O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, confirmou que criminosos foram mortos durante a operação realizada nesta terça-feira no Morro dos Tabajaras, em Copacabana. Segundo Curi, entre os “neutralizados”, está o chefe do tráfico conhecido como Cheio de Ódio. Segundo o secretário, ele é “um marginal extremamente violento, que estimulava os ataques contra policiais”. A ação é realizada pela Delegacia de Homicídios da Capital com apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). São cumpridos mandados de prisão dos responsáveis pela morte do policial civil João Pedro Marquini.
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— A operação está em andamento, ainda não tem hora para terminar. Temos algumas informações de armas apreendidas e alguns criminosos que foram neutralizados. Muito importante enfatizar a reação por parte desses criminosos, a facção criminosa Comando Vermelho, que está em ampla política expansionista para domínio territorial. A gente está justamente estancando esse domínio territorial. — afirmou Curi, em entrevista ao RJTV.
Curi explicou que a operação continua com avanço das equipes pela região de mata:
— Foi uma investigação realizada. Conseguimos identificar alguns autores responsáveis, marginais que praticaram esse crime hediondo contra o nosso policial, e hoje estamos nessa região para dar cumprimento a essas ordens judiciais — afirmou o secretário.
O secretário ressaltou que a reação da polícia depende da ação dos criminosos:
— Se eles não reagirem, não vai haver confronto. Agora, se optarem pelo confronto, a opção é deles.
O secretário não confirmou o número de mortos. Indagado sobre relatos de quatro mortes e de uma criança ferida, respondeu:
— Houve alguns criminosos neutralizados, não tem um número, porque a operação está em andamento.
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Ele também relacionou a operação à disputa territorial entre facções. Segundo ele, o policial morto pela Core foi atacado quando criminosos retornavam de um confronto na Favela de Antares, na Zona Oeste, dominada por milicianos.
— A morte do nosso policial da Core foi porque criminosos estavam saindo para um ataque na região da Zona Oeste, ou seja, lá na favela de Antares, que está com a atuação de uma outra facção criminosa, de milicianos. Eles estavam retornando. A juíza, juntamente com o nosso policial, se depararam com esses criminosos e foram atacados. Tentaram roubar o carro deles.
Curi destacou que a Polícia Civil entra em qualquer lugar do estado:
— Não tem lugar no Rio de Janeiro onde a gente não entra, aonde a gente não vai, para poder fazer o nosso trabalho. Estamos fazendo hoje esse trabalho. Fomos recebidos com intensa troca de tiros por parte dos marginais, e agora a polícia está fazendo o seu trabalho, e vamos dar cumprimento a essas ordens prisionais, seja aonde for.
Curi criticou as restrições anteriores às operações policiais, determinadas por decisões judiciais, e afirmou que isso deu ao crime organizado uma vantagem de “meia década”. O secretário também comentou a estrutura armada da facção:
— Está muito mais bem armada. Isso é fruto de meia década de vantagem que o crime organizado teve aqui no Rio, por conta de restrições e limitações impostas às operações policiais. Só podíamos agir em casos absolutamente excepcionais, o que prejudicou muito nossa atuação e fortaleceu o crime.
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Segundo ele, a proibição da presença ostensiva das forças de segurança nas comunidades permitiu que o tráfico se reorganizasse. Agora, diz o secretário, o foco é a retomada desses territórios.
— É um trabalho muito difícil, mas estamos fazendo. Eles se fortaleceram e se armaram. Só no ano passado foram apreendidos 732 fuzis. Agora a polícia, mais uma vez, é que tem que resolver o problema.
Para os moradores de Copacabana, Botafogo e entorno, Curi pediu confiança e colaboração com as investigações:
— Ajudem a Polícia Civil com denúncias. Estamos nessa operação não só para cumprir mandados, mas para tirar de circulação marginais que oprimem toda a comunidade. Nosso objetivo é proteger a população de bem.
Ação após julgamento no Supremo
A operação acontece quase duas semanas depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) concluir o julgamento da ADPF 635, conhecida como ADPF das Favelas, e aprovar um conjunto de medidas voltadas à redução da letalidade policial no Rio. Entre as determinações, está a ampliação da atuação da Polícia Federal no estado, com foco em crimes de repercussão interestadual e internacional. O plano também exige que o governo fluminense elabore uma estratégia de reocupação territorial em áreas controladas por organizações criminosas.
A Corte também decidiu flexibilizar regras anteriores da mesma ação que restringiam o uso de helicópteros em operações policiais. Além disso, foram estabelecidas diretrizes para o uso obrigatório de câmeras corporais nas fardas e nos veículos das forças de segurança.
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O plano foi aprovado por unanimidade pelos 11 ministros do Supremo, após intensas negociações internas. Pontos considerados sensíveis — e alvo de críticas tanto de autoridades fluminenses quanto de representantes da sociedade civil — foram debatidos para viabilizar o consenso.
Entre outras obrigações impostas pelo Supremo, estão a realização obrigatória de autópsia nos casos de mortes decorrentes de intervenção policial. Segundo a determinação, os laudos necessários deverão ser elaborados no prazo máximo de dez dias. A Corte também determinou que, quando houver mortes de civis ou de agentes de segurança pública, em decorrência de intervenção policial, o Ministério Público estadual deverá ser imediatamente comunicado para que, se entender cabível, determine o comparecimento de um promotor de Justiça ao local dos fatos.