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O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) explicou em nota que o incêndio ocorreu à 0h32, em um circuito de linha de transmissão operada pela Eletrobras, provocando desligamento parcial da subestação. Com isso, houve a desconexão da interligação entre as regiões Sul e Sudeste/Centro-Oeste.
No total, foram cortados 9,7 gigawatts (GW) de energia em todo o país, o equivalente a cerca de 12% de tudo que era consumido naquele momento. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná foram os estados mais atingidos.
A subestação funciona numa área da Copel, mas tem mais de um pátio com proprietários diferentes. A empresa disse que o Corpo de Bombeiros do Paraná controlou o incêndio. Já a Eletrobras informou que o incidente será apurado pelo ONS e que trabalha em colaboração com a autoridade para identificar as causas.
A estrutura é um ponto estratégico na conexão do Sistema Interligado Nacional (SIN). Em razão dessa posição, o corte separou o Sul do restante do país. Naquele momento, a região exportava energia para outras partes e, com a desconexão, o restante do sistema deixou de receber a eletricidade da Região Sul e da Hidrelétrica de Itaipu, causando um desequilíbrio entre a demanda e a oferta de energia.
Diante desse quadro, foi acionado o Esquema Regional de Alívio de Carga (Erac), um sistema automático de proteção. O Erac funciona como um freio de emergência: ele corta parte da demanda de energia de forma controlada e temporária, permitindo que o equilíbrio entre geração e consumo seja restabelecido. É uma forma de evitar interrupções de maiores proporções.
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A recomposição das cargas foi conduzida de forma controlada. Segundo o MME, em menos de uma hora, o fornecimento nas regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste foi restabelecido, alcançando mais de 90% do sistema. A Região Sul, onde se originou a interrupção, teve normalização total por volta de 2h.
O ministério procurou demonstrar que não ocorreu falta de energia, mas uma “falha técnica pontual em equipamento da subestação, havendo abundância de geração energética no período”. A conclusão veio após uma reunião de emergência com os órgãos do setor elétrico. Não houve entrevista à imprensa, como é praxe nesses eventos.
Em nota, o ministro Alexandre Silveira disse que “o sistema elétrico respondeu corretamente, dentro dos protocolos previstos, e as interrupções foram rapidamente sanadas”. O ministro foi ao Palácio do Planalto se reunir com o presidente Lula para tratar do tema.
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Mais cedo, Silveira disse:
— Não foi falta de energia, é um problema na infraestrutura que transmite a energia. Não houve grandes danos ao sistema. Foi falha pontual.
Segundo o ONS, a ocorrência foi um “fato isolado, com ágil resposta do time técnico do Operador, e causada por um problema externo”.
A Aneel vai mandar técnicos ao Paraná para investigar a origem do apagão. Além disso, serão instaurados processos de fiscalização para apurar responsabilidades.
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O ONS deve concluir o relatório sobre o apagão em 30 dias. O documento fará uma análise detalhada do ocorrido. Uma questão fundamental de se entender é por que um problema considerado simples (já que o incêndio foi localizado) teve consequências generalizadas, não sendo contidas pelos equipamentos.
O especialista em energia elétrica Julio Cintra avalia que o episódio deixa a leitura de que o governo vem subestimando impactos do problema do setor elétrico, que inclui a falta de manutenção e de investimento para reforçar infraestruturas em caso de problemas:
— A resposta deveria ter sido imediata. Isso causa insegurança e mostra que a comunicação precisa ser coordenada. O apagão revelou a vulnerabilidade do sistema.
O professor de Engenharia Elétrica da Universidade de Brasília e ex-superintendente da Aneel, Ivan Camargo ressalta que ocorrências como incêndios em reatores são comuns. Segundo ele, alguma falha maior do que a que foi apontada causou o efeito dominó no sistema elétrico:
— Tivemos um incêndio em um reator, esses incêndios, ou eliminação de reatores em subestações, ocorrem com frequência, e não acontece nada. Dessa vez, aconteceu, com certeza, mais alguma coisa, que a gente ainda não sabe.
A diretora do Instituto Ilumina, Clarice Ferraz, destacou que é preciso melhorar a organização do setor elétrico, reintroduzir o planejamento e investir em instrumentos para aprimorar a fiscalização:
— Tem que haver manutenção adequada e mão de obra especializada e qualificada. Está muito claro que a frequência dos apagões é cada vez maior.
O apagão teve consequências pelo país. Ele afetou o abastecimento de água em algumas regiões de São Paulo. A falta de energia impactou a operação da estação elevatória Santa Inês, que bombeia água do sistema Cantareira para a estação de tratamento. A Enel informou que a interrupção de energia só durou 8 minutos, sendo recuperada à 0h40 para os cerca de 1 milhão de clientes afetados.
O Aeroporto Santos Dumont, no Rio, ficou completamente às escuras. Em imagens que circularam nas redes sociais, foi possível ver as luzes do terminal se apagando de forma repentina, deixando o saguão e a pista tomados pela escuridão. O apagão afetou 730 mil clientes considerando as áreas de Light e Enel.
A Enel Ceará calcula que quase 1 milhão de clientes foram afetados. Já no Distrito Federal, a falta de luz chegou a 35% dos clientes.
Colaboraram Mayra Castro, Roberto Malfacini, Filipe Vidon e Nathan Martins*
*Estagiário sob supervisão de Janaina Lage