Um repelente capaz de proteger não só as pessoas, mas o ambiente por período de quatro a seis meses. Essa é a aposta da tecnologia inédita desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) que deve chegar em breve ao mercado.
Diferentemente dos repelentes convencionais que possuem eficácia durante poucas horas (no máximo 12h) e necessita de reaplicação, o produto desenvolvido por pesquisadores da universidade mineira oferece proteção espacial prolongada por meio da impregnação em diversos tipos de tecidos. A fórmula libera o princípio ativo no ambiente por um raio de dois a seis metros com eficácia de 120 a 180 dias (quatro a seis meses).
O produto, batizado de Repeltex®, é da startup mineira InnoVec, empresa fundada em 2023 em parceria com a UFMG. A startup surgiu como spin-off de um projeto de pesquisa desenvolvido na universidade, em parceria com o Ifakara Health Institute da Tanzânia, financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) e pela Grand Challenges do Canadá. O trabalho é sequência dos estudos realizados sob a liderança do professor e pesquisador Álvaro Eiras no Laboratório de Inovação Tecnológica e Empreendedorismo em Controle de Vetores (Lintec), que fica no Instituto de Ciências Biológicas (ICB).
Os testes foram realizados, inicialmente, em revestimento de calçados porque os mosquitos vetores de arboviroses picam principalmente as pernas e pés.
— As pessoas utilizam calçados durante o dia e, à noite, geralmente os deixam ao lado da cama para dormir. Nosso objetivo é proteger não apenas a pessoa, mas também o ambiente doméstico de forma contínua e segura, evitando picadas de mosquitos e, consequentemente, reduzindo o risco de transmissão de doenças — explica o pesquisador e sócio-fundador da InnoVec, Álvaro Eiras.
O desenvolvimento do repelente foi feito entre 2016 e 2019. Primeiro foi analisado o princípio ativo como repelente e o seu efeito no comportamento dos mosquitos. Depois foi definido o tecido para o protótipo. A matéria-prima escolhida foi um tecido à base de sisal, planta de fibra rígida, de baixo custo e fácil de encontrar no mercado. O sisal absorve o produto e o libera de forma controlada.
A pesquisa de campo incluiu voluntário em Belo Horizonte (MG) e em Porto Velho (RO). Dos 100 pares fabricados para cada uma das cidades, 50 foram tratados com repelente e 50 eram não tinham o produto (placebos). Os resultados demonstraram que os calçados apresentaram repelência de 74% para o Aedes aegypti (transmissor de doenças como dengue, chikungunya e zica) e 84% para o Anopheles darlingi (malária).
O repelente é atóxico nas concentrações utilizadas e não tem cheiro. Além da durabilidade no ambiente, e promessa de baixo custo, o novo repelente pode atender também pessoas com sensibilidade ou alergia a outros repelentes.
Já existem parcerias com indústrias têxteis para a produção em escala semi-industrial. Empresas dos setores elétrico, de mineração e de saúde pública demonstraram interesse na adoção da tecnologia em equipamentos de proteção individual. A startup busca, agora, investidores para viabilizar a entrada do produto no mercado.