Por volta das 9h da manhã deste domingo, o restante do público que assistiu ao megashow da estrela norte-americana Lady Gaga ainda começava a deixar Copacabana, lentamente substituídos pelos frequentadores tradicionais da praia, que chegavam para aproveitar a manhã ensolarada. Nas areias, tratores da Comlurb faziam a limpeza, funcionários da produção desmontavam a infraestrutura e “garimpeiros” vasculhavam a areia com detectores de metal em busca bens perdidos pelos fãs da diva pop. Nos quiosques, os gerentes contavam o lucro da madrugada: só em uma noite, o Areia MPB, um dos mais próximos do palco, faturou cerca de R$ 300 mil reais apenas com ingressos. O local ficou cercado durante a apresentação, e a entrada para ver o show de pertinho custava até R$ 2 mil por pessoa.
— Ao longo de abril, com os preparativos para o evento, tivemos um aumento de 80% no faturamento do quiosque. Esses shows têm uma importância muito grande. Eles geram muitos empregos e um lucro muito alto na semana prévia. E ainda dá para trabalhar e curtir o espetáculo. Esse foi um dos melhores. Melhor do que o da Madonna — contou a gerente do Areia MPB, Paula Cunha.
Ali perto, no quiosque Maré Praia, um pouco mais distante da estrutura montada para o show, a cozinheira Jéssica Gomes, responsável pelo bar após o gerente ter ido descansar, relatou que o faturamento cresceu 50% no último mês. O quiosque precisou contratar cinco funcionários extras para o mês de abril e outros cinco só para lidar com a demanda da noite da apresentação.
Já no quiosque Morena, cerca de 90 pessoas pagaram R$ 1 mil para assistir ao show no local, mesmo com o estabelecimento sendo mais distante, e o faturamento também cresceu 50% na última semana. O responsável pela cozinha Leonardo Góis contou que os funcionários ficaram muito satisfeitos com as gordas gorjetas trazidas pelos turistas internacionais.
— Nossa comissão foi um babadíssimo. Os gringos são muito generosos, exceto os americanos pão-duros — brincou, lamentando que, com o uso generalizado do Pix pelos estrangeiros, as gorjetas diminuíram em relação a eventos do passado.
Nas saídas da praia, turistas e fãs da cantora iam embora cansados, mas realizados. Alguns permaneciam na areia, ainda não preparados para deixar a Praia de Copacabana. Foi o caso da cabeleireira Isabela Fonseca. Ela veio com um grupo de dez pessoas de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, mas ficou para trás junto com uma amiga, até o sol nascer.
— Chegamos às 17h, e assistimos ao show inteiro da areia. Continuamos depois com o show do DJ e dançamos e cantamos até amanhecer! Agora estamos pensando em ir embora — contou a cabeleireira de 33 anos, às 8h do dia seguinte.
Alguns fãs não precisaram dormir na areia. Hospedados nas redondezas, voltaram à praia para dar uma última olhada no mar. Foi o caso da mineira Helena de Castro, que ficou na casa de um amigo, em Copacabana. Ela ficou impressionada com a grandiosidade do espetáculo trazido pela pop star internacional, mas reclamou da estrutura. Ela contou que demorou uma hora só para conseguir pisar na areia, enquanto o show já começava, e não conseguiu ver o começo da apresentação.
— Ela trouxe o show que fez no festival Coachella, mas mesmo assim foi novo. Foi muito mais do que eu esperava. Mas podiam ter colocado mais telões ao longo da praia, pois o acesso foi difícil — contou.
As irmãs Julie e Eduarda Oliveira vieram de São Paulo, e ficaram na areia durante a noite para ver a apresentação. Elas enumeraram os melhores momentos, com a leitura da carta sendo o auge da noite, mas reclamaram da falta de água disponível para os fãs.
— Depois das 21h já tinha acabado a água. Muita gente passou mal. Acho que da próxima vez a prefeitura poderia disponibilizar água gratuitamente para o público, sem risco de acabar tão cedo — sugeriu Julie, enquanto já se preparava para a viagem de volta.
Também paulistas, o casal Pedro Affonso e Gabriel Monteiro, que passeava pelo Calçadão, ainda estava impressionado com as memórias da noite.
— Para mim, foi muita realização! Só a Mother Monster para juntar quase 2 milhões de gays em volta de um palco. Foi sensacional! — brincou Pedro.
A segurança foi o ponto alto da organização, de acordo com o casal que veio de Porto Alegre, Marcelo do Carmo e Nilda Queiroz. Embora sejam fãs de rock, eles também ficaram impressionados com a apresentação teatral da cantora pop, além dos efeitos de luz, mas tiveram uma queixa técnica.
— Ficamos distantes do palco, então sentimos um delay muito grande. Faltava sincronia entre o que aparecia no telão e o som das caixas. Mas mesmo assim, adoramos. Não é rock, mas o show valeu a pena. Agora é esperar o U2! — brincou Marcelo.
Adriana Monjardim, que veio da Barra para ver a cantora, reclamou sobre a estrutura, que a impediu de ver a artista. Ela estava à esquerda do palco, onde havia muros de segurança.
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— Acho que deviam rever essa estrutura para a próxima vez. Impediu muita gente de aproveitar — lamentou.
Ali perto, ao lado do palco, a equipe de produção rasgava sacos de areia empilhados atrás do muro. Na noite do espetáculo, cada saco chegou a custar R$ 60, pagos por fãs que queriam ver a diva por cima do muro.
— Estamos retirando esses sacos desde as 8h. É capaz de ficarmos aqui até depois da hora do almoço. Não podemos deixar desse jeito aqui, mesmo a gente não sendo os responsáveis pela bagunça. Já rasgamos umas mil bolsas, mas foi só um quarto de tudo — contou um dos funcionários, que pediu para ser identificado como Max PQD.