Nas semanas que antecederam suas tarifas globais abrangentes, o presidente Donald Trump e seus principais assessores tentaram preparar o público para a dor econômica. Eles alertaram que, embora houvesse consequências de sua estratégia comercial agressiva, ela seria passageira e beneficiaria a economia a longo prazo.
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Investidores, empresas e outros deixaram claro na quinta-feira que a economia dos EUA não estava pronta para aceitar essa abordagem. Os mercados globais despencaram, economistas alertaram para uma possível recessão e os consumidores se prepararam para aumentos de preços em carros, alimentos, roupas e mais.
O tumulto inicial ressaltou os riscos elevados da agenda de Trump, que o presidente descreveu como um procedimento médico doloroso para resgatar uma economia que ele comparou a um — paciente doente. — Na visão de Trump, os Estados Unidos vão — decolar — assim que suas tarifas tiverem tempo de redefinir as relações comerciais do país, aumentar a arrecadação e impulsionar a produção doméstica.
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Mas espera-se que essas tarifas façam os preços dispararem no curto prazo, um desenvolvimento indesejado para os americanos que já enfrentam anos de preços elevados. Vários economistas aumentaram as chances de uma recessão em suas previsões ao projetarem uma desaceleração no consumo, nos investimentos empresariais e no crescimento econômico.
Uma nova análise do Yale Budget Lab constatou que as tarifas de Trump como um todo podem fazer os preços subirem 2,3% no curto prazo. Isso se traduziria em uma perda média de 3.800 dólares em poder de compra por domicílio com base nos valores de 2024.
— Os preços vão subir, ponto final — disse Martha Gimbel, diretora executiva do Yale Budget Lab, acrescentando que as empresas sentiriam o impacto imediatamente. — São tarifas realmente grandes. Não é algo que possamos esperar que as empresas simplesmente absorvam.
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Em entrevista na quinta-feira, Stephen Miran, que lidera o Conselho de Assessores Econômicos do presidente, reconheceu que a economia pode passar por um — período turbulento — por tempo indeterminado enquanto o governo busca sua agenda, que inclui tarifas, cortes de impostos e desregulamentação.
Mas Miran sustentou que o verdadeiro custo das políticas comerciais do presidente seria, em última instância, arcado por outros países, acrescentando: — Não concordo com o argumento de que os americanos acabarão pagando por essas tarifas.
As garantias da Casa Branca contrastaram fortemente com a visão amplamente adotada por economistas, que acreditam que as tarifas de Trump ameaçam agravar a inflação, possivelmente minando o esforço recente do Federal Reserve para tentar controlar os preços.
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Alan Detmeister, ex-economista do Fed e atualmente no UBS, previu que o índice de inflação preferido pelo Fed — que exclui custos voláteis de alimentos e energia — pode subir para cerca de 4,5% até o final do ano, antes de atingir o pico próximo de 5% no início de 2026, à medida que o crescimento desacelera.
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Pelo plano de Trump, os Estados Unidos devem impor uma taxa de 10% sobre as importações, além de outras tarifas sobre países considerados praticantes de comércio desleal. Com previsão de entrar em vigor na próxima semana, os impostos iminentes sobre importações geraram reação global, com aliados dos EUA avaliando como ou se devem responder.
Em Wall Street, economistas começaram a elevar significativamente suas previsões para o desemprego, com alguns projetando um aumento de quase 1 ponto percentual, para 5% ainda este ano.
Isso pode tornar mais difícil para os trabalhadores buscarem aumentos salariais e acompanharem o aumento do custo de vida, reduzindo ainda mais seu poder de compra e plantando as sementes de uma recessão mais significativa, alertou Omair Sharif, fundador da consultoria Inflation Insights.
Ele disse que um aumento no desemprego também pode reduzir o consumo, impactando ainda mais os lucros das empresas e forçando novas retrações. — Se isso acabar se tornando um grande problema, é muito provável que 2026 seja um ambiente de desinflação muito mais acentuado — mas não de forma positiva —, disse Sharif.
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Gregory Daco, economista-chefe da EY-Parthenon, disse que, de forma mais imediata, as tarifas podem aumentar os custos das empresas e que o impacto não se limitará a produtos e peças importados. Mesmo os produtores americanos — também vão aumentar seus preços —, previu Daco, — e, de certo modo, vão se aproveitar desse ambiente de preços mais altos.
— O choque para os produtos fabricados domesticamente tende a ser bastante significativo — disse ele.
Há semanas, o governo Trump vem enfatizando um objetivo de longo prazo: atrair algumas das maiores empresas globais para produzir mais de seus produtos nos Estados Unidos. O presidente disse que sua estratégia também poderia ajudar a compensar os custos do restante de sua agenda, especialmente de um pacote legislativo para estender e ampliar os cortes de impostos aprovados durante seu primeiro mandato.
Trump retratou essa medida, por vezes, como um antídoto para qualquer dor econômica causada por suas tarifas, argumentando que pouparia milhões de americanos de um aumento de impostos caso a legislação atual expirasse.
— Vai levar algum tempo para que todas as coisas positivas se reflitam na economia — disse Miran.