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— Não tenho um número específico de dias, mas queremos fazer isso rápido [encerrar os acordos sobre a guerra na Ucrânia] — disse Trump a repórteres na Casa Branca. — Se, por algum motivo, uma das duas partes dificultar muito, vamos simplesmente dizer: ‘Vocês são tolos, seus tolos. Vocês são pessoas horríveis’. E vamos simplesmente seguir em frente.
Antes de embarcar em um avião no aeroporto Le Bourget, em Paris, Rubio afirmou a jornalistas que o governo americano iria “determinar nos próximos dias” se uma trégua seria ou não viável no Leste Europeu, afirmando que a análise seria decisiva para a continuidade do envolvimento de Washington.
— Se não for possível acabar com a guerra na Ucrânia, precisamos seguir em frente. Os Estados Unidos têm outras prioridades — declarou Rubio a jornalistas
Não ficou imediatamente claro se a declaração de Rubio se referia a uma saída dos EUA dos esforços para alcançar um cessar-fogo de 30 dias entre a Rússia e a Ucrânia, que tem sido o foco imediato de Trump, ou se o país abandonaria completamente os compromissos com Kiev. Também não está claro se o entendimento é consensual no governo, uma vez que o vice-presidente americano, JD Vance, afirmou que estava “otimista” quanto ao fim da guerra na Ucrânia, horas após a fala do secretário de Estado.
— Quero atualizar a primeira-ministra [da Itália, Giorgia Meloni] sobre algumas das negociações entre a Rússia e a Ucrânia, e também sobre alguns dos acontecimentos nas últimas 24 horas — disse Vance, antes de um encontro com a premier italiana. — Não vou prejulgá-los, mas estamos otimistas de que podemos, com sorte, encerrar esta guerra, esta guerra tão brutal.
O conteúdo da fala de Rubio aumenta a pressão sobre a Moscou e Kiev para pôr fim à guerra — especialmente sobre o lado ucraniano, que tem resistido à invasão russa às custas de um grande apoio americano —, e parece ter como objetivo criar um senso de urgência nos esforços europeus para pressionar o presidente Volodymyr Zelensky a buscar um acordo. Embora Washington seja o principal interlocutor com a Rússia nas negociações, a Europa tem muito mais influência sobre Zelensky neste momento — após as rusgas com Trump. O presidente americano disse na quinta-feira que “não é muito fã” do líder ucraniano.
— Acredito que Reino Unido, França e Alemanha podem nos ajudar, fazer as coisas avançarem e nos aproximar de uma resolução. Achei suas ideias muito úteis e construtivas — disse Rubio. — De nossa parte, estaremos prontos para ajudar quando vocês estiverem prontos para a paz, mas não vamos continuar com esse esforço por semanas e meses.
Ainda de acordo com Rubio, Trump “passou 87 dias” liderando “esforços repetidos” para acabar com a guerra —inicialmente, o presidente americano deu 100 dias para que seus enviados alcançassem esse objetivo. O diplomata disse que chegou um ponto em que é preciso determinar “se isso é sequer possível”.
Apesar das sinalizações positivas a propostas de Trump por parte de Moscou e Kiev, os embates no front nunca pararam de fato. Nesta sexta-feira, autoridades ucranianas afirmaram que uma pessoa morreu e pelo menos 87 ficaram feridas, incluindo seis crianças, em um ataque com mísseis em Kharkiv. Em Sumy, onde 35 pessoas foram mortas em um ataque aéreo russo no domingo, um novo ataque de drone deixou um morto e um ferido.
Enquanto EUA e Ucrânia assinaram um memorando de entendimento na quinta-feira, primeiro passo para a conclusão de um acordo sobre a exploração dos recursos naturais e minerais, o Kremlin disse nesta sexta que a ordem anunciada pelo presidente russo, Vladimir Putin, em 18 de março, para suspender por 30 dias os ataques a instalações de energia na Ucrânia “expirou”.
— De fato, o mês expirou. No momento, não houve outras instruções do comandante supremo, o presidente Putin — declarou o porta-voz da presidência russa, Dmitry Peskov.
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Em uma resposta direta aos comentários de Rubio, o Kremlin sinalizou que não tinha pressa para um cessar-fogo, uma mensagem consistente de Moscou durante todas as tentativas de Trump de encerrar a guerra.
As conversas de alto nível realizadas em Paris na quinta-feira, entre autoridades americanas, europeias e ucranianas, foram as primeiras do tipo, com o objetivo de promover uma “convergência” entre as visões sobre a guerra em Washington e nas capitais europeias. Rubio disse que as conversas foram construtivas, mas pareceu claro que Trump está perdendo a paciência.
— Essa não é a nossa guerra. Nós não a começamos — disse Rubio. — Os Estados Unidos vêm ajudando a Ucrânia nos últimos três anos e queremos que isso acabe, mas essa guerra não é nossa.
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Rubio e Steve Witkoff, enviado especial de Trump ao Oriente Médio, mas que também atua como negociador no Leste Europeu, lideraram a diplomacia americana até o momento. Witkoff se reuniu várias vezes com Putin, e afirmou estar tentando desenvolver uma “amizade, um relacionamento” com o líder russo.
Autoridades que participaram das negociações em Paris concordaram em se reunir na próxima semana em Londres. Rubio indicou que pode participar, e disse esperar que os europeus permaneçam engajados nos esforços para garantir a paz na Ucrânia.
França e Reino Unido lideram uma iniciativa para criação de uma “coalizão de voluntários”, composta por cerca de trinta países aliados da Ucrânia, que trabalha principalmente para garantir um possível cessar-fogo com garantias de segurança para Kiev. (AFP e NYT)