- ‘Guerra psicológica’: Trump tenta fraturar regime Maduro ao confirmar missão secreta da CIA e ameaçar ataques dentro da Venezuela
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Essa foi uma declaração notável, porque os presidentes não reconhecem diretrizes que permitem que espiões realizem missões sigilosas. A ideia de ter uma CIA é permitir que os Estados Unidos operem nas sombras e conduzam operações “negáveis”. A resposta normal a perguntas sobre tais autorizações, usada por quase todos os presidentes desde a Segunda Guerra Mundial, é algo como “Não sei do que você está falando, mas se soubesse, não poderia comentar”.
Mas, neste caso, comentar pode ter sido o objetivo. Em particular, funcionários do governo Trump disseram que querem tirar Maduro do poder. Nesse contexto, os navios de guerra reunidos na costa caribenha da Venezuela, os 10 mil soldados posicionados nas proximidades e o bombardeio de barcos supostamente cheios de “narcoterroristas” — segundo alegações da Casa Branca — são esforços de guerra psicológica. Trump espera assustar Maduro e forçá-lo ao exílio. Ele aumentou a pressão na quarta-feira, quando disse que o próximo passo poderia ser um ataque terrestre.
O que nos leva ao segundo ponto: o que Trump nunca mencionou. Ele se recusou a explicar, aos americanos ou mesmo a muitos membros do Congresso, o que exatamente está tentando realizar. Quais interesses estão sendo atendidos aqui? Como isso é “America First” — seu lema de campanha sobre colocar os Estados Unidos em primeiro lugar? Veja a seguir uma análise, ponto a ponto, das reais intenções do presidente americano sobre a Venezuela:
1. Interromper o fluxo de cocaína?
Bem, isso faz sentido, mas, nesse caso, a Marinha está na costa errada: as drogas que vão para os Estados Unidos vêm principalmente da costa do Pacífico, não do Caribe, onde está ocorrendo o reforço naval.
É isso que o governo de Maduro alega ser o motivo da ofensiva dos EUA. Mas há maneiras de negociar o petróleo sem recorrer a ações militares ou secretas, e Trump interrompeu essas negociações há semanas.
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3. Revitalizar a democracia?
Talvez, mas isso é o que os antigos neoconservadores tentaram fazer na era das guerras eternas, afirmam os adeptos do American First, uma era que eles desacreditam como um grande erro. E promover valores democráticos nunca foi uma grande prioridade para um presidente que admira abertamente os autoritários, na Rússia, Turquia, Hungria e outros lugares.
O que deixa a mudança de regime como a explicação quase certa.
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Um problema para Trump é que seus pretextos para agir continuam desmoronando. As agências de inteligência já refutaram a ideia de que o governo Maduro está enviando criminosos para sabotar os Estados Unidos (e os analistas foram silenciados ou demitidos). As drogas são um problema, mas a Venezuela não é uma fonte de fentanil, a droga mais prejudicial importada. Seus ingredientes vêm da China e são produzidos no México, e Trump não defende uma mudança de regime nesses países.
Os Estados Unidos já arquitetaram muitas tentativas de remover um líder e instalar outro mais flexível. Essa história é, na melhor das hipóteses, conturbada. Pode ser útil para o presidente e seus assessores se lembrarem disso, analisou Tim Weiner, ex-repórter do New York Times cuja nova história da CIA, “The Mission”, lembra aos leitores o que acontece quando as operações de mudança de regime dão errado.
— Pense no Irã, na Guatemala, na violenta derrubada de Diem no Vietnã do Sul — enumerou ele — Muitas resultaram em mortes desnecessárias, mas quase todas levaram a consequências indesejadas, muitas vezes desastrosas.