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Túmulo do lendário e brigão Madame Satã passa por processo para ser tombado pelo Iphan

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outubro 5, 2025
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Madame Satã em sua casa da Ilha Grande — Foto: Jorge Peter

Pernambucano da pequena Glória do Goitá, na Zona da Mata, João Francisco dos Santos se tornou um malandro mitológico e temido da Lapa boêmia de verdade, aquela da primeira metade do século passado. Mitológico, temido e apoteótico — o terceiro adjetivo foi consagrado muito tempo depois pelo carnavalesco Milton Cunha, mas aqui cai como uma luva, de pelica ou de boxe.

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João diz que foi vendido pela mãe em troca de uma égua chamada Amorosa. O nome artístico, Madame Satã, surgiu no Rio, num carnaval dos anos 1930. Sim, ele era LGBT muito antes das primeiras letrinhas se encontrarem, e se orgulhava disso em concursos de fantasia que viriam a, numa fase futura e mais popular, fazer a glória de nomes como Clóvis Bornay. Ganhou fama se apresentando “montado” em cabarés e teatros cariocas do século passado e, ao mesmo tempo, saía na bolacha com policiais, bandidos e quem mais viesse. Foi para a sua conta a morte de Geraldo Pereira, o compositor de “Falsa baiana” e outros clássicos da MPB, nocauteado por um soco.

Com essa folha corrida, João passou quase metade da vida em Angra dos Reis, na Costa Verde: 27 anos no antigo presídio da Ilha Grande. Foi tanto tempo que, após a liberdade conquistada na Justiça, decidiu ficar por lá. Foi sepultado em 1976, aos 76 anos. Agora, a relevância daquela tal malandragem pode ser reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que está analisando o processo de tombamento do seu túmulo.

No fim de agosto, uma equipe do Iphan esteve no cemitério da Vila do Abraão, na Ilha Grande, para a primeira visita técnica do processo de tombamento, que pode levar até cinco anos. Os próximos passos incluem a elaboração de um inventário que justifique a atribuição do valor histórico, que deve ter participação da sociedade civil, assim como pareceres técnicos e jurídicos.

Madame Satã em sua casa da Ilha Grande — Foto: Jorge Peter

Madame Satã pode inspirar o primeiro tombamento com temática LGBTQIAP+ no país: “O Iphan tem buscado reconhecer e valorizar esses patrimônios como parte essencial da formação da diversidade cultural brasileira”, informa o órgão. Além do bem material (o túmulo), é possível que outros locais da ilha com os quais Satã tenha criado vínculos possam ser tombados.

O turismólogo Baltazar de Almeida, em janeiro, tomou a iniciativa após descobrir que qualquer pessoa pode solicitar o tombamento de um bem ao Iphan. O processo foi aberto em 20 de março.

— Estava buscando histórias antigas pouco valorizadas e encontrei num blog da Ilha Grande a de Madame Satã: já sabia quem era e sua importância para a militância (LGBT), mas não sobre esse episódio com a Ilha Grande e a Vila do Abraão — conta ele.

Baltazar quer criar o roteiro turístico “Madame Satã para sempre”, na Ilha Grande, até o segundo semestre do ano que vem. Além do túmulo, os pontos visitados incluiriam as ruínas do presídio, o local onde ficava a casa do malandro (o imóvel foi derrubado), e a praça onde ele pulava carnavais.

— É um roteiro inovador porque Angra dos Reis não trabalha com o segmento LGBT de forma ativa e explícita. É também um dos primeiros roteiros voltados para o afroturismo — completa.

Com o turismo voltado para os passeios por praias, Angra recebe cerca de 1,8 milhão de visitantes anualmente, dos quais 1,2 milhão (66%) têm como destino a Ilha Grande.

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Madame Satã nasceu em 1900 e chegou ao Rio sete anos depois. Matérias antigas o apresentam como a pioneira travesti dos cabarés da Lapa — como o Casanova, da Avenida Mem de Sá, também em fase de instrução em outro processo de tombamento.

A cientista social Ariela Nascimento, que visitou o túmulo de Satã no fim de agosto, explica que há uma “disputa muito grande” dentro dos movimentos trans e travesti sobre Madame Satã.

— É muito arriscado afirmar qualquer tipo de gênero sobre essa figura, que é dissidente das normas (da época). A gente vai estar fazendo quase uma análise anacrônica. O objetivo é enfatizar sempre que Madame Satã, dentro do nosso momento histórico de hoje, seja vista apenas enquanto essa figura dissidente do gênero que, naquela época, era destinado, desde o período colonial, a ser ou homem ou mulher — observa Ariela, uma das idealizadoras do futuro Centro de Memória Trans da UFF, onde se formou.

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Satã respondeu a 29 processos, entre os quais alguns homicídios. Em entrevista ao GLOBO em 1972, afirmou:

— Deus fez a bala matar. Eu só dei o tiro — disse.

Enterro de João Francisco dos Santos em Ilha Grande — Foto: Paulo Moreira
Enterro de João Francisco dos Santos em Ilha Grande — Foto: Paulo Moreira

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  • Prato com seu nome e folia
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Prato com seu nome e folia

Na Ilha Grande, sossegou o facho. Passou a exibir seus dotes culinários, especialmente no restaurante de uma família de quem era próximo, liderada por Dona Janete, onde desenvolveu o prato Madame Satã, uma receita de peixe com banana. Nos carnavais locais, produzia fantasias para os blocos e para si: gostava de curtir a folia vestido de noiva ou de Carmen Miranda. Em 2023, mesmo ano em que a escola de samba Lins Imperial reeditou um desfile sobre Madame Satã na Sapucaí, foi homenageado ainda pelo bloco Tudo Pela Dinha, na Ilha Grande.

— Satã era adorado pelos moradores e, por isso, não voltou para o Rio — conta Dinha Dias, presidente da Associação SOS Ilha Grande e uma das produtoras de um minidocumentário sobre Satã na ilha.

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Em 1976, Satã foi localizado pelo cartunista Jaguar — que, cinco anos antes, tinha feito uma histórica entrevista com ele no jornal O Pasquim — num hospital de Angra. O paciente foi transferido para o antigo hospital do INPS (atual Hospital Federal de Ipanema), onde descobriu que tinha um câncer no pulmão em estágio avançado. Morto em abril daquele ano, foi sepultado na Ilha Grande. Atendendo a seus desejos, teve velório vestido de branco com chapéu panamá, e duas rosas vermelhas sobre o caixão.

Guardiã de seu túmulo, Fátima Cury, de 72 anos, dona de uma choperia na Ilha Grande, mantém plantas como espadas-de-são-jorge e comigo-ninguém-pode sobre a sepultura, do jeito que Satã, que foi como uma “babá” para ela, gostava.

— Minha mãe trabalhava no presídio quando ele estava lá, e viraram grandes amigos. Depois que minha mãe morreu, passou a ser meu anjo. Ele me protegia, a gente brincava, eu ia para a casa dele, onde tinha aquelas imagens (de entidades) todas, e me mostrava as fantasias — diz ela, antes de lembrar que, apesar do temperamento forte, Satã era querido porque as pessoas sabiam conviver com o seu jeito: — Ele era verdadeiro. Não mandava recado, falava na cara.

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