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Após 15 anos de expansão, a Islândia avalia os efeitos do turismo de massa

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outubro 3, 2025
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Centro de Reykjavik visto do topo da Hallgrimskirkja, igreja mais alta da Islândia — Foto: Hilary Swift/The New York Times

Helga Gudrun, garçonete de um restaurante pequeno em Vik, vilarejo pitoresco no sul da Islândia, acabava de colocar uma tigela de sopa quente de carne de cordeiro na mesa. De férias da faculdade e de volta para trabalhar de garçonete na temporada de verão, ela comentava as mudanças que o turismo promovera na cidade natal.

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– Às vezes, a impressão que eu tenho é que a Islândia toda é uma grande atração turística. Os turistas estimularam o aumento de empregos e ajudaram a revitalizar a região, sim, mas nem todos seguem as regras. Os fazendeiros, por exemplo, reclamam dos que estacionam na propriedade e alimentam os cavalos sem permissão. Teve até um animal que morreu. E em julho, segundo um jornal local, o sistema de esgoto da cidade estava sobrecarregado por causa do “excesso de gente”.

Nem sempre foi assim; na verdade, foi um evento em particular que deu início a tudo isso.

– Ainda lembro o verão em que tudo mudou, foi de uma hora para a outra.

Durante muito tempo, a Islândia foi um lugar mais conhecido do que visitado. Seu nome evocava as sagas vikings, a aurora boreal e os tons hipnóticos da cantora Björk – até que, em março de 2010, o vulcão Eyjafjallajokull entrou em erupção, após 187 anos.

Uma nuvem gigantesca de cinzas explodiu na atmosfera. O espaço aéreo europeu ficou fechado por oito dias, naquele que foi o maior transtorno de proporções continentais desde a Segunda Guerra Mundial. Mais de cem mil voos foram cancelados, milhões de viajantes ficaram retidos e as companhias aéreas tiveram um prejuízo de cerca de US$ 1,7 bilhão.

Centro de Reykjavik visto do topo da Hallgrimskirkja, igreja mais alta da Islândia — Foto: Hilary Swift/The New York Times

Em meio ao caos, os canais de notícias transmitiram imagens das paisagens lunares, das praias de areia negra, das geleiras imponentes e das piscinas geotérmicas. De repente, a nação insular do tamanho do Kentucky (pouco mais de cem mil quilômetros quadrados), com uma população semelhante à de Pittsburgh, (404 mil habitantes) chamou a atenção do mundo.

Na esperança de capitalizar o interesse internacional, o governo e as organizações de viagem não perderam tempo e, em junho, lançaram a campanha “Inspired by Iceland”. Quando a poeira e as cinzas baixaram, o país nórdico estava pronto para seu momento de glória.

De fato, a Islândia precisava dar a volta por cima; a crise financeira de 2008 instaurou uma crise, levando o nível de desemprego a bater em nove por cento e a coroa a perder metade do valor cambial.

As companhias aéreas de baixo custo tiveram um papel importante aí: a EasyJet começou a oferecer voos para o Keflavik, principal aeroporto internacional do país, em 2012; a Wow Air, companhia aérea nacional de custo baixíssimo, começou a operar no mesmo ano e, em 2016, já oferecia escalas gratuitas em voos entre a América do Norte e a Europa. Ficou mais fácil do que nunca visitar o país.

Na internet, sua beleza selvagem se tornou cenário cobiçado em um novo aplicativo que começava a se tornar popular – o Instagram. Justin Bieber gravou um videoclipe lá, brincando ao lado de cachoeiras e andando de skate nos destroços agora icônicos de um avião da Marinha norte-americana.

Quinze anos se passaram desde o despertar do Eyjafjallajokull – e o início da invasão turística. Em 2024, a Islândia recebeu cerca de 2,3 milhões de estrangeiros; em 2010, esse número não chegava a 500 mil. O setor transformou o país, em muitos aspectos para melhor.

Os islandeses têm um ditado: “Thetta reddast”, ou “Tudo vai dar certo”. Em muitos aspectos, deu mesmo, mas à medida que a população, pensando em termos de longo prazo, começou a avaliar as mudanças aparentemente irreversíveis, muitos sentem que a lua de mel chegou ao fim.

O centro de Reykjavik, a capital costeira, estava quase vazio em uma manhã de julho. As gaivotas voavam em bandos e o vulcânico Monte Esja, destino popular de excursões de um dia, se erguia ao norte. Hallgrimskirkja, a igreja mais alta do país e marco histórico, brilhava do alto de uma colina.

Na rua principal há lojas coloridas, muitas voltadas para os turistas, vendendo pequenos bonecos de trolls, estatuetas de vikings com chapéus de chifre e pedaços de rocha vulcânica embalados. Os moradores, irônicos, chamam esses estabelecimentos aparentemente idênticos de “comércio papagaio-do-mar” por causa dos inúmeros produtos que oferecem inspirados na famosa ave com cara de palhaço da ilha.

Dentro da IcelandCover, que aluga roupas para atividades ao ar livre, David Ingimarsson, de 31 anos, estava sentado, à espera de clientes. Antes de abrir o próprio negócio, ele trabalhou em várias instituições do setor turístico, incluindo a Lagoa Azul, popular opção de banho geotérmico, e a Wow Air, que encerrou as operações em 2019. Em 2022, abriu a loja.

– É engraçado, antes o pessoal tirava a habilitação e a tradição era vir dirigindo para essa região. Acontece que de uns anos para cá a economia do centro passou a se concentrar no turismo, e boa parte das ruas virou calçadão. Muitos estabelecimentos antigos, inclusive uma loja de ferragens supertradicional, fecharam porque são o tipo de negócio que não faz mais sentido aqui – disse ele, que cresceu em Reykjavik,

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  • Mudanças em um ponto turístico pitoresco
      • Após 15 anos de expansão, a Islândia avalia os efeitos do turismo de massa

Mudanças em um ponto turístico pitoresco

A viagem de carro ao longo da costa sul da Islândia é emoldurada por vastos espaços verdes e cachoeiras que jorram das encostas das montanhas. Há muitos cavalos e cabeças de gado pastando – e quanto mais tempo você passa na estrada de duas pistas, mais aumenta a plausibilidade de que os elfos e as fadas existem mesmo, como sugere o folclore local.

Vik i Myrdal, frequentemente chamada simplesmente de Vik, é a cidade mais meridional do país e fica à beira-mar, a cerca de duas horas e meia de Reykjavik. Ganhou fama graças às praias de areia negra e à igreja pitoresca de telhado vermelho no topo de uma colina. É vizinha do Katla, um dos vulcões mais ativos e imponentes da Islândia – que mesmo sem erupções recentes, continua sendo ponto turístico.

Desde 2010, o núcleo pequenino, que antes era agrícola, vem se voltando para o setor.

– Vamos dizer assim: antes, todas as propriedades costumavam ser só laticínio; agora, todas têm uma pousada ou um bed & breakfast – explicou Einar Freyr Elinarson, de 34 anos, prefeito de Myrdalshreppur, município que abrange Vik.

Antes, a cidadezinha praticamente hibernava durante os meses de inverno; agora, os negócios funcionam o ano todo. Surgiu um minipolo econômico que engloba os operadores de tirolesa, as empresas de aluguel de veículos off-road e os pontos de embarque para passeios nas geleiras: são restaurantes novos, uma cervejaria, um “show de lava” ao vivo. Na manhã de um fim de semana recente, todos os lugares de um ônibus escolar transformado em café estavam ocupados.

De acordo com Elinarson, há estrangeiros de quase 30 nacionalidades trabalhando na cidade. Um deles é o polonês Adam Szymielewicz, que recebe o pessoal local na piscina pública. Para a maioria dos islandeses, nadar é um ritual diário, verdadeiro ponto de encontro comunitário, assim como a sauna é para os finlandeses.

Szymielewicz, de 35 anos, chegou à Islândia há sete para trabalhar como salva-vidas, e não é o único: desde 2010, a porcentagem de estrangeiros que vivem na Islândia subiu de 6% para quase 17 da população. Myrdalshreppur é o único município em que eles são maioria, chegando a cerca de 60 por cento dos mil habitantes.

Segundo Elinarson, conforme vai chegando mais gente chega para trabalhar em Vik, a cidade já vê um “baby boom”: a escola primária, onde Szymielewicz também leciona, vem crescendo rapidamente. E passou a enfrentar algumas questões, no mínimo, peculiares: na cerca do playground, por exemplo, teve de colocar placas lembrando os turistas de não fotografar os alunos.

Na zona leste da cidade, as casas originais, em estilo nórdico, estão desaparecendo, dando espaço para as estruturas de cimento semelhantes às soviéticas, muitas inclusive pré-fabricadas.

– Lembram um pouco a Polônia – admitiu Szymielewicz com uma risada.

Elinarson entende as críticas, mas continua animado com a expansão de Vik, mesmo que isso implique em mudar a estrutura.

– A cidade estava fadada a morrer. Há desafios, sim, mas a maioria é positiva. Em vez de lidar com o fato de não termos alunos novos, agora a questão é definir um método de ensino para tantas crianças recém-chegadas.

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