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Trump e minha mãe

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abril 19, 2025
in News
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Capa do audio - Vera Magalhães - Viva Voz

Minha mãe foi uma pessoa de temperamento forte, fruto em parte da origem ucraniana. Em sua vida, migrou da esquerda para a direita, mas poupou os filhos, netos e bisnetos da pecha de ter sido eleitora de Bolsonaro. Certamente odiaria o 8 de Janeiro, e mais ainda Vladimir Putin, que invadiu sua bela nação. De lá, saiu muito cedo com seus pais para o Brasil, fugindo dos comunistas. À medida que o tempo passava, observei um paradoxo: em vez da ranzinzice da velhice (ela morreu aos 91), emergiu uma senhora flexível e compreensiva, revelando ainda mais ternura e generosidade.

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Lembrei-me dela com gratidão ao ler uma instigante entrevista do escritor e jornalista Binyamin Appelbaum, do New York Times. Sem invalidar ou discordar das medidas tarifárias do presidente Donald Trump, ele destacou a maneira intimidatória, a dureza e o ritmo com que ele tenta impor alterações nas trocas comerciais que vêm abalando a economia mundial.

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— É algo que muitas vezes vemos em pessoas mais velhas. Elas meio que perdem a sutileza e se tornam endurecidas em suas convicções. É difícil ouvir Trump e não ter a sensação de que parte do que ouvimos é um velho mal-humorado que imagina saber a verdade e está determinado a impô-la a todos.

— É um cara que, nesta fase do jogo, acha necessário ser grande e ousado. Os americanos precisam da Groenlândia. Os americanos precisam de uma política industrial totalmente nova. É como se a escala da mudança e das ideias fosse o ponto.

Formidável. Mas não compactuo com o etarismo inadvertido contido na opinião de Appelbaum, nem enxergo na idade a única explicação para a exorbitância de Trump nessa e nas demais atitudes arrogantes e prepotentes que atingem e prejudicam americanos. O caráter dele vem de longe, mas pode ter piorado com o tempo. Ao contrário de minha mãe, e de tantos outros sábios velhinhos — como José Mujica, Bernie Sanders, Fernanda Montenegro e Noam Chomsky.

Descobri que tenho a idade de Trump e fiquei preocupado. Sem dúvida progredi como psicanalista, afinando a escuta, mantendo-a protegida do dogmatismo de teorias que pretendem tudo explicar. Troquei ainda mais a interpretação direta (lembrei o livro “A violência da interpretação”, de Piera Aulagnier) por histórias, metáforas e até piadas (ao estilo freudiano), que contêm e expressam a lógica e os elementos presentes na significação.

Mas, noutras ocasiões, flagrei-me — verdade seja dita —, obcecado por ideias intransigentes. E, quando discuto ou penso sobre o Brasil e sua desigualdade, fico rígido e indignado com a política econômica restritiva num país que precisa de tantos investimentos. Ao perceber a postura emotiva, troquei a rabugice pela tristeza conformada, mesmo porque, não é minha praia, entendo pouco do assunto e nada posso fazer.

Apesar disso, e da “idade”, nunca escorreguei para fervorosas discussões políticas, muito menos com bolsonaristas ou os que defendem Putin e a invasão da Ucrânia. Cada um pensa do jeito que deseja. Não discuto também sobre Xi Jinping e o paradoxo chinês: um país tão poderoso e ao mesmo tempo tão frágil, ao não tolerar críticas internas. Não me iludo com progresso sem democracia.

Sobre isso, tenho notado pessoas sensatas e inteligentes com tendência a justificar e até a aplaudir regimes autoritários, a aderir ao realismo geopolítico (justificando a invasão da Ucrânia, apesar dos milhares de mortes de inocentes). É curioso, não são posições mantidas por bajulação política ou interesses pessoais. Trata-se mesmo de, obscuramente, endossar o injustificável. Regimes autoritários são reabilitados como saída para o que seria a impotência da democracia em melhorar nossos problemas. Um líder como Trump, espécie de herói dos órfãos da onipotência, é admirado por desafiar as leis e se colocar acima dos limites humanos, a que todos estamos submetidos — com decrescente satisfação no mundo de hoje.

*Paulo Sternick é psicanalista

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