Seu Delício era só mais um Silva torcedor do Flamengo que tentava a sorte nos Estado Unidos para que sua estrela brilhasse. Saiu de Belo Horizonte no fim da década de 1990 e entrou no país de Donald Trump de forma ilegal, mas trabalhou em restaurante e criou seu filho. Vinicius, 24 anos, é um dos milhares de rubro-negros presentes nas arquibancadas do Mundial de Clubes. A história da família Silva ajuda a explicar a presença em massa de brasileiros e consequentemente de rubro-negros no Sul dos EUA. Os mais de 32 mil torcedores no Camping Stadium em Orlando e a perspectiva de um Hard Rock Stadium lotado em Miami no domingo dão noção da “invasão”.
— Estou realizando um sonho que não só meu, é do meu pai — conta Vinicius.
Delício voltou ao Brasil em 2023 e não conseguiu mais retornar para os Estados Unidos. Acompanhou o Flamengo da geração de ouro da década de 1980 e passou a paixão adiante. O filho, nascido na Flórida, só conseguiu ir ao Maracanã em 2022, e com a primeira Copa do Mundo de Clubes nos Estados Unidos, não perdeu um jogo. E homenageou o pai.
— Eu nasci aqui, fui criado aqui, não tive esse contato de perto com o Flamengo. Não conseguia ir ao estádio, pela situação migratória do meu pai, que não podia me levar pessoalmente. Mas eu sempre vi ele torcendo, acompanhando. Eu comecei a acompanhar de fato em 2009, tinha 7, 8 anos, e lembro do meu primeiro jogo como flamenguista, um 5 a 0 contra o Coritiba — recorda.
Hoje, Vinicius é corretor de imóveis. O setor imobiliário é atração para a presença de brasileiros em Miami e Orlando. O movimento tem crescido constantemente nas últimas décadas, tanto em termos de turismo quanto de residência e investimentos. Na região onde o Flamengo montou sua “casa” para a torcida, em Orlando, há uma comunidade brasileira residente, com restaurantes e escolas. O português é amplamente falado em certas áreas comerciais. A partir deste êxodo, as embaixadas do Flamengo nos Estados Unidos ganharam corpo. Além das de Orlando e Miami, as de outra regiões como Filadélfia e Boston trazem os rubro-negros ao Sul em massa. A mobilização já havia acontecido no ano passado, quando houve um amistoso contra o Orlando City.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/J/d/tjcR7URImZXngpHuhMMA/whatsapp-image-2025-06-26-at-14.39.26.jpeg)
— Quando foi anunciado que a Copa de Mundo seria aqui foi uma mobilização completa de todo mundo, não só aqui na Flórida. Mas todos os brasileiros mostraram interesse em acompanhar o Flamengo, porque a gente não tem esse contato. Meu pai morou aqui 30 anos e não conseguiu ver o Flamengo de perto. No jogo eu postei uma foto e coloquei “Se sinta aqui comigo”, porque o sonho do meu pai era acompanhar, mas infelizmente ele voltou para o Brasil e não consegue voltar para cá — lamenta Vinicius Silva.
O Flamengo mantém uma vice-presidência de Consulados e Embaixadas, mas trata os torcedores nos Estados Unidos de uma forma mais ampla. Além das cerca de 15 embaixadas/consulados dos EUA e do Canadá (o projeto totaliza cerca de mil pessoas) há atenção aos sócios e torcedores do Brasil. Mas os residentes chamam atenção.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/h/X/GfoUo8SFSaXhPsx2LA6A/whatsapp-image-2025-06-26-at-14.39.25.jpeg)
— É uma turma muito apaixonada, que tem o Flamengo como um forte elo de ligação com o a sua terra natal. Mantemos um contato próximo e constante com eles, pois só quem vive aqui ou quem tem relação mais estreita pode imaginar a ansiedade e dedicação deles a essa paixão rubro-negra —, diz Marcelo Conti, diretor de relacionamento com a torcida do Flamengo.
O Flamengo tem apoiado as festas nas arquibancadas e nas cidades na medida do possível, como fez recentemente na Filadélfia, levando o embaixador Zico. Nos jogos, a ajuda vem através de materiais para arquibancada, como faixas de mão e bandeirinhas, sem falar na interlocução junto à FIFA para a liberação das festas, que em Orlando teve direito até a bateria.
Em Miami, há mobilização para compra de balões vermelhos e pretos. O show da torcida do Flamengo nas arquibancadas tem chamado atenção da Fifa. Contra o Bayern de Munique, os rubro-negros pretendem transformar os EUA em sua segunda casa.