Lançamento da Paramount+, “Terra da máfia” provoca sensações paradoxais. A série é cheia de ação e de sobressaltos. Ao mesmo tempo, pisa em terra firme e só faz apostas sem grandes riscos: conta com um elenco que tem de Helen Mirren a Pierce Brosnan, é resultado de um orçamento generoso e foi criada por Ronan Bennett (de “O dia do Chacal”).
São dez episódios, há nove disponíveis e a trama merece a sua atenção. Recomendo só moderar as expectativas.
A aventura é ambiciosa e tem eletricidade, mas seu roteiro se apoia em esquemas manjados. A prova dessa previsibilidade se apresenta já na primeira cena: o espectador experiente vai adivinhar, de saída, como ela terminará (com tiros e mortes).
Acompanhamos duas famílias criminosas em Londres. Elas são antagonistas há gerações. De um lado estão os bandidos liderados por Conrad Harrigan (Pierce Brosnan); do outro, os chefiados por Richie Stevenson (Geoff Bell). Eles dominam vários ramos de atividades ilegais, entre eles, o tráfico de drogas. Um frágil acordo territorial sela uma paz relativa, mas um ódio contido borbulha o tempo inteiro.
Quando a história começa, Tommy Stevenson (Felix Edwards) e Eddie Harrigan (Anson Boon), netos dos patriarcas inimigos, estão juntos num programa noturno. Só que Tommy desaparece e esse fato reacende uma guerra e uma vingança puxa o enredo central. A narrativa se fragmenta em várias subtramas, todas elas interessantes.
Conrad e Stevenson são cruéis e suas ordens amorais e implacáveis norteiam a ação. Além deles, Maeve (Helen Mirren), é uma espécie de Lady Macbeth e age para assumir o poder. O personagem mais importante da série, contudo, não é da família e sim o capataz dos Harrigan, Harry (Tom Hardy, muito bem no papel). Ele defende o chefe com lealdade irrestrita. Suas capacidades impressionam. Entre suas tarefas estão antecipar problemas, montar estratégias, e enfrentar bandos armados sozinho e sempre com sucesso. Ele ainda administra as próprias crises domésticas envolvendo sua mulher, Jan (Joanne Froggatt, de “Downton Abbey”) e a filha adolescente. Harry, na verdade, é um trunfo do roteiro para solucionar impasses. Ele às vezes parece mais um super-herói, criado para resolver o impossível. O ator constrói um personagem crível, capaz de fazer com que o espectador torça por ele, mesmo cometendo crimes terríveis.
Há muitas sequências de ação bem realizadas (Guy Ritchie está no time de diretores), além de externas em Londres, em regiões rurais e em Antuérpia. “Terra da máfia” prende até o fim, mas tem altos e baixos. Prepare seu estômago para socos, facadas, tiros e cadáveres. Em certos momentos, e não vou dar spoiler, o título “Massacre da serra elétrica” caberia perfeitamente. A produção já foi renovada e pretendo assistir à segunda temporada.
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