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Músicos de países em conflito transformam palco em território neutro contra guerra

BRCOM by BRCOM
outubro 6, 2025
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Violista israelense Simon Lemberski durante concerto em Seul, na Coreia do Sul — Foto: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação

No dia 30 de maio de 1962, em plena Guerra do Vietnã, o maestro britânico Benjamin Britten subiu ao palco da Catedral de Coventry, no Reino Unido — reconstruída após ser devastada pela Segunda Guerra Mundial — para apresentar o “Réquiem de Guerra”. A composição, escrita no auge da Guerra Fria, entrelaçava o texto latino da Missa dos Mortos com poemas do soldado Wilfred Owen, morto na Primeira Guerra Mundial, numa perturbadora reflexão sobre a violência dos conflitos. Mais de 60 anos depois, uma nova obra ecoa esse gesto de resistência pela música. A “Rapsódia das Nações” reúne Aquarela do Brasil, Arirang (música folclórica coreana), Kalinka (russa), Hava Nagila (judaica) e Melodia em Lá Menor (ucraniana). Sob regência brasileira, músicos de países marcados por conflitos — como Israel, Palestina, Irã, Rússia, Ucrânia e Coreia do Sul — transformaram o palco em território neutro. O Concerto pela Paz, liderado pelo projeto social Orquestra Criança Cidadã (OCC), do Recife, percorreu a Ásia e encerra a turnê nesta terça-feira no Vaticano, em apresentação diante do Papa Leão XIV, justamente quando se completam dois anos da guerra em Gaza.

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— A beleza da música está em sua abstração. Por transcender palavras, ela é compreendida em qualquer cultura. Quando o público vê músicos de países em conflito unidos em um mesmo propósito artístico, isso inspira esperança. Torna-se um símbolo vivo de que o diálogo e a harmonia são possíveis — afirmou o violista israelense Simon Lemberski, de 29 anos, principal viola da Ópera de Israel.

Filho de uma família judaico-russa que emigrou do Quirguistão após o colapso soviético, Lemberski cresceu com a percepção de como a história molda destinos. Questionado sobre o peso de dividir o palco com colegas de nacionalidades historicamente envolvidas em guerras, ele foi enfático ao dizer que, apesar dos pesares, todos vão enfrentar “o mesmo destino”.

Violista israelense Simon Lemberski durante concerto em Seul, na Coreia do Sul — Foto: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação

— Antes de sermos israelenses, persas, coreanos, ucranianos e russos, somos seres humanos. Os conflitos são entre governos, mas é o povo comum que paga o preço. Fazer música junto com colegas de origens tão diversas me enche de esperança. Mostra que podemos nos comunicar, respeitar uns aos outros e criar beleza juntos. E talvez, um dia, nossos países aprendam a fazer o mesmo — disse o músico em entrevista ao GLOBO.

Em meio à guerra em Gaza, que completa dois anos nesta terça, Lemberski reconhece seu impacto emocional.

— É profundamente difícil. O ódio, a perda, o desespero de ambos os lados tornam difícil acreditar em um futuro esperançoso. O que me sustenta é ver pessoas clamando pelo fim da guerra e pelo retorno seguro dos reféns. Como humanista, acredito que devemos primeiro condenar o sofrimento de civis em todos os lados de toda guerra. Como artista, acredito que é meu dever trazer essa perspectiva humana para o palco — acrescentou.

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Com jovens brasileiros de periferias dividindo o palco com colegas vindos de cenários conflituosos, o concerto se desenha como uma narrativa de contrastes. São realidades duras, trajetórias distintas e repertórios díspares, unidos sob uma mesma pauta.

Para o maestro José Renato Accioly — que conduziu a orquestra em Hiroshima, devastada pela bomba atômica 80 anos atrás, em Osaka, também no Japão, e em Seul, na Coreia do Sul, antes de chegar ao Vaticano —, o gesto vai além da execução musical.

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— Esperamos que o público fique comovido e sensibilizado por gestos pela busca da paz através da produção de sons que representam culturas distintas e tão distantes. Diminuir as distâncias culturais certamente promove o reconhecimento de que não estamos sós em nossas bolhas e de que o mundo é mais colorido se nossa percepção do outro for mais tolerante — disse.

Maestro José Renato Accioly — Foto: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação
Maestro José Renato Accioly — Foto: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação

A incursão pacifista internacional de 2025 reprisa os propósitos de uma missão humanitária vivenciada por músicos da OCC com parceiros italianos, russos e ucranianos em 2023, também no Vaticano, em apresentação para o falecido Papa Francisco. Neste ano, portanto, a missão expande o apelo pela paz e inclui participantes de países tomados por conflitos.

Além de Lemberski, a violinista sul-coreana Lee Young também fez parte do Concerto pela Paz. Para ela, a música funciona como um idioma capaz de atravessar fronteiras — mas, talvez, não a que separa as Coreias.

— O que vemos é que não somos diferentes quando se trata de fazer música juntos. Os conflitos que existem nos une ainda mais, e é importante mostrar que somos apenas pessoas compartilhando a linguagem global da música — refletiu Young.

As violinistas Lee Young Kim, da Coreia do Sul, e a brasileira Jéssica do Monte durante concerto em Seul — Foto: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação
As violinistas Lee Young Kim, da Coreia do Sul, e a brasileira Jéssica do Monte durante concerto em Seul — Foto: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação

As palavras da violinista carregam a história de seu país. A Península Coreana foi dividida após a Segunda Guerra Mundial, com a Coreia do Norte alinhada à antiga União Soviética e a Coreia do Sul aos Estados Unidos. A Guerra da Coreia (1950-1953) consolidou a separação, que perdura até hoje.

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— Conectar pessoas através dessa divisão é algo muito necessário, mas que parece quase impossível no momento, por conta de tantas proibições, principalmente do lado norte. Infelizmente, a escolha da música também é estritamente controlada e usada de forma indevida para fins de propaganda. Neste ponto, é difícil, para mim, enxergar possibilidades reais de compartilhar música através dessa fronteira — analisou a sul-coreana. — Mas não podemos ficar parados. Ter liberdade de escolha na música e nas outras artes é muito importante. Espero que as pessoas do outro lado da fronteira possam ter essa chance no futuro.

O violinista russo Nikita Shkuratov também participou do concerto. Sua voz ecoa em um momento em que a guerra na Ucrânia — iniciada com a invasão russa em fevereiro de 2022 — já ultrapassa três anos, deixou centenas de milhares de mortos e segue sem perspectiva de cessar-fogo. Shkuratov, por sua vez, destaca o caráter humano do projeto.

O ucraniano Oleksandr Puzankov e o russo Nikita Shkuratov — Foto: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação
O ucraniano Oleksandr Puzankov e o russo Nikita Shkuratov — Foto: Augusto Cataldi/Orquestra Criança Cidadã/Divulgação

— Apesar dos mal-entendidos políticos ou culturais entre nossos países, continuamos sendo, antes de tudo, seres humanos. A música tem um poder único de nos unir além das fronteiras, e por meio desta colaboração buscamos mostrar que respeito mútuo, amizade e criatividade compartilhada não apenas são possíveis, como também profundamente significativos — disse.

Para o fundador da OCC e idealizador dos concertos, José Targino, “a música tem esse poder silencioso de curar feridas que, às vezes, as palavras não são capazes de fazer”.

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— Quando subimos ao palco em outro país, levamos conosco não apenas partituras, mas sonhos, memórias, histórias de superação e, acima de tudo, uma vontade imensa de fazer o mundo acreditar. Demonstra que todos somos irmãos, sendo um símbolo vivo de que a paz não é uma utopia: ela pode ser ensaiada, tocada, sentida e vivida — afirmou Targino.

Afinal, como disse Mahatma Gandhi: “Não há um caminho para a paz, pois a paz é o próprio caminho”.

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