A história da TV brasileira ganhou um novo capítulo ontem, que poderá ver visto diariamente por visitantes e funcionários dos Estúdios Globo, em Curirica, na Zona Sudoeste do Rio. No dia em que as instalações completaram 30 anos, foi inaugurada uma Calçada da Fama para homenagear atores, atrizes, diretores e autores veteranos que ajudaram a construir a emissora carioca, que completou 60 anos neste 2025.
— Eu estava aqui na inauguração dos estúdios, ainda garoto e vendo tantos talentos e estrelas — lembrou Paulo Marinho, diretor-presidente da Globo, durante a inauguração. — Me sinto muito honrado de estar aqui. São 60 anos de histórias da Rede Globo e 30 anos hoje, aqui, com uma crença de que a Globo é feita por grandes talentos que temos a honra de homenagear hoje. Nos sentimos honrados de poder eternizar essa relação com a população.
Quinze nomes foram “estrelados” neste primeiro momento na Calçada da Fama. Numa tarde ensolarada (diferentemente do tempo nublado de 2 de outubro de 1995), estiveram no espaço montado nos arredores do Módulo de Gravação 1 (onde hoje é filmada a novela das 19h, “Dona de mim”) os atores Antônio Pitanga, de 86 anos; Ary Fontoura, de 92; Betty Faria, de 84; Laura Cardoso, de 98; Nathália Timberg, de 96; Neusa Borges, de 83; Renato Aragão, de 90; Rosamaria Murtinho, de 92; e Tony Ramos, de 77; o apresentador Serginho Groisman, de 75; e o novelista Walcyr Carrasco, de 73 anos. Não puderam comparecer o diretor Dennis Carvalho, de 78 anos, e os atores Fernanda Montenegro, de 95, Lima Duarte, também de 95, e Mauro Mendonça, de 94, que foi representado pela mulher, Rosamaria Murtinho.
— É um filme que passa na nossa cabeça — disse Antônio Pitanga. — Antes de chegar aqui, estive na Rua Von Martius (um dos endereços da Globo, no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio) e lembrei do primeiro especial que fiz lá, em 1965, com Oduvaldo Vianna Filho, Sebastião Vasconcellos… Estou no corpo de outros que vieram. De Milton Gonçalves, de Léa Garcia, de Ruth de Souza, porque eles também fizeram a Globo. Este é o grande momento do levante do conhecimento, luz da memória. E esta luz da memória faz com que o jovem não perca de onde vem.
A inauguração rendeu ainda lembranças curiosas, como a de um integrante famoso da Cipa, a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes da empresa, nos idos de 1995: Tony Ramos, que o diretor dos Estúdios Globo, Amauri Soares, elogiou como “um dos mais queridos e respeitados colegas que temos”.
— De fato, eu fui da Cipa. Não pedi para ser, me elegeram — disse Tony, provocando risadas nos presentes à cerimônia. — Estava coincidindo com a construção (dos Estúdios Globo), barro enorme, e nossa preocupação era a segurança dos operários. Hoje já passaram alguns filmes e o que mais importa para mim é trabalhar com o que aquilo de que gosto. Faço com muito respeito.
Durante a celebração, Amauri Soares lembrou que ainda usa “carinhosamente” o nome Projac para se referir aos Estúdios Globo — em referência à sigla adotada na construção do complexo, uma abreviatura de Projeto Jacarepaguá. O nome deixou de ser empregado em 2016 e renomeado como Estúdios Globo para melhor refletir seu papel na produção audiovisual.
— Celebrar os 30 anos dos Estúdios Globo é reconhecer a força da nossa vocação: contar histórias brasileiras com excelência, emoção e relevância. Somos uma fábrica de sonhos movida por milhares de profissionais apaixonados, que traduzem o país em cada cena, cada personagem, cada produção. Ao longo dessas três décadas, evoluímos com a tecnologia, abraçamos a inovação e mantivemos firme o nosso compromisso com a diversidade e a sustentabilidade — afirmou Amauri. — A gente vai expandir e acrescentar , periodicamente, mais estrelas na calçada da fama. Temos muitos motivos para celebrar e comemorar essa vitória que é coletiva.
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Inaugurado numa área de 1,3 milhões de metros quadrados, com um investimento de US$ 120 milhões na época, o então Projac teve “Explode coração”, de Gloria Perez, como a primeira novela gravada do início ao fim em suas instalações. Trinta anos depois, “Vermelho sangue”, série do Globoplay gravada nas instalações do estúdio, estreia seus episódios de fantasia e terror usufruindo das possibilidades tecnológicas do que, ressalta a empresa, há de mais moderno no audiovisual mundial.
— A tecnologia serve às histórias — disse Rosane Svartman, uma das autoras de “Vermelho sangue”, destacando as possibilidades oferecidas pelos Estúdios Globo. — Foi um desafio pensar em reescrever cenas pensando que a tecnologia estivesse ali para contar uma grande história.
Um exemplo de projeto grandioso que só pode sair do papel por causa dos novos tempos é “Antártida”, filme que acaba de ser gravado no Estúdio Virtual, o maior do gênero na América Latina, inaugurado no fim do ano passado.
— É um grande painel de LED controlado por centenas de servidores, que nos possibilitou fazer coisas que jamais tínhamos pensado com tamanho realismo — contou Lucas Zardo, produtor executivo de Dramaturgia. — No filme, reproduzimos o ambiente da Antártida sem trazer riscos e conseguindo controle de um ambiente absolutamente inóspito. Ele era considerado um projeto não possível.
Além de todas as inovações de filmagem e de efeitos especiais, visuais, de som e de arte, Amauri ressaltou o que considera a maior inovação dos Estúdios Globo: a diversidade (étnico-racial, de idade, de origem geográfica) do time criativo.
— Esses encontros nas salas de roteiro são a maior inovação. É sobre isso esse momento dos 30 anos — sintetizou.