O yuan offshore caiu ao nível mais baixo já registrado, depois que a China diminuiu seu rígido controle sobre a moeda em meio a uma escalada dramática da guerra comercial com os EUA.
- Em meio a tarifaço de Trump: China afrouxa controle sobre yuan para ampliar exportações
A divisa caiu até 0,5%, alcançando 7,3848 por dólar nas negociações em Nova York nesta terça-feira, estabelecendo uma nova baixa histórica para a moeda à vista. Mais cedo, o Banco Popular da China já havia fixado sua taxa de referência diária para a moeda em 7,2038 por dólar, o nível mais fraco desde setembro de 2023.
É a primeira vez, desde a eleição de Donald Trump em novembro, que a taxa de referência ultrapassa 7,20, um nível considerado pelos investidores como uma linha vermelha para as intenções oficiais em relação à moeda administrada.
“Achamos que o ritmo de desvalorização vai acelerar a partir daqui, e a China também está sugerindo maior flexibilidade” com sua chamada taxa de fixação, disse Aroop Chatterjee, diretor executivo de estratégia macroeconômica e mercados emergentes no Wells Fargo, em Nova York.
“Será uma depreciação controlada e persistente” que pode fazer o yuan offshore enfraquecer para 7,50 por dólar ou mais, acrescentou ele.
Desvalorizar sua moeda é visto como uma opção para Pequim aumentar o apelo das suas exportações, um motor chave do crescimento agora sob maior pressão devido às tensões comerciais. No entanto, a decisão de permitir que o yuan caia acentuadamente é difícil, pois pode aumentar as apostas negativas na economia, piorar a saída de capitais, antagonizar os EUA e prejudicar as perspectivas de qualquer negociação comercial.
Por outro lado, para a China, manter a taxa de câmbio artificialmente forte pode prejudicar as exportações e afetar ainda mais a economia. Além disso, uma liberação potencial das pressões acumuladas de desvalorização poderia resultar em uma maior volatilidade nos mercados financeiros.
“O lugar onde o Banco Popular da China (PBOC na sigla em inglês) traçará a próxima linha de defesa continua sendo uma questão em aberto, mas sabemos, pelo menos, que a barreira agora foi elevada”, disse Tiffany Wang, analista de câmbio no JPMorgan. Ela vê um risco de o yuan cair para 7,40 por dólar.
Na segunda-feira, o presidente Donald Trump ameaçou impor impostos adicionais de 50% sobre as importações da China caso o país não retire seus planos de responder aos impostos já anunciados, após seu anúncio na semana passada sobre as tarifas americanas mais altas em um século.
Na segunda-feira, o presidente Donald Trump ameaçou impor mais 50% de impostos de importação à China se o país não retirar seus planos de responder aos impostos já anunciados, informação confirmada nesta terça-feira pela Casa Branca.
A China “lutará até o fim” se os EUA insistirem em novas tarifas, disse o Ministério do Comércio nesta terça-feira. As esperanças de um acordo comercial também foram reduzidas após Pequim anunciar medidas de retaliação, incluindo tarifas proporcionais sobre todos os produtos americanos e controles sobre as exportações de terras raras.
Com as tensões olho por olho só aumentando com a China, faz sentido que o yuan sofra um golpe”, disse a trader de câmbio da Monex, Helen Given. “Estamos atentos a quaisquer sinais de desvalorização intencional, mas não parece que chegamos lá ainda.”
Uma provável recalibragem da estratégia cambial da China estava no radar dos traders desde o início do segundo mandato de Trump, mas os formuladores de políticas prometeram repetidamente manter o yuan estável e evitar um descontrole nas taxas de câmbio.
Agora, os investidores estão em busca de novas pistas do banco central sobre sua posição em relação ao yuan e se a China vai retomar o afrouxamento monetário, após os aumentos de tarifas causarem ondas de choque nos mercados globais.
Um grupo crescente, mas não consensual, de analistas está prevendo uma queda mais acentuada do yuan no futuro próximo.
Há 75% de chance de Pequim desvalorizar o yuan – e, caso o PBOC decida fazer isso, é provável que seja “uma grande desvalorização, como de 20% ou 30%”, disse Brad Bechtel, chefe global de câmbio no Jefferies Financial Group.
Mas a maioria espera um movimento menos drástico, já que uma desvalorização poderia piorar a saída de capitais e prejudicar a confiança dos investidores nos ativos chineses. Mesmo que o sentimento negativo comece a tomar força, o PBOC tem muitas ferramentas para suavizar a volatilidade do mercado.
No passado, o banco central utilizou ferramentas como o ajuste da liquidez cambial e a emissão de títulos offshore para conter a queda do yuan.
“Acreditamos que o PBOC permitirá mais flexibilidade no câmbio de forma gradual para ajustar o mercado volátil após o dia das tarifas, mas uma desvalorização acentuada do yuan é improvável devido aos riscos de saída de capital”, disse Ken Cheung, chefe de estratégia cambial da Ásia no Mizuho Bank. O PBOC também optará por preservar a estabilidade cambial para ganhar espaço para retomar a flexibilização monetária.
