A um ano das eleições de 2026, a popularidade do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém tendência de recuperação observada nos últimos cinco meses e atingiu seu maior patamar desde janeiro, quando a gestão sofreu um baque com a crise do Pix, explorada pelo bolsonarismo nas redes sociais. É o que aponta uma nova pesquisa Genial/Quaest divulgada ontem.
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O resultado reflete os ganhos políticos de Lula depois da crise do tarifaço, quando o presidente reforçou o discurso de soberania nacional, e da aproximação com o presidente dos EUA, Donald Trump, além de vitórias recentes da gestão, como a aprovação da proposta que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) na Câmara.
A melhora ocorre em paralelo à queda de braço crescente que o petista trava com partidos do Centrão que formam a própria base. Em um sinal de força da imagem do presidente, os ministros Celso Sabino (Turismo) e André Fufuca (Esportes) bateram o pé ontem, contrariaram a decisão de União Brasil e PP e permaneceram em seus cargos mirando ganhos eleitorais em 2026. Em outra frente, as duas siglas, além do Republicanos, ajudaram a impor um importante revés ao governo ao ajudar a derrubar a medida provisória de alternativa ao IOF, sinalizando que Lula deve enfrentar mais dificuldades no Congresso.
As taxas de aprovação e reprovação de Lula agora estão tecnicamente empatadas — 48% apoiam o governo, enquanto 49% o rejeitam. Na comparação com setembro, o índice positivo avançou dois pontos percentuais (era de 46%), e o negativo recuou na mesma proporção (somava 51%).
Apesar da oscilação ficar dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais, soma-se ao movimento de avanço no índice de aprovação registrado desde maio. A distância entre esses grupos era de 17 pontos naquele mês e de cinco no levantamento de setembro.
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Os indicadores de avaliação da gestão também apontam para uma recuperação. A distância entre os que consideram que o desempenho do governo é negativo (37%, contra 38% em setembro e 43% em maio) e os que têm uma avaliação positiva (33%, contra 31% na pesquisa anterior e 26% em maio) também tem recuado no período recente.
A Quaest fez 2.004 entrevistas presenciais entre quinta-feira e domingo e não captou, portanto, os efeitos da conversa por telefone na segunda-feira entre Lula e Trump. Os dois, porém, têm sinalizado uma abertura ao diálogo desde a Assembleia Geral da ONU, no fim de setembro, quando Trump fez elogios públicos ao presidente brasileiro.
Ainda segundo a pesquisa, o desempenho do governo Lula foi puxado pelo eleitorado feminino e pela faixa etária entre 35 e 59 anos. Nesses dois grupos, a aprovação passou a reprovação — no primeiro caso com 52% a 45%; e no segundo com 51% a 46%. Lula também viu subir o apoio na fatia mais rica. Enquanto as taxas das faixas de renda baixa e intermediária permaneceram quase idênticas às do mês passado, aqueles que ganham acima de cinco salários mínimos por mês deram um salto de oito pontos a favor do petista, que hoje é aprovado por 45% dos mais ricos — a maioria (52%) ainda o desaprova.
Ministros do governo comemoraram os resultados, mas consideram que a classe média é uma camada importante da sociedade em disputa visando 2026 e que a gestão petista precisa intensificar o foco das suas políticas nesse grupo. Para os auxiliares de Lula, a classe média precisa estar no centro da disputa por representar um eleitor mais pendular, que ora oscila para esquerda, ora para direita, e que se move pela sensação de bem-estar econômico, em especial pela chamada “inflação do supermercado”, o preço de produtos como alimentos e outros itens de consumo.
Embora positiva para o petista, a pesquisa também mostra pontos de atenção para o Planalto. Segundo o levantamento, 56% dos entrevistados afirmam que o Brasil está indo na direção errada e 63% apontam que Lula não tem conseguido cumprir suas promessas.
Por outro lado, 43% acham que a economia vai ficar melhor, três pontos acima da pesquisa de setembro, enquanto 35% projetam uma piora, dois pontos a menos do que antes. Também houve queda na leitura de que a economia piorou nos últimos 12 meses, passando de 48% para 42%. Aqui, no entanto, o aumento se deu entre quem acha que ela ficou igual — passou de 29% para 35%. Os que identificam melhora ficaram estagnados em 21%.
Já entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, a pesquisa foi um banho de água fria, de acordo com a colunista do GLOBO Bela Megale. Parlamentares do campo apontam a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) nos EUA, em busca de sanções contra o Brasil para pressionar pela anistia do pai, e a divisão da direita, com embates públicos entre integrantes do grupo, como fatores que ajudam o governo. A avaliação é que a população vê o deputado “trabalhando contra o próprio país”, o que beneficia Lula. Eduardo tem afirmado que se lançará à Presidência em 2026.
O filho de Bolsonaro tem sofrido um revés com a aproximação entre Lula e Trump. Somam 57% os entrevistados que souberam do encontro entre os dois presidentes na ONU. Além disso, para 49%, Lula saiu politicamente mais forte do episódio, enquanto 27% dizem que o presidente brasileiro saiu mais fraco. Há vantagem para o presidente, inclusive, no segmento sem posicionamento político (44% a 25%).
Outro ponto favorável a Lula é que o projeto do governo que isenta do IR quem ganha até R$ 5 mil passou a ser mais conhecido e apoiado pelos brasileiros, depois que o texto foi aprovado por unanimidade na Câmara. A medida foi promessa de campanha do petista em 2022 e tende a ser uma de suas principais bandeiras na tentativa de reeleição em 2026.
Hoje, 67% dizem saber do projeto, 11 pontos a mais do que no levantamento de junho, quando a pergunta foi feita pela última vez. A aprovação à iniciativa é de 79%, quatro pontos a mais do que em julho.
A pesquisa mostra ainda que 41% vislumbram uma “melhora importante” nas próprias vidas a partir da isenção — eram 33% em março. Outros 49% vaticinam apenas uma “melhora pequena”. Ainda em relação à medida, 64% concordam em aumentar impostos dos ricos para compensar a isenção, contra 29% que discordam. A diferença entre uma resposta e outra foi de 26 para 35 pontos desde julho.