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Não é a primeira vez que o parlamentar tucano é ríspido com a senadora. Em março deste ano, Valério declarou, durante um evento da Fecomércio no estado do Amazonas, que seria difícil tolerar a ministra “por seis horas e dez minutos sem enforcá-la.
— A Marina esteve na CPI das ONGs por seis horas e dez minutos. Imagine o que é tolerar a Marina seis horas e dez minutos sem enforcá-la — disse Plínio Valério.
Após a declaração, a ministra comparou a fala do senador a de “psicopatas”. O caso, à época, foi interpretado como um caso de violência política de gênero, e causou indignação. Em entrevista ao programa “Bom dia, Ministro”, Marina ressaltou que o pronunciamento vai além de uma simples divergência política e argumenta que o comportamento não seria o mesmo se a pessoa em questão fosse um homem.
— É dito porque é com uma mulher, uma mulher preta, de origem humilde, que tem uma agenda que em muitos momentos confronta o interesse de alguns — diz Marina.
Além disso, Marina criticou o tom de brincadeira usado pelo senador, e afirmou que ameaçar a vida de alguém não pode ser tratado como algo trivial.
— Com a vida dos outros não se brinca. Quem brinca com a vida dos outros, faz ameaça aos outros de brincadeira e rindo, só os psicopatas são capazes de fazer isso — concluiu Marina.
Senador Plínio Valério diz que queria enforcar a ministra Marina Silva
Plínio Valério, atual líder do PSDB na Casa, afirmou na sessão de hoje querer separar a mulher da ministra porque a primeira merecia respeito e a segunda, não. A ministra disse que só continuaria na comissão se houvesse um pedido de desculpas. Plínio se recusou.
— A mulher merece respeito, a ministra, não — disse Valério.
Marina se retirou da Comissão afirmando que não havia respeito por parte do parlamentar, já que havia sido convidada como ministra.
— Eu fui convidada como ministra, então tem que respeitar. Eu me retiro porque eu não fui convidada por ser mulher.

Marina abandona sessão no Senado após bate-boca sobre rodovia na Amazônia
Ao sair da Comissão, Marina citou o episódio em que o senador Plínio afirmou em março que tinha vontade de enforcá-la. A ministra citou ainda os embates sobre a nova Lei de Licenciamento ambiental, aprovada pelo Senado na última semana, e que não poderia ter tido outra atitude que não fosse deixar a Comissão.
— Ouvir um senador dizer que não me respeita como ministra, eu não poderia ter outra atitude. Ele é uma pessoa que disse que da outra vez que eu vim aqui como convidada foi muito difícil para ele ficar 6h10 comigo sem me enforcar, e hoje veio de novo para me agredir…. Além de pessoas que atribuem a mim responsabilidade que são deles. Dizer que a demolição da legislação ambiental praticada pelo Senado, com relatório aprovado, é responsabilidade minha é não querer honrar o voto que os elegeu. Quem tem mandado de Senador e deputado vota pelas convicções que tem, não porque alguém obrigou.
Anteriormente, na mesma sessão, a ministra e o senador Marcos Rogério (PL-RO), presidente da comissão, também haviam discutido. Marina afirmou ter se sentido ofendida por falas do senador Omar Aziz (PSD-AM), da base do governo Lula, e questionou a condução dos trabalhos feita por Marcos Rogério. Ele ironizou:
— Essa é a educação da ministra, ela aponta o dedo…
A ministra disse que Marcos Rogério gostaria que ela “fosse uma mulher submissa”.
— Eu tenho educação. O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa. Eu não sou.
Rogério, então, rebateu:
— Me respeite, ministra. Se ponha no teu lugar — respondeu Rogério.

