Em mais um episódio da “diplomacia de redes sociais” do presidente dos EUA, Donald Trump, ele afirmou nesta sexta-feira ter salvado o líder supremo do Irã, Ali Khamenei, de “uma morte muito feia” durante os 12 dias de bombardeios israelenses contra o país. E foi além: um dia depois do aiatolá afirmar que o Irã “deu um tapa severo no rosto dos EUA”, o republicano sinalizou que desistiu de aliviar sanções econômicas aos iranianos em conversas que ainda não têm data prevista para acontecer.
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Na publicação desta sexta-feira em sua rede, o Truth Social, Trump, em seu habitual tom irritadiço, perguntou “por que o chamado ‘Líder Supremo’, o aiatolá Ali Khamenei, do Irã, país devastado pela guerra, diria de forma tão descarada e tola que venceu a guerra contra Israel, quando sabe que sua declaração é mentira?”.
Na quinta-feira, na primeira declaração pública após o cessar-fogo determinado por Trump a Irã e Israel, Khamenei disse que “a República Islâmica venceu e, em retaliação, desferiu um tapa severo na cara da América”, e que “caso ocorra alguma agressão, o inimigo certamente pagará um preço alto”.
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A fala, extremamente alinhada com a retórica iraniana dos últimos 46 anos, pareceu irritar, e muito, o presidente americano, que tem apresentado o cessar-fogo como uma peça de sucesso de sua diplomacia, embora os termos da trégua ainda sejam desconhecidos.
“Seu país foi dizimado, suas três instalações nucleares malignas foram OBLITERADAS, e eu sabia EXATAMENTE onde ele estava abrigado, e não permitiria que Israel, ou as Forças Armadas dos EUA, de longe as maiores e mais poderosas do mundo, tirassem sua vida. EU O SALVEI DE UMA MORTE MUITO FEIA E IGNOMINIOSA, e ele não precisa dizer: ‘OBRIGADO, PRESIDENTE TRUMP!’”, escreveu o presidente.
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Mas o presidente, ao menos desta vez, não ficou apenas nas palavras. Segundo ele, o governo americano trabalhava em uma proposta que previa “a possível remoção de sanções e outras medidas que teriam dado ao Irã uma chance muito maior de uma recuperação completa, rápida e completa”. Contudo, a fala de Khamenei, chamada por Trump de “declaração de raiva, ódio e repulsa” fez com que desistisse da ideia.
Na quinta-feira, a rede CNN revelou detalhes de propostas para fazer com que o Irã concordasse em retornar à mesa de negociações sobre seu programa nuclear, e aceitasse a principal exigência da Casa Branca: o fim do enriquecimento de urânio no país, algo que Teerã se recusa a concordar.
Entre os benefícios, afirma a CNN, estariam uma linha de crédito de US$ 30 bilhões (R$ 164,64 bilhões) para um programa civil de geração de energia nuclear, o fim de sanções e a liberação de US$ 6 bilhões (R$ 32,93 bilhões) congelados em bancos no exterior. O presidente chegou a sinalizar, separadamente, que permitiria que a China continuasse a comprar petróleo iraniano — mesmo com sanções, Pequim é a maior compradora de petróleo do país.
Trump chegou a afirmar que representantes dos dois países se reuniriam “na semana que vem”, o que não foi confirmado pelo lado iraniano.
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Ao final da mensagem, Trump pareceu dar um ultimato.
“O Irã precisa retornar ao fluxo da Ordem Mundial, ou as coisas só vão piorar para eles. Eles estão sempre tão irritados, hostis e infelizes, e vejam só o que isso lhes trouxe: um país queimado, destruído, sem futuro, um Exército dizimado, uma economia horrível e MORTE por toda parte”, escreveu em sua rede social. “Eles não têm esperança, e a situação só vai piorar! Gostaria que a liderança iraniana percebesse que muitas vezes se consegue mais com MEL do que com VINAGRE. PAZ!!!”
Em entrevista coletiva na Casa Branca, também nesta sexta-feira, Trump disse que atacaria novamente o Irã caso seja comprovado que o país ainda tem capacidade de enriquecimento de urânio. Desde os ataques do fim de semana, o presidente alega que as instalações nucleares iranianas foram “obliteradas”, mas dados da inteligência de vários países sugerem que nem tudo foi destruído, e que o estoque de urânio enriquecido está praticamente intacto e guardado em local desconhecido.