Em tratativas para devolver a concessão do sistema ferroviário, a SuperVia entrou com uma ação em maio para cobrar do governo do estado uma indenização de R$ 21,3 milhões por ter recebido 40 trens de fabricação chinesa e francesa com defeito entre 2015 e 2019. No processo, a empresa alega que os recursos são para ressarcir os gastos que teve com o conserto dos problemas técnicos. Segundo o alegado pela concessionária em documentos, as composições da série 3000 apresentaram falhas nas caixas de tração (responsáveis por movimentar o trem), no projeto de portas, nos monitores internos, no sistema de ar-condicionado e nos pisos.
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Já os veículos da série 5000 apresentaram problemas apenas nos pisos. Os documentos não mencionam um número exato, mas afirmam que pelo menos 40, de um total de 112 composições compradas, entre 2010 e 2014, chegaram a ser retiradas de circulação em 2019 por conta de falhas na fabricação.
Atualmente, a SuperVia e o governo estadual estão concluindo negociações para que a empresa prorrogue até novembro a operação do serviço de transporte de passageiros — um acordo judicial previa a saída da concessionária no mês passado. Até lá, há previsão para uma licitação ser iniciada, a fim de que seja escolhida a nova operadora. O assunto será debatido hoje em audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Os primeiros 30 trens, do total de 112, foram comprados pelo estado por US$ 165 milhões (R$ 881,1 milhões), de fabricantes chineses, em 2010, e incorporados à frota entre 2011 e o ano seguinte. Outros 60 foram adquiridos em 2012, com um empréstimo de US$ 600 milhões (R$ 3,2 bilhões) contraídos pelo governo junto ao Banco Mundial. Já os últimos 22, comprados em 2014, custaram mais de R$ 247 milhões — em valores não atualizados.
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A concessionária cobra ainda, em uma segunda ação, R$ 6,3 milhões pelo atraso na entrega das composições. A SuperVia alega que, em alguns casos, houve atrasos de quase dois anos. E, com a retirada das composições defeituosas, acabou sendo forçada a usar trens de séries mais antigas. Isso teria causado maior consumo de energia elétrica e mais falhas.
Já o governo estadual afirma que houve apenas um pequeno atraso na entrega, o que não teria afetado a operação. A maior demora teria sido de 60 dias — para a entrega dos trens da série 3000. Já em relação às composições da série 5000, a Procuradoria Geral do Estado mencionou que a SuperVia não apresentou documentos com a data da entrega. Sobre os trens defeituosos, a narrativa do governo é que a Agência Reguladora de Serviços Públicos Concedidos de Transportes (Agetransp) já havia esclarecido que uma compensação financeira não poderia ser feita com recursos públicos ou via reajuste de tarifa. A obrigação de indenização, diz o estado, é dos fornecedores.
Procurada, a SuperVia informou que o processo faz parte de um dos pleitos ajuizados pela concessionária. A Secretaria de Estado dos Transportes (Setrans), por sua vez, afirmou que “não houve atraso na entrega dos trens da Série 3000 nem descumprimento contratual”. Em nota, disse que “o cronograma estabelecido para a entrada em operação dos últimos trens da série, em 2016, foi integralmente cumprido com o apoio do Estado. Também não houve registro de ocorrências relacionadas a pisos na Série 5000”.
O órgão informou ainda que os trens adquiridos pelo Estado somaram cerca de R$ 650 milhões de dólares e que, do total de trens comprados, 16 unidades estão fora de operação atualmente, sendo 8 adquiridos pelo Estado e 8 pela SuperVia. Ainda segundo a nota, “as falhas identificadas à época foram devidamente solucionadas pelo Estado, em conjunto com as empresas CRRC e Alstom, sem qualquer risco à operação”.
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Atualmente, frota da SuperVia é composta 201 trens. Deste total, apenas 141 estão em circulação. Outros 44 são obsoletos e não tem recuperação. Dezesseis estão em processo de manutenção. Desses últimos, quatro estão parados, sendo dois da série 3000 e dois da série 5000.
De acordo com dados de relatórios apresentados pela concessionária à Agetransp, disponibilizados no SEI-RJ, a SuperVia transportou nos seis primeiros meses de2025, um total de 55.497.296 pessoas. Segundo o documento, que não leva em conta o número de usuários que acessam clandestinamente o transporte, 67% dos transportados eram pagantes. Já o restante é composto por pessoas que têm direito a algum tipo de gratuidade.