Apesar da queda dos preços do minério de ferro no primeiro trimestre, na comparação com o início de 2024, o que afetou negativamente os resultados financeiros da Vale, a diretoria da gigante brasileira da mineração avaliou nesta sexta-feira que os negócios da companhia estão passando incólumes, até aqui, pela guerra comercial deflagrada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, desde que assumiu seu segundo mandato, em janeiro.
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– A atual guerra comercial só reforça a importância de construir um negócio competitivo que possa ser bem-sucedido sob diferentes condições de mercado. E é exatamente isso que estamos fazendo na Vale – disse o CEO da Vale, Gustavo Pimenta, logo na abertura da teleconferência com analistas, para comentar os resultados financeiros do primeiro trimestre.
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Segundo o executivo, a empresa segue otimista:
– Apesar da volatilidade e da incerteza no curto prazo, continuamos altamente otimistas em relação ao futuro e ao nosso papel em liderar a mineração sustentável para ajudar o desenvolvimento econômico global.
A demanda da China, principal cliente do minério de ferro produzido no país, não sofreu alterações recentes, nem mesmo após o tarifaço anunciado por Trump no último dia 2, disseram Pimenta e seus diretores, também numa entrevista coletiva com jornalistas.
– Até agora, o efeito para o nosso mercado foi bastante pequeno, porque no comércio internacional de minério de ferro os EUA não são atores importantes. A China sim, claro, é o maior importador de minério de ferro, mas os EUA não é relevante. O efeito direto não existiu – afirmou, na entrevista, Marcelo Bacci, vice-presidente executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale.
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Segundo Bacci, os EUA são importantes compradores do níquel produzido pela Vale no Canadá, mas a matéria-prima acabou isenta das sobretaxas anunciadas por Trump, após as diversas idas e vindas do governo americano.
Além disso, a perspectiva de que a oferta da commodity se manterá também estável, como a demanda, sugere que as cotações do minério de ferro seguirão em torno dos atuais US$ 100 por tonelada, na avaliação do comando da Vale.
Os executivos destacaram que não se trata de ignorar a guerra comercial. O tarifaço segue como um risco no radar. Se as restrições ao comércio se agravarem, resultarem em maior inflação e derrubarem a demanda, aí sim, as vendas de minério de ferro sentiriam mais.
– A grande preocupação que todo mundo tem no mundo inteiro, em todos os mercados, e para nós não é não é diferente, é que a o agravamento dessa questão comercial possa levar a um aumento disseminado de preços, um aumento da inflação global e uma queda de consumo global – completou Bacci.
Deixando de lado os efeitos negativos dos preços do minério de ferro sobre os resultados financeiros, os executivos comemoraram o que chamaram de bons resultados operacionais. O principal indicador de custo medido pela Vale ficou em US$ 21 por tonelada no primeiro trimestre, queda de 11% em relação aos três primeiros meses de 2024.
– Todos nós estamos jogando muito na defesa. Todo mundo olhando muito mais para robustez financeira, para liquidez, tentando ficar cada vez mais competitivo nos custos, para se preparar para um cenário possível mais grave lá na frente – completou Bacci.
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Na noite de quinta-feira, a Vale informou que registrou lucro líquido de R$ 8,164 bilhões, queda de 2% em relação ao primeiro trimestre de 2024. A receita líquida de vendas ficou em R$ 47,411, 13% abaixo de um ano antes.
Em reais, os resultados foram melhores do que em dólar, por conta de alguma queda na taxa de câmbio no início deste ano. Considerando a divisa americana, o lucro líquido tombou 17% em relação ao primeiro trimestre de 2024, enquanto a receita líquida de vendas recuou 4%.
Segundo a mineradora, o preço médio realizado de “finos de minério de ferro” no primeiro trimestre foi de US$ 90,8 por tonelada, “permanecendo praticamente estável” na comparação com o terceiro trimestre, “enquanto diminuiu 10%” em relação a um ano antes, “resultado dos preços de referência mais baixos”.