O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou, neste domingo, o Partido dos Trabalhadores (PT) por mais representantes no Congresso Nacional. A fala ocorreu durante o encontro nacional da legenda, em Brasília.
— Nessa eleição, nosso partido só elegeu 70 deputados de 513. Se nós fossemos bons, como nós pensamos que somos, teríamos 100 e poucos deputados. Essa ressonância magnética é que norteia as ações políticas do governo. Se depender só de nós a gente não aprova nada. Se depender de quem apoia a gente, a gente também não aprova nada. A arte da política é convencer.
Apesar da cobrança, Lula elogiou a aprovação da reforma tributária no ano passado.
— A gente aprovar uma politica tributária num congresso totalmente adverso, e aprovar uma politica tributária que estava esperando há 40 anos, nem o MDB quando tinha 333 deputados e 23 governadores conseguiu aprovar uma politica tributária. Com muita conversa. cedendo muitas coisas.
O evento contou também com a participação do ex-ministro José Dirceu, condenado durante o Mensalão, que foi ovacionado pela militância com gritos de “Dirceu guerreiro do povo brasileiro”. Ele ensaia um retorno à cena política e deve concorrer à Câmara dos Deputados no próximo ano.
Em sua fala inicial, o presidente cumprimentou Dirceu e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, que também foi condenado no passado e é pré-candidato a deputado federal.
— Nós precisamos daqui para frente reparar erros que cometemos. Se a gente não comentar os erros, podemos continuar cometendo. Estou feliz que o companheiro Delúbio está presente nesta plenário, acho extremamente importante a volta do José Dirceu à direção nacional.
Após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter decretado o tarifaço contra os produtos brasileiros, a solenidade foi marcada por reações. A ministra Gleisi Hoffmann criticou a família do ex-presidente Jair Bolsonaro. O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é investigado por articular sanções à autoridades brasileiras.
— Agora temos que lutar ainda pela soberania. Nunca achei que a gente fosse passar por isso. Ainda pela família de um ex-presidente que entrega nosso país ao estrangeiro. Uma gente traidora que nos vende, que tentou dar um golpe e agora quer um golpe continuado — disse Gleisi.
O tom eleitoral também permeou a cerimônia. O senador Humberto Costa (PE), que presidiu a sigla interinamente nos últimos cinco meses, disse que Lula disputará as eleições mais difíceis de sua vida
— A extrema-direita continua viva e disposta a destruir os valores. A mentira e ódio tentam se impor. Temos pela frente eleições decisivas, as eleições das nossas vidas. Elas podem consolidar um projeto civilizatório. O PT precisa mais do que nunca ser um projeto enraizado na vida real das pessoas — afirmou.
O encontro reafirma o papel de Edinho como figura de confiança do núcleo mais próximo a Lula. Além de ter comandado campanhas presidenciais do petista, Edinho também atuou como ministro da Secretaria de Comunicação Social no segundo mandato de Dilma Rousseff e como tesoureiro do partido.
Sua vitória refletiu um desejo do Planalto de alinhar ainda mais a atuação institucional do partido com a estratégia de governo, especialmente num momento em que Lula tenta reforçar a base no Congresso e ampliar o diálogo com movimentos sociais e setores organizados da sociedade.
Desde sexta-feira, cerca de mil delegados de todos os estados, eleitos previamente nas instâncias estaduais do partido, participaram das discussões em torno do novo regimento interno e das diretrizes políticas da legenda.
Apesar de disputas internas e da tentativa de grupos menores de alterar o equilíbrio de forças, a corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), à qual pertencem tanto Lula quanto Edinho, manteve o controle da maioria do Diretório Nacional. A hegemonia da CNB, consolidada nas eleições internas, reduz as chances de mudanças profundas na linha política ou nas regras de funcionamento do partido.
O 17º Encontro Nacional também é palco de debates sobre as perspectivas eleitorais do PT para 2026, a relação com os aliados da frente ampla e o fortalecimento da presença digital do partido nas redes sociais, um dos temas considerados centrais pela nova direção. A expectativa é que Edinho assuma um papel na reorganização da militância digital e na construção de pontes com setores do eleitorado ainda resistentes ao projeto petista.
Recentemente, a legenda teve bom desempenho nas plataformas digitais com campanhas temáticas que furaram a bolha da militância, como a defesa da taxação dos super-ricos e a mobilização em torno da soberania nacional, reacendida após o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A expectativa da nova gestão é intensificar esse tipo de atuação, investindo em linguagem mais popular, engajamento com criadores de conteúdo e maior capilaridade entre os militantes digitais.