Entre quem vive o dia a dia do carnaval do Rio de Janeiro, a máxima é a de que a festa e sua preparação duram o ano inteiro. As atividades das grandes escolas de samba da cidade, que terminaram as escolhas de seus sambas-enredo de 2026 no último fim de semana, são extensas. Mesmo aquelas que acontecem fora das quadras, mas bem próximas delas, como nos projetos voltados às comunidades. É o caso de Salgueiro e Mangueira, que têm o esporte como motor dessa integração.
Ao lado da quadra onde toca a bateria Furiosa, nove vezes campeã do carnaval, fica a Academia de Capacitação e Inclusão Social do Salgueiro, um complexo esportivo com campo sintético, pista de atletismo, quadras de vôlei e vôlei de praia, piscina e espaços dedicados à ginástica rítmica e a lutas como taekwondo e jiu-jitsu. O espaço, na Rua Silva Teles, no Andaraí, na Zona Norte, foi reaberto no ano passado, após um hiato por conta da pandemia de Covid-19. É aberto à comunidade e hoje, entre projetos esportivos, de saúde, bem-estar, capacitação e de atenção social, atende mais de 800 famílias. Parte das atividades é feita de forma voluntária, enquanto outras são frutos de uma parceria com a concessionária de energia Light, no projeto Joga Salgueiro.
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Cria do espaço e da escola, onde passou sua infância e onde trabalharam seus pais, Mara Rosa é a atual coordenadora, além de presidente da escola mirim do Salgueiro, que mantém uma proximidade forte com a comunidade jovem do projeto. Ela conta que as atividades são altamente procuradas e que há forte apoio da cúpula da escola:
— A gente tem um festival de ginástica rítmica que acontece na próxima semana. E os pais de algumas crianças não teriam dinheiro para arcar com as taxas. Aí eu “grito” lá com presidente do Salgueiro, peço um padrinho. A gente vai dando um jeitinho de acolher essas crianças. E dar oportunidade de viver essa experiência.
O Joga Salgueiro também ajuda a revelar talentos. Em agosto, a jovem dupla do vôlei de praia Clara e Kiara venceu a etapa de Maceió do Campeonato Brasileiro sub-19 da modalidade e terminou a temporada no topo do ranking.
Kiara Vitória, de 15 anos, joga vôlei desde os cinco anos. Ela e Clara seguiram seu treinador e passaram a treinar pelo projeto no ano passado.
— O vôlei é algo superimportante para mim, é uma grande parte do meu dia a dia. Ajudou a me fazer enxergar outras possibilidades para seguir na vida e me possibilitou ter várias experiências e oportunidades incríveis, como conhecer vários estados e outros países, como a França e, agora, o Catar — diz ela, que vai disputar o Mundial sub-18 pela seleção brasileira no país.
No espaço há ainda uma relíquia histórica do esporte fluminense preservada: a arquibancada de madeira que foi do Confiança, clube já extinto e que tinha sede onde hoje fica o projeto da escola. A parceria entre as entidades do futebol e do samba se firmou na década de 1970 e chegou a virar disputa duas décadas depois. A arquibancada, uma das mais antigas do país e tombada, data de 1915.
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Também na Zona Norte, a linha do trem separa a quadra da Mangueira — segunda maior campeã do carnaval carioca (20 títulos) —, no bairro e comunidade homônimos, da vila olímpica da escola, o Centro de Referências Esportiva da Mangueira, na Rua Santos Mello. O espaço funciona desde 1997. Em 2012, foi criado o Instituto Mangueira do Futuro (IMF), instituição à frente dos projetos hoje.
Lá, há estruturas como campo de grama sintética e quadras esportivas olímpicas com tamanhos oficiais para modalidades como handebol, futsal e basquete. Bem como piscinas climatizadas, salas de dança, musculação, lutas e outras atividades físicas.
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— A Mangueira não é só uma escola de samba, é uma história, uma escola de vida. O samba tem uma sazonalidade, um período, o dia de desfilar. O programa social da Mangueira é 365 dias do ano — explica o presidente do IMF, Carlos Dória.
Ele estima que hoje, só na parte esportiva, são atendidos pelo projeto cerca de 3,5 mil pessoas. Se somar as atividades e serviços sociais, chega a mais de cinco mil. O espaço é de propriedade da Mangueira, mas tem parcerias com o poder público estadual e municipal e apoio da Petrobras.
Dória lembra que nomes importantes do futebol, como o camisa 10 do Vasco, Philippe Coutinho, e o meia-atacante Kayky, ex-Fluminense e hoje no Bahia, passaram pelo projeto. Mas o foco é mais do que o resultado esportivo:
— Hoje, a Taiane Justino (atleta da Mangueira) é multimedalhista mundial de levantamento de peso. Para a gente é muito bom, mas o desafio maior é fazer com que o programa social forme cidadãos de bem.
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Professora de natação do projeto há dez anos, hoje com mais de 42 alunos em sua equipe, Danuza Siqueira ressalta o poder transformador da vila olímpica:
— A maioria dos alunos mora na favela, na Mangueira. Nesse meio, eu tenho seis atletas cursando educação física. Três deles já fazem estágio dentro da Mangueira.
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