Das lojas especializadas, passando pelas prateleiras das farmácias até as marcas e moda praia, os métodos de cuidado com a menstruação vêm passando por uma transformação. Enquanto os absorventes descartáveis ainda são os mais usados, alternativas como calcinhas e biquínis absorventes, coletores e discos menstruais e até absorventes de pano vêm conquistando cada vez mais espaço entre as brasileiras.
A ginecologista Rafaela Brito, da Rede Casa RJ, diz que essa mudança já é perceptível no consultório.
— Nos últimos anos, observo um aumento significativo da procura por alternativas ao absorvente descartável tradicional. Muitas mulheres chegam já informadas sobre essas opções e interessadas em experimentar — afirma.
A transição é visível, sobretudo entre mulheres mais jovens, que têm buscado não somente conforto e praticidade, mas também sustentabilidade.
— Segurança contra vazamentos, facilidade no uso e conforto são os pontos mais valorizados — diz a médica.
Entre os benefícios das novas alternativas estão a redução do risco de assaduras e alergias, comuns em absorventes descartáveis que possuem fragrâncias e materiais sintéticos que ficam em contato direto com a pele, e a economia a médio e longo prazo. Além disso, o impacto ambiental é bem menor, já que os produtos reutilizáveis geram menos resíduos.
— Noto que muitas pacientes hoje consideram também a sustentabilidade, o que favorece a escolha por métodos reutilizáveis — completa Rafaela.
No entanto, esses métodos também exigem cuidados específicos. No caso dos coletores menstruais, a falta de higienização adequada pode aumentar o risco de infecções. Já nas calcinhas e biquínis absorventes, a limpeza inadequada pode favorecer a proliferação de fungos e bactérias.
— É fundamental seguir as orientações de uso e limpeza de cada produto para evitar complicações — alerta a ginecologista. (veja quadro ao lado)
Para a CEO da marca de calcinhas absorventes Herself, Raíssa Assmann Kist, a menstruação não precisa ser sinônimo de incômodo. Um período que costuma ser associado ao uso daquela calcinha velha e larga esquecida no fundo da gaveta pode ser um momento de autocuidado e bem-estar.
Para estar presente de forma mais ampla na vida das mulheres, recentemente a marca lançou uma calcinha mais focada no dia a dia, de fundo claro. A ideia era permitir que as mulheres acompanhassem melhor sinais naturais do corpo, como diferentes secreções ao longo do mês — ainda que, por demanda do público, também haja uma versão com fundilho preto, por conta do incômodo de algumas consumidoras.
— Há um mito de que a calcinha não pode ser manchada. Pensamos em proteger a calcinha ao invés de pensar que a calcinha está nos protegendo. Mensalmente teremos secreções e tudo bem — explica Raíssa.
A proposta da Herself e da Panty, outra marca de calcinhas absorventes, é transformar o cuidado menstrual em algo mais integrado ao dia a dia. Há modelos para todos os tipos de corpos e fluxos — com opções específicas para prática esportiva, banho, incontinência urinária e até cuecas absorventes. Também há sutiãs pensados para o período de amamentação. A ideia é simples: que a calcinha absorvente seja encarada como qualquer outra peça no armário.
— Você abre sua gaveta e veste como uma peça normal — diz Maria Eduarda Camargo, cofundadora da Pantys.
Mesmo com o crescimento do interesse, as calcinhas e maiôs absorventes ainda enfrentam resistência, principalmente entre mulheres mais velhas: por falta de informação sobre como funcionam as tecnologias usadas nas peças e até por vergonha ou preconceito em lidar com o próprio corpo.
Em relação à marca Pantys, a maioria das clientes tem entre 25 e 35 anos, o que representa 38% do total. Já na clientela da Herself, a predominância é de mulheres de 18 a 25 anos.
— Entre as gerações mais velhas existe essa preocupação: será que vai ser anti-higiênico usar um produto em que minha pele vai estar em contato com o sangue? É uma categoria muito nova e as pessoas ainda não sabem como a tecnologia funciona — afirma Maria Eduarda.
A tecnologia usada nos produtos é composta por três camadas: a primeira, de fibra natural, absorve rapidamente o líquido; a segunda retém o fluxo menstrual; e a terceira, impermeável, evita vazamentos. Todas recebem um tratamento antimicrobiano que ajuda a prevenir odores e infecções.
O conforto, praticidade, além do potencial ambiental e econômico das calcinhas absorventes, coletores e discos menstruais (o segundo permite relações sexuais com penetração durante o uso) explicam o crescimento dessas opções no mercado nos últimos anos. A Pantys, por exemplo, cresceu 14% no primeiro trimestre do ano.
No entanto, as especialistas dizem que ainda assim os absorventes descartáveis tradicionais não devem desaparecer tão cedo. Elas entendem que pensar numa única opção seria ignorar a desigualdade no acesso ao saneamento básico e à saúde menstrual no país:
— No caso de pessoas que podem escolher, percebemos uma mudança sistemática, que vem aumentando. As próximas gerações já falam dos produtos reutilizáveis como primeira escolha na sua menstruação — reforça Raíssa.
Além disso, para quem prioriza a sustentabilidade, os produtos reutilizáveis são uma opção melhor. A Pantys estima ter evitado o descarte de 2 bilhões de absorventes desde 2017, o equivalente a 52 milhões de quilos de resíduos.
Mais do que modismos, a escolha do método de higiene menstrual ideal passa pelo estilo de vida, pela adaptação ao corpo e pelo cuidado com a saúde.
— Não existe opção certa ou errada. O importante é que a mulher se sinta confortável, segura e consciente dos cuidados necessários relacionados a cada método — conclui a ginecologista Rafaela Brito.
- Respeitar o tempo de uso do produto indicado pelo fabricante: absorventes externos devem ser trocados a cada 4 a 6 horas; internos, a cada 4 a 8 horas; e coletores, em até 12 horas.
- Higienizar bem os produtos reutilizáveis: calcinhas e biquínis absorventes devem ser enxaguados em água fria, lavados com sabão neutro e secos em local arejado; coletores precisam ser esterilizados antes de cada ciclo.
- Garantir que estejam completamente secos antes de guardar: a umidade favorece a proliferação de fungos e bactérias; por isso, é essencial secar bem calcinhas absorventes e coletores.
- Lavar bem as mãos antes do manuseio: a higiene das mãos é indispensável tanto para a inserção de coletores e absorventes internos quanto para a troca dos externos.
- Optar por produtos sem fragrância sempre que possível: perfumes e aditivos químicos podem aumentar o risco de alergias e irritações na pele.
(Colaborou Letícia Rafaela, estagiária sob supervisão de Giulia Vidale)