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agricultura regenerativa atrai empreendedores pelo verde e pelo lucro

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outubro 9, 2025
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Fazenda de Vinicius Soares, em Minas: produção de queijo canastra orgânico — Foto: Divulgação

Ondas de calor, secas, queimadas e enchentes foram alguns dos reflexos da crise climática que assolaram o Brasil no ano passado, com impactos nas safras de soja, cana-de-açúcar e café, entre outras culturas. As evidências de que o agronegócio também é fortemente afetado pelo aquecimento global vêm levando produtores agrícolas a buscar alternativas para atenuar o impacto negativo da própria atividade no meio ambiente e, de alguma forma, contribuir para a redução dos efeitos de eventos climáticos extremos, inclusive sobre suas produções.

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Um dos caminhos é a agricultura regenerativa, nome dado a um conjunto de técnicas para reverter processos de degradação do solo, reduzindo danos ambientais e gerando maior produtividade no campo. Lucimar Silva é uma das produtoras que incorporaram essas práticas. Ela é diretora executiva da Auma Agronegócios e faz a gestão de 450 hectares de cafeicultura, além de plantações de soja, milho, arroz, trigo, uva, entre outras variedades agrícolas, todas permeadas pelos conceitos de agricultura regenerativa e economia circular, que busca reduzir desperdícios, reutilizar materiais e reciclar recursos.

Uma das técnicas do modelo são corredores ecológicos: árvores ou arbustos no meio das plantações que atraem predadores naturais de pragas, reduzindo o uso de defensivos químicos. Silva conta que toda a energia elétrica utilizada na cafeicultura é produzida na propriedade, a partir de resíduos da criação de suínos, e os pátios de compostagem dão origem a biofertilizantes. Além de reduzir o impacto ambiental, ela descobriu que o conjunto de ações é, antes de tudo, um bom negócio.

— Assim cada vez mais vamos diminuindo nosso custo. Se procuro mais insumos externos, gasto mais. É um sistema produtivo mais saudável e climaticamente inteligente. Nosso foco é sempre voltado para a saúde, de quem consome os alimentos que produzimos, do solo, do meio ambiente como um todo e dos nossos colaboradores, além da nossa saúde financeira — diz a fazendeira, para quem as práticas agregam valor ao produto final. — Esse diferencial traz para nós, produtores, oportunidades melhores. Diante de determinadas demandas dos consumidores, eles vão escolher o nosso produto. Um exemplo é a Illy Café, empresa italiana da qual somos fornecedores, que lançou o primeiro café industrializado regenerativo do mundo, produzido nas nossas plantações.

Cornélio Zolin, pesquisador da Embrapa, explica que produções que combinam algumas técnicas como plantio direto, cobertura vegetal espalhada, rotação de culturas, recuperação e preservação da saúde do solo, manejo integrado de pragas e uso de bioinsumos podem ser relacionadas à agricultura regenerativa em classificações.

Segundo ele, o Brasil tem a maior plataforma de agricultura regenerativa do mundo, na qual a Embrapa implementa tecnologias como a Integração Lavoura-Pecuária e Floresta (ILPF). Trata-se de colocar diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais em uma mesma área. Isso pode elevar a produtividade do solo de forma ambientalmente correta, com baixa emissão de carbono e mitigação de gases causadores do efeito estufa.

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— A ideia é ter produtividade e, ao mesmo tempo, melhorar as condições do solo no qual os alimentos são produzidos, com mais atividade microbiológica, melhorando a infiltração da água, o sequestro de carbono e a resiliência dos sistemas agroalimentares — afirma o pesquisador.

Segundo Zolin, técnicas de regeneração ajudam o solo a reter nutrientes com maior infiltração da água em períodos atípicos, como as estiagens prolongadas:

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— As práticas da agricultura regenerativa são uma das soluções para as mudanças climáticas. O carbono fica no solo em vez de ir para a atmosfera, e assim esses sistemas emitem menos gás, geram menos impacto e ajudam a reduzir a tendência de aumento da temperatura e de eventos mais extremos de chuva e seca.

Uma projeção da organização Project Drawdown estimou que, entre 2020 e 2050, a área total com práticas de agricultura regenerativa no mundo aumentará de aproximadamente 11,8 milhões de hectares para algo entre 219 e 320 milhões de hectares. Isso pode resultar num corte de 15,1 a 23,2 gigatoneladas de dióxido de carbono (CO2) equivalente, devido ao sequestro de carbono pelos vegetais e à redução de emissões da atividade.

O ILPF é uma das soluções mais usadas no país, mas faltam inventários e dados padronizados. Os mais recentes, da safra de 2015/2016, apontaram 11,5 milhões de hectares com sistemas integrados. A pesquisa foi realizada pelo Kleffmann Group, em parceria com a Rede ILPF, da qual a Embrapa participa.

Uma demanda do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) é fazer pesquisas mais apuradas sobre o assunto. A entidade trata o tema principalmente na Câmara Temática de Sistemas Agroalimentares, que reúne 53 empresas de toda a cadeia agrícola, do campo à mesa. Alessandra Fajardo, diretora executiva técnica do Cebds, diz que o país já tem uma base sólida de práticas sustentáveis no campo, como o plantio direto (sem arar), que é usado há mais de 50 anos e cobre hoje 33 milhões de hectares. Para ela, o maior desafio é criar metodologias uniformes para classificar e medir o impacto de práticas regenerativas em diferentes cultivos:

— A ausência de definições comuns limita o acesso a financiamentos e mercados que premiam esse tipo de produção. Estamos trabalhando para estabelecer critérios robustos que ajudem a dar escala a essa agenda.

O Cebds também lidera uma Coalizão de Agricultura, com mais de 40 organizações do setor em torno de uma proposta unificada para a descarbonização da agricultura brasileira, que será entregue à Presidência da COP30, e atua na iniciativa Landscape Accelerator Brazil (LAB), plataforma para acelerar a transição para paisagens regenerativas no Cerrado e na Amazônia.

No Sudeste, um exemplo acompanhado pelo Cebds é a Fazenda Estância, em Pirassununga (SP), gerida pela família Vick. Em um programa apoiado pela Bayer, desde 2009 a propriedade tem 1.100 hectares dedicados a cana-de-açúcar, soja e milho com plantio direto combinado com rotação de culturas, plantas de cobertura (como uma grama) entre canteiros e bioinsumos.

— Os resultados são expressivos. Na safra 2024/2025, a fazenda teve uma pegada de carbono da soja 60% menor que a média nacional e, no milho safrinha, redução de 46%. Mesmo num ano de secas e calor extremo, mantivemos a produtividade próxima à de anos anteriores, mostrando a resiliência climática graças ao solo mais saudável e rico em matéria orgânica — conta Fajardo.

Fazenda de Vinicius Soares, em Minas: produção de queijo canastra orgânico — Foto: Divulgação

Segundo ela, houve ainda aumento de produtividade, de 20% no milho e 25% na soja, além de redução de custos com insumos, maior estabilidade produtiva e valorização dos produtos no mercado:

— É a sustentabilidade se traduzindo em rentabilidade.

Levantamento do projeto Regenera Cerrado mostra que, em fazendas com até 300 hectares no sistema regenerativo, o custo médio de produção da soja, durante a safra 2022/23, foi R$ 6.252,96 por hectare. No sistema tradicional, foi R$ 7.273,23. E a rentabilidade por hectare foi três vezes maior na agricultura regenerativa.

Outro estudo, da consultoria SyncBio com o Grupo GoGenetic, aponta que um solo bem manejado pode resistir a queimadas e manter sua produtividade. A pesquisa analisou o solo da Fazenda Tropical, em Montividiu, Goiás, após um incêndio ocorrido em setembro de 2024.

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  • ‘Além do sustentável’
      • agricultura regenerativa atrai empreendedores pelo verde e pelo lucro

‘Além do sustentável’

A propriedade adota técnicas de agricultura regenerativa e sustentável, com plantas de cobertura, rotação de culturas e mix de espécies, o que permitiu ao solo se manter resiliente após secas e queimadas. A produtividade até subiu nas áreas afetadas, com ganhos de até 12 sacas de soja por hectare.

— O regenerativo vai além do sustentável, uma vez que não visa só não causar impactos no ambiente, mas também melhorar esse ambiente onde a produção está inserida, e mesmo assim sendo altamente produtivo — diz Vinícius Soares, que produz queijos orgânicos em Minas.

Soares explica que quase todos os insumos da produção vêm de sua própria fazenda, em Piumhi (MG), o que reduz custos. A pastagem inclui linhas de agrofloresta, onde árvores dão sombra ao gado e arbustos na laterais servem de alimento para os animais. O empreendedor é idealizador da Faz O Bem Orgânicos, que produz o primeiro queijo Canastra orgânico certificado. Soares diz que a certificação, além de troféus como o Prêmio Queijo Brasil, atrai consumidores. Só entre 2023 e 2025, suas vendas dobraram, e a produção mensal também: foi de 300 para 600 quilos.

— Está surgindo um consumidor consciente que valoriza esse trabalho, que vai muito além do alimento final. É sobre a história que a gente está contando por trás dele — ele diz. — Mesmo antes de ter o selo, eu já consegui agregar valor na diferenciação do produto por comunicar que é orgânico, vendendo o queijo num valor equivalente ao de produtores já premiados na França.

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