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O porta-aviões enviado é o USS Gerald Ford, descrito pela Marinha americana como “a plataforma de combate mais capaz, adaptável e letal do mundo”. De acordo com o anúncio do Pentágono, o navio de guerra será acompanhado por navios de guerra de apoio, para a Área de Comando Sul dos EUA.
“A presença reforçada das forças americanas na Área de Comando Sul do USSOUTHCOM reforçará a capacidade dos EUA de detectar, monitorar e interromper atividades e atores ilícitos que comprometam a segurança e a prosperidade do território dos Estados Unidos e nossa segurança no Hemisfério Ocidental”, disse o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell.
“Durante a noite, sob a direção do presidente Trump, o Departamento de Guerra realizou um ataque cinético letal em uma embarcação operada pela Tren de Aragua (TdA), uma Organização Terrorista Designada (DTO), que trafica narcóticos no Mar do Caribe”, escreveu Hegseth em uma postagem na rede social X, compartilhando um vídeo da operação. “Nossa inteligência sabia que a embarcação estava envolvida no contrabando ilícito de narcóticos, transitava por uma rota conhecida de narcotráfico e transportava entorpecentes. Seis narcoterroristas homens estavam a bordo da embarcação durante o ataque, que foi realizado em águas internacionais — e foi o primeiro ataque noturno. Todos os seis terroristas foram mortos e nenhuma força americana foi ferida neste ataque”.
A confirmação do novo afundamento acontece um dia depois do presidente americano, Donald Trump, sugerir que pretendia autorizar ações terrestres contra grupos ligados ao tráfico de drogas, e que suas medidas contra o narcotráfico continuarão mesmo sem uma autorização expressa do Congresso dos EUA. O republicano equiparou cartéis latino-americanos a organizações terroristas internacionais nos primeiros dias de seu segundo mandato, o que abriu espaço para que o Pentágono justifique o uso da força com base em critérios de excepcionalidade legais.
Hegseth tem repetidamente argumentado que as ações no Pacífico e no Mar do Caribe estão sendo conduzidas com base em informações de inteligência, e justificando o uso do aparato militar — que líderes sul-americanos e mesmo congressistas americanos compararam com execuções extrajudiciais — a partir da equiparação ao terrorismo.
“Se você é um narcoterrorista contrabandeando drogas em nosso hemisfério, nós o trataremos como tratamos a al-Qaeda. Dia ou noite, mapearemos suas redes, rastrearemos seus homens, caçaremos você e o mataremos”, escreveu Hegseth na publicação.
Ainda na quinta-feira, Trump afirmou que as operações de combate ao tráfico de drogas já diminuíram consideravelmente após as medidas adotadas nos últimos meses. Ao se referir às operações em terra, o presidente não deixou claro se os alvos seriam grupos que tentam atravessar drogas pelas fronteiras com México e Canadá, ou se pretendia agir dentro de países sul-americanos — algo que preocupa a região, e foi pauta nas recentes trocas de farpas com Colômbia e Venezuela.
No caso de Bogotá, Trump afirmou no fim de semana que os EUA tomariam ações para encerrar os campos de produção de drogas no país, acusando o presidente Gustavo Petro de não tomar atitudes para frear a operação criminosa e liderar um esquema de narcotráfico, no que foi apontado como uma ameaça de invasão por autoridades do país. Em uma nota emitida na quarta-feira, o governo colombiano pediu que Washington cessasse as operações no Caribe, e pediu o reforço do diálogo por meios diplomáticos.
Em relação a Caracas, a situação é mais complexa. Em oposição direta ao governo de Nicolás Maduro, a Casa Branca vem alimentando uma retórica hostil, inclusive apontando o líder chavista como chefe do Cartel de los Soles e oferecendo uma recompensa por informações que levem a sua captura. Em uma entrevista coletiva recente, Trump confirmou que autorizou a CIA a realizar operações secretas no país.
Em meio às tensões, a Venezuela compara as ações americanas a um cerco. Os militares do país estão em alerta desde agosto, quando a escalada na região começou, e o governo lançou uma ampla campanha para recrutar reservistas. Apenas na quinta-feira, quando Trump voltou a falar sobre agir em terra, as tropas realizaram 73 exercícios militares em posições costeiras.
Maduro tem transitado entre acenos pacifistas e declarações belicosas em face das ações dos EUA. Em um ato com sindicalistas pró-governo na quinta-feira, o líder chavista fez um apelo pela redução das tensões, falando em inglês:
— Peace, yes peace, forever, peace forever, No crazy war! [Paz, sim paz, para sempre, paz para sempre. Sem guerra louca] — disse Maduro, antes de retomar o discurso em espanhol.
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Apesar disso, Maduro não abriu mão de se referir às capacidades militares de Caracas, citando como aliados a China e a Rússia, antagonistas dos EUA na disputa por hegemonia geopolítica. Na quarta-feira, presidente já tinha dito que as Forças Armadas venezuelanas tinham 5 mil mísseis antiaéreos de fabricação russa em ponto de uso, caso alguma ameaça se consolidasse.
— Graças ao presidente [russo, Vladimir] Putin, graças à Rússia, graças à China e a muitos amigos no mundo, a Venezuela conta com equipamentos para garantir a paz — disse Maduro, desta vez sem se referir a um armamento em particular.
Apesar dos apelos dentro e fora dos EUA, não há nenhum sinal de desescalada na região. Os EUA anunciaram ontem a realização de exercícios militares com Trinidad e Tobago, ilha caribenha separada da Venezuela apenas pelo Golfo de Paria, um braço de mar de pouco mais de 10 quilômetros de largura. O contratorpedeiro USS Gravely deve aportar em Porto Espanha no domingo, e permanecer em atividades até o dia 30 de outubro. (Com AFP)

