha armado redes criminosas para combater o Hamas e permitido que prosperassem saqueando a ajuda.

— O verdadeiro roubo da ajuda desde o início da guerra tem sido cometido por quadrilhas criminosas, sob a supervisão das forças israelenses, que as deixaram atuar perto da passagem de Kerem Shalom — acusou Jonathan Whittall, chefe do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) nos territórios palestinos, em coletiva de imprensa no fim de maio.

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Segundo a imprensa israelense e palestina, um grupo armado chamado Forças Populares, que reúne membros de uma tribo beduína liderada por Yasser Abu Shabab, atua nessa região do sul sob controle israelense.

O ECFR descreve Abu Shabab como chefe de uma “quadrilha criminosa (…) acusada de saquear caminhões de ajuda” em Gaza. As próprias autoridades israelenses admitiram, em junho, que apoiam e armam clãs palestinos opositores ao Hamas, sem citar diretamente o liderado por Abu Shabab.

Segundo Michael Milshtein, do Centro Moshe Dayan de Tel Aviv, vários de seus membros estão envolvidos em “todo tipo de atividade criminosa”, incluindo o tráfico de drogas que passa pelo Sinai egípcio.

Outras quadrilhas participam dos saques, atacam comboios, espancam e sequestram motoristas de caminhão em outras regiões da Faixa de Gaza, como em Khan Younis e nos arredores da Cidade de Gaza, segundo Muhammad Shehada.

Essas afirmações são corroboradas por um agente humanitário, que acrescenta:

— Nada disso pode acontecer em Gaza sem, ao menos, a aprovação tácita do exército israelense.

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