A Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro iniciou uma colaboração com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para identificar provedores de internet suspeitos de estarem sob o controle de facções criminosas. Em reunião realizada nesta segunda-feira, representantes da Secretaria apresentaram à Anatel uma lista de empresas que operam no estado e que, segundo investigações, podem estar ligadas ao crime organizado. O encontro, que marca a primeira fase dessa parceria, visa mapear as áreas de atuação dessas empresas e estudar medidas para interromper a operação de provedores irregulares ou suspeitos.
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Entre as ações discutidas, destaca-se a elaboração de um mapa das zonas de atuação dos provedores suspeitos na capital, com foco nas áreas dominadas por facções criminosas. Um dos locais de destaque identificado foi o entorno do Complexo de Israel, na Zona Norte da cidade. A subsecretária de Inteligência da Secretaria de Segurança explicou que está sendo feito um levantamento de todas as empresas que atuam em comunidades e suas possíveis relações com facções, com o objetivo de identificar práticas como extorsão e monopólio no fornecimento de internet.
A investigação aponta para um cenário em que, em determinadas regiões, uma única empresa domina o fornecimento de internet, o que pode estar relacionado a práticas criminosas de controle do mercado e cobrança de taxas ilegais.
O Jornal O GLOBO revelou na última segunda-feira, 17, que técnicos de empresas de telefonia e internet vêm sendo ameaçados por traficantes ligados ao criminoso Álvaro Malaquias Santa Rosa, o “Peixão”, chefe do tráfico no Complexo de Israel. Esses profissionais, responsáveis pela instalação e manutenção de serviços legalizados, têm sido intimidados com ameaças de morte, caso não abandonem a região. Desde setembro de 2023, técnicos da Vivo, Claro, Tim e Oi foram alvos de intimidações enquanto tentavam prestar serviços nos bairros de Brás de Pina, Parada de Lucas e arredores.
A empresa suspeita de estar ligada a essa atividade ilegal é a RDO Telecomunicações LTDA, que opera sob o nome fantasia Cestas Básicas Lu e Re. A companhia, que tem exclusividade para fornecer internet na região do Complexo de Israel, está sendo investigada por sua associação com o tráfico de drogas, comandado por Peixão. De acordo com as investigações, traficantes da facção Terceiro Comando Puro (TCP), sob ordem de Peixão, impõem a contratação de serviços da RDO Telecomunicações e, para isso, intimidam moradores e profissionais da área.
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O domínio exclusivo da RDO Telecomunicações na área é uma preocupação crescente. Técnicos e moradores têm relatado que, além das ameaças de morte, traficantes roubam equipamentos das empresas regulares e passam a oferecer seus próprios serviços de internet, tornando o monopólio ainda mais evidente. O caso foi encaminhado para o Judiciário, que deve analisar os pedidos de mandados de busca e apreensão, além de determinar a prisão dos envolvidos.
