Numa cidade como Paris, pode ser arriscado apontar qualquer estabelecimento inaugurado em 2014 como histórico. Mas talvez seja o caso do Hotel Molitor. Ele carrega o legado de quase cem anos do prédio que ocupa, uma joia art déco onde fica a piscina mais famosa da cidade, “berço” do biquíni e que já teve até mesmo Tarzan como salva-vidas. Em tempos de onda de calor violentíssima na Europa, não deixa de ser uma oportunidade para um refrescante mergulho na História.
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Bem antes de virar um cinco estrelas da coleção MGallery, do grupo Accor, o lugar já era um patrimônio parisiense. Surgiu em 1929 com o nome Piscine Molitor, e logo se converteu num concorrido ponto de encontro, abrigando eventos como festas de gala, concursos de beleza e desfiles de moda. No inverno, o movimento passava para a piscina coberta, enquanto que a externa era transformada em rinque de patinação no gelo.
Em seu primeiro verão, atletas renomados foram convidados para servirem de professores e salva-vidas. Entre eles estava Johnny Weissmuller, o nadador dono de seis medalhas de ouro nas Olimpíadas de 1924 (Paris) e 1928 (Los Angeles), e que ficaria marcado por interpretar Tarzan no cinema anos depois.
Outro verão marcante foi o de 1946. Em 5 de julho, Louis Réard escolheu a Piscine Molitor para apresentar seu novo maiô em duas peças, batizado em homenagem ao Atol de Bikini, no Pacífico, onde, dias antes, os EUA haviam testado uma arma nuclear.
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Os dias de glória seguiram até meados dos anos 1970. Com problemas estruturais gravíssimos, o complexo foi fechado pela prefeitura em 1989. A piscina vazia e as cabines abandonadas viraram espaço para os grafiteiros e promotores de festas alternativas de Paris deixarem ali suas marcas nos anos seguintes.
Tanto o glamour das primeiras décadas quanto o grafite dos anos de ostracismo estão presentes no atual Hotel Molitor Paris, que abriu as portas em 2014, após seis anos de obras de renovação, que mantiveram o aspecto original do complexo intacto, como o jeitão de navio de cruzeiros, com algumas janelas redondas como escotilhas.
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As duas piscinas precisaram ser refeitas, mas foram mantidas as inusitadas medidas originais (46 metros de comprimento para a externa e 33 metros para a interna). As cabines usadas para troca de roupa também foram recuperadas e muitas delas ainda servem como tela para artistas gráficos — aliás, peças de arte pop e contemporânea estão espalhadas por todo o hotel.
O prédio ganhou mais dois andares, onde estão os 117 quartos e sete suítes, todos com vista para a piscina principal e com decoração minimalista e elegante. O espaço conta ainda com um spa, um restaurante (o elogiado Brasserie Molitor) e um rooftop que abre apenas nos meses mais quentes do ano, e de onde se pode apreciar a Torre Eiffel (de longe) e o imenso Bois de Boulogne, a segunda maior área verde de Paris, ali ao lado. Localizado no 16º arrondissement, o hotel é vizinho do complexo de tênis Roland Garros e do Parc des Princes, o estádio do PSG.
As diárias (a partir de € 337) dão acesso às piscinas, mas há outros caminhos para o mergulho. Um deles é o day use, que dá acesso às instalações do hotel, uma refeição e um drinque, das 11h às 18h, ou das 15h às 23h, de segunda a quinta-feira (€ 290 para duas pessoas). Outro é o passe do spa, que inclui um tratamento (a partir de € 310). E há ainda o pacote “Lunch and Swim”, que combina almoço no Brasserie e acesso às piscinas (€ 230).