Desde o ataque do grupo terrorista Hamas em 7 de outubro de 2023, que iniciou a guerra em Gaza, Israel tem observado um crescimento alarmante no número de suicídios entre seus soldados, especialmente entre os reservistas que serviram no conflito em andamento, segundo números analisados pelo jornal israelense Haaretz. Desde então, ao menos 47 militares tiraram a própria vida — foram 7 somente em julho —, número que supera em muito a média anual de 9 a 14 mortes registrada entre 2018 e 2022, de acordo com dados das Forças Armadas de Israel. A maioria dos casos, reporta o jornal, está diretamente ligada à exposição a situações de combate e traumas psicológicos não tratados.
- Entenda: Como a raiva global pela fome em Gaza tem deixado Israel cada vez mais isolado
- Mudança de tom: Autoridades dos EUA e de Israel propõem acordo de ‘tudo ou nada’ para Gaza
Diante do quadro, veteranos com transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) — e que não necessariamente lutaram na guerra atual — montaram recentemente um acampamento em frente ao Departamento de Reabilitação do Ministério da Defesa, na cidade de Petah Tikva. Eles protestam contra a falta de assistência adequada do governo frente ao assunto, temendo que os soldados que retornam de Gaza enfrentem o mesmo destino.
— Levo para o lado pessoal cada soldado que comete suicídio após sofrer de transtorno de estresse pós-traumático. Sinto a dor dele como se fosse a minha — disse ao Haaretz Meir Kadosh, de 34 anos, que sofre de TEPT. — Eu me castigo por isso. Sinto como se tivesse acontecido sob minha supervisão, como se eu tivesse perdido a chance de salvá-lo. Neste momento, temos apenas um objetivo: impedir o próximo suicídio. Gritar para o Estado que ele precisa ajudá-los, acolhê-los e tratá-los antes que seja tarde demais.
No caso de Kadosh, ele foi ferido nos olhos em um acidente causado pela explosão de um cano de metralhdora durante um treinamento militar há 15 anos, enquanto servia na Brigada Givati. Os estilhaços foram removidos em cirurgia, mas os danos foram mais do que físicos.
— Comecei a sentir todos os tipos de sintomas: inquietação, insônia, perda de apetite, e, acima de tudo, explosões de violência contra as pessoas mais próximas: minha mãe, meus irmãos, minha esposa e até meus filhos. Isso me destruiu. — disse ao jornal. — Agora estou aqui para exigir apoio para os caras que estão voltando do inferno de Gaza, para quem a guerra continua, só que em casa. Eles precisam receber as ferramentas que eu nunca tive.
Roy Barda, outro veterano entre os manifestantes, foi ferido em 2002 durante uma operação em Qalqilya, mas só em 2018 foi diagnosticado com TEPT. Desde então, enfrentou cinco internações psiquiátricas, divórcio e uma série de problemas pessoais não citados.
— Não quero que eles passem pelo que nós passamos e ainda passamos. Houve algumas melhorias. Mas ainda há um longo caminho a percorrer — disse.
- ‘Estou à beira da morte’: Família divulga vídeo de refém israelense em cativeiro da Jihad Islâmica; assista
Desde outubro de 2023, mais de 19 mil soldados passaram a receber atendimento de reabilitação do Ministério da Defesa — 10 mil deles com traumas psicológicos. Somando-se aos milhares de pedidos de veteranos de guerras anteriores, o número total de pessoas atendidas atualmente passa de 80 mil — sendo mais de 26 mil com problemas de saúde mental. Projeções indicam que esse número pode ultrapassar 100 mil até 2028.
O Exército israelense atribui o aumento nos suicídios à ampliação do número de militares em serviço, sobretudo reservistas convocados desde o início da guerra em andamento no enclave palestino. A maioria dos casos, cita a reportagem, envolve soldados que participaram ativamente de combates e foram expostos a eventos traumáticos, o que teria afetado gravemente a saúde mental deles.
Fontes militares disseram ao Haaretz que houve uma redução nos suicídios por motivos pessoais e um aumento proporcional nos relacionados a experiências de guerra, indicando que o impacto psicológico direto do conflito é um fator central nsa fatalidades.
- Edan Alexander: Hamas divulga vídeo de soldado israelense mantido refém em Gaza; militares ampliam ofensiva no sul do território
Segundo o jornal, ao serem questionadas, as autoridades do Exército israelense se recusaram a divulgar dados atualizados sobre suicídios no ano de 2025, prometendo fazê-lo apenas no fim do ano.
Além disso, a reportagem destaca que não há sistema oficial para rastrear suicídios entre veteranos fora do serviço ativo. Organizações civis afirmam que os números reais são ainda mais altos, mas os casos não são registrados oficialmente, ocultando a real extensão da crise.
— O cobertor está ficando cada vez mais curto e estamos enfrentando uma crise — disse um funcionário ao Haaretz, sob anonimato.
Com agências internacionais.